Para um bom começo de conversa, leia-se Catedral como eleição, e oração como um bom poder político. Ou de voto.
Por mérito ou demérito do senador Rogério Carvalho, o PT de 2022 não é o mesmo PT de 2006 ou de 2010. Nem que o querido beato Romulo Rodrigues queira.
Nem mesmo Rogério tem o menor almíscar de um Marcelo Déda, o majestoso populista de esquerda que reuniu bases e meios para se fazer duas vezes governador de Sergipe, e ambas num primeiro turno - depois de ter feito o mesmo com a Prefeitura de Aracaju em 2000 e 2004.
Déda tinha, sim, poder político. E Déda tinha, sim, poder de voto. Mesmo com a incógnita do que virão a ser Lula e sua eventual candidatura a presidente no processo de 2022, a Catedral não parece planger sinos bons para a missa de Rogério, o sem-bases e sem-meios políticos e eleitorais.
É fato que, politicamente, o senador petista não amalgama. Não tem selante. Não oferece liga. Não é confiável - e nem faz por onde. Com o devido perdão às pessoas com essa síndrome, ele é politicamente meio dislexo. Ou está tomado por uma circunstancial dislexia política.
Não há gente política na cepa dele. Ao redor dele. Pelo menos gente política com estatura. Na Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, posta em ação pelo Senado, Rogério é um fiasco.
Zeca Silva: primeiro nome para desmonte do PT do Governo
Ali ele se porta mal e se comunica muito mal diante desse portar-se troncho. O senador Alessandro Vieira o embota de dar ginge. Rogério faz um mandato que literalmente não rima com as pretensões de um pré-candidato a governador que possa ser levado a sério. Ele mesmo não parece se levar a sério.
E desde quando um Lula, mesmo que bem eleitoralmente em Sergipe, poderá dobrar a espinha dorsal dos governistas sergipanos para que façam um andor para carregar o petista senador na disputa pelo Governo em 2022?
Há sinais claros se operando na política sergipana de que o poder de oração de Rogério poderá se dissolver mais e mais ainda, e antes da primeira frase que ele emita sobre a sucessão de 2022.
Um desses sinais vem do modo como o ex-deputado federal André Moura tem transitado alegremente nos bastidores dos governistas, apadrinhado pelo deputado federal Fábio Mitidieri, e deixando antever que possa até vir a ser o candidato a senador do bloco.
Nesse transitar de André há algo apontando para uma certa engenharia de Belivaldo Chagas, exclusivamente com a intenção de desidratar o Rogerão de uma perspectiva de parceria.
Belivaldo estaria, então, fazendo manobras para deixar pro senador petista apenas Valadares Filho, PSB, e somente porque esse ele não quer em sua nau política de 2022 nem mesmo besuntado a ouro.
Belivaldo Chagas: seguramente não fará orações eleitorais por Rogério Carvalho
No convite recente ao ex-deputado estadual Zeca Silva, do Iplese, para a Superintendência Executiva da Secretaria de Governo - ele não assumiu ainda -, no lugar de Ademário Alves, há uma outra pedra rolando contra o cocuruto do PT, de Rogério e de aliados: a partir de agosto, Zeca vai assumir mesmo é a Secretaria de Estado da Agricultura, em substituição a André Bomfim, e na qual o PT mandou desde sempre.
Há quem diga a Secretaria de Estado da Agricultura será a porta de entrada da expulsão lenta, gradual e fatal do PT do Governo do Estado. Há nessa estratégia uma expulsão de permanência.
Traduz-se: no juramento do eu fico feito por Belivaldo Chagas, ele promove duas expulsões. Uma: ele expulsa a chance de deixar o Governo. Na segunda, como consequência, ele expulsa quaisquer possibilidades de um Governo a ser feito por Eliane Aquino. Belivaldo já havia dando sinais de que não sairia do Governo para disputar algum mandato em 2022.
Mas na semana passada, Belivaldo apertou o dedo nisso: “Não quero saber mais de eleição na vida. Não sou nem serei candidato a nada mais. Se hoje fosse 31 de dezembro de 2022, eu estaria satisfeito. Eu disse que chegaria pra resolver e resolvi. Tudo o que fizemos foi para colocar o Estado nos trilhos, tendo capacidade de buscar investimentos”, disse num evento público e foi captado em primeira mão por esta Coluna Aparte.
Pois bem: nessa decisão peremptória, está o veto clássico à chance, ou à hipótese, de a vice-governadora Eliane Aquino, PT, assumir o Governo e favorecer uma eventual eleição de Rogério Carvalho. Mesmo que se diga nos bastidores do Governo e do PT que Eliane e Rogério não rezariam jamais numa mesma Catedral política em que o santo eleitoral fosse ele.
Os dois não se bicam. E isso tem a ver com profundas e cruéis deselegâncias que Rogério Carvalho teria cometido contra Marcelo Déda, inclusive enquanto ele agonizava no leito hospitalar em São Paulo, onde faleceu em 2 de dezembro de 2013.
E, uma vez ficando no comando do Governo, Belivaldo Chagas certamente vai querer eleger seu sucessor. Um alguém da sua confiança. E, seguramente, não será Rogério Carvalho aquele por quem ele fará orações eleitorais.