[*] Silvio Santos
O PT já foi um partido sectário. Nos primeiros anos de sua existência, resistia em compor alianças e até se vangloriava por ser diferentão. Naqueles tempos até se justificava. Foi o fato de ser diferente que fez o partido se tornar alternativa e uma referência para os setores organizados que surgiam no processo de redemocratização do país. Crescia assim sua presença e influência nos movimentos socias, nos setores médios da sociedade. Aumentava sua participação institucional nos parlamentos, mas avançava pouco quando a disputa se dava para cargos executivos (governos, prefeituras etc.). Faltava fazer chegar suas ideias às camadas populares.
A experiência petista nos mostrou que até é possível ocupar espaço institucional no parlamento com um discurso mais radical, mas para cargos majoritários é necessário falar e ter propostas para todos os setores da sociedade.
Nos anos 90 o PT percebeu que para se tornar alternativa real de poder tinha que sair do isolamento político e buscar as alianças programáticas que o fizessem avançar no campo institucional e consolidar seu protagonismo político. Foi assim que aqui em Sergipe, nas eleições de 1994, nós participamos de uma ampla frente progressista liderada pelo então ex-prefeito de Aracaju, Jackson Barreto e composta por outras importantes lideranças políticas sergipanas como o ex-governador Antônio Carlos Valadares e o então senador Francisco Rollemberg.
Foi ali que nós conquistamos, pela primeira vez, representação no Congresso Nacional com as eleições de Marcelo Déda a deputado federal e José Eduardo Dutra para o senado. Foi fazendo alianças que o PT elegeu uma bancada expressiva de vereadores no interior do estado quando das eleições municipais de 1996. As eleições seguintes, todas elas, reforçaram a importância das alianças programáticas para a conquista dos espaços políticos.
Observamos hoje a desenvoltura de Lula no cenário nacional. Diante de uma conjuntura de completo retrocesso político administrativo que vivemos no Brasil atual, Lula busca conversar com todas as forças e atores que se opõem ao anacronismo e ao que há de mais retrógrado na política mundial hoje, arregimentando força política para derrotar o atraso representado pelo atual governo brasileiro.
Não será diferente a missão do PT em Sergipe. Aqui são latentes o marasmo administrativo e a ausência de iniciativas para enfrentar a crise econômica que vivemos e que penaliza primeira e fortemente os trabalhadores e as pessoas mais pobres.
Segundo o IBGE, nós temos em Sergipe a terceira maior taxa de desemprego do país. São mais de 16% da população economicamente ativa que está desempregada, aproximadamente 200 mil sergipanos. Esta taxa é maior do que o índice nacional, que por sua vez, já é alarmante. Isso é fruto da ausência de planejamento e de políticas públicas de desenvolvimento por parte do governo que não prioriza o mercado de trabalho e não tem política de incentivo aos micros, pequenos e médios empresários e produtores sergipanos.
É nesse cenário que o diretório estadual do PT já decidiu como prioridade absoluta, concorrer ao governo do estado nas eleições de 2022. Definiu que o senador Rogério Carvalho será o nome a liderar o partido nessa tarefa e concedeu a ele o poder de articular com outras forças políticas objetivando uma ampla aliança que possibilite um programa progressista e a retomada de um projeto de desenvolvimento econômico e social para Sergipe.
Nesse contexto precisamos de alianças e todos aqueles que estiverem insatisfeitos e em desacordo com o atual modo de governar o estado é nosso potencial aliado. Para tanto temos que abrir espaços na chapa majoritária para os aliados. Impossível imaginar que teremos apoios sem contrapartidas, apenas e somente pelos nossos belos olhos. E cá pra nós, ao contrário de uns e outros, o PT já mostrou que sabe prestigiar seus aliados quando está no governo.
Aos petistas, um pedido de juízo e um conselho. Precisamos ter em mente que a tarefa para o PT nessa conjuntura é hercúlea e mais do que nunca precisaremos de unidade para superá-la. Não é tempo de exclusivismos ou projetos personalistas. É hora de vermos quem acumulou experiência e entendeu a importância de somarmos esforços para encontrarmos as soluções que tragam de volta políticas públicas que melhorem a qualidade de vida do nosso povo.
Chegou a hora de mostrarmos que para combater o desemprego, a fome e a miséria da camada mais pobre da população serão necessários mais que discursos enfeitados. Além de um programa social e economicamente justo, precisaremos de desprendimento, altruísmo e sabedoria das nossas lideranças. Muita sabedoria.
[*] É jornalista, especialista em Ciência Política e ex-vice-prefeito de Aracaju.