Diante da indagação se uma candidatura do PT ao Governo do Estado, em 2022, é irreversível, e se pode acontecer fora do bloco, como em 2020, o senador petista Rogério Carvalho, cujo nome é ventilado para a disputa, afirmou ser sempre a favor do diálogo. "Acredito que devemos buscar o maior número de alianças possíveis e temos que considerar o projeto nacional para definir as candidaturas majoritárias, Governo do Estado e senadores. Lula reorganizou o tabuleiro político, por isso, temos que ter a maturidade partidária necessária para construir candidaturas majoritárias sólidas e eleger o maior número deputados. É possível conciliar a questão nacional, com a realidade estadual, atendendo à expectativa da militância", explica o senador, neste domingo, dia 11. Rogério Carvalho também faz duras críticas ao Governo Federal, avalia a referência das redes sociais ao presidente como "genocida" e argumenta que não há espaço para os mais pobres no governo Bolsonaro.
Quais têm sido os principais eixos do seu mandato, nestes dois anos e três meses, como senador da República? O que o senhor destacaria como mais relevante?
A grande vitória que tivemos no Congresso Nacional foi o auxílio emergencial de R$ 600 para que as pessoas pudessem ficar em casa, sem ter que escolher entre a fome e a pandemia. Diferente do que Bolsonaro vende por aí, essa proposta nasceu de uma iniciativa dos partidos de oposição. A proposta inicial que Bolsonaro apresentou para o povo brasileiro foi a de que os trabalhadores iriam voltar para casa por até três meses sem ter seus contratos de trabalho suspensos, mas também sem qualquer tipo de remuneração. Nós apresentamos a proposta de um auxílio no valor de um salário mínimo e Bolsonaro propôs um valor de R$ 200, só para autônomos e trabalhadores informais. Durante a negociação, fechamos nos R$ 600, que chegou até a R$ 1,2 mil em alguns casos específicos, como para mães líderes de famílias. Tenho certeza de que esse auxílio foi uma importante ferramenta para milhões de brasileiros conseguirem colocar o pão dentro de casa no ano passado. Além disso, como sou médico de formação, tenho dado uma atenção especial para as pautas de combate e enfrentamento da pandemia. É nosso o projeto que quer assegurar pensão por morte no valor de R$ 1,1 mil para menores de idade cujos pais tenham falecido em decorrência da Covid. Também foi uma iniciativa nossa a articulação de um pedido de ajuda internacional por parte do Senado Federal para assegurar mais vacinas para o Brasil. Para Sergipe, fui o único parlamentar, naquele primeiro momento de crise em relação aos leitos de UTI’s, a pedir ao Ministério da Saúde os respiradores para o nosso estado. Faltavam respiradores no país e mesmo assim, chegamos a conseguir mais de 100 equipamentos. Além disso, destinamos especificamente para a Covid, R$ 25 milhões, mais R$ 13 milhões para a saúde do nosso estado, sem falar nos projetos de benefício de renda para as famílias e os profissionais de saúde, numa forma de recompensa à incansável dedicação que exercem. Outra frente de trabalho do nosso mandato é tentar impedir o avanço, no Congresso Nacional, da agenda de arrocho fiscal e de desmonte do estado brasileiro, promovida pelo governo Bolsonaro. Apesar de minoria, somos seis senadores do PT, uma bancada que já tive o prazer de liderar, temos um grupo muito qualificado, coeso, combativo e com compromisso com bandeiras históricas do Estado de bem-estar social, como o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), a educação pública de qualidade, as políticas de distribuição de renda, entre outras. Por isso, derrotamos pautas fundamentais, como aquela que acabava com os recursos obrigatórios para educação e saúde, por exemplo. Também é prioridade do nosso mandato a defesa da preservação dos direitos dos brasileiros, assim como salvaguardar a democracia. Conseguimos impedir três tentativas do governo Bolsonaro de reformas trabalhistas, garantimos igualdade salarial entre homens e mulheres, aprovamos uma lei que considera crime o racismo, bem como ações autoritárias que ameassem à democracia. Não poderia deixar de mencionar ainda nossa atuação para assegurar recursos para o nosso estado. Esses recursos têm sido empregados principalmente para obras de infraestrutura aqui em Sergipe com os R$200 milhões para a recuperação de mais de 300 km de rodovias. Além de melhorar a qualidade de vida dos sergipanos e sergipanas, essas obras têm impacto econômico, gerando mais empregos para o povo no nosso estado.
Esta semana, o Governo Federal volta a pagar o auxílio emergencial. Suspender, no final do ano passado, e reduzir o valor não foi contribuir para o aprofundamento da crise social, sanitária e econômica que o Brasil enfrenta?
Esse auxílio emergencial entre R$ 150 e R$ 275 não chega nem perto daquilo que o povo brasileiro precisa. Este valor não cobre nem metade do valor da cesta básica, segundo o Dieese. Nós defendemos e propusemos isso durante a tramitação da PEC Emergencial o auxílio de R$ 600 até o final da pandemia. E não adianta o governo Bolsonaro dizer que não tem recurso, porque tem. Nossos governos deixaram US$ 370 bilhões em reservas, algo em torno de 1/3 do PIB brasileiro. E, para se ter uma ideia, no ano passado, foram reservados R$ 320 bilhões para o auxílio emergencial e esta nova proposta do governo reserva apenas R$ 44 bilhões. É grave que, durante a pandemia, Bolsonaro esteja contramão do mundo, apresentando propostas econômicas ultrapassadas de engessamento do orçamento público e gatilhos fiscais cada vez mais rigorosos. Até países tradicionalmente liberais, como o próprio Estados Unidos, estão reforçando e fortalecendo o papel do estado como agente indutor da recuperação econômica da crise. Para se ter uma ideia, depois de investir massivamente na vacinação, o governo Biden apresentou um pacote de US$ 1,9 trilhão em infraestrutura e está fazendo o maior programa de repasse de recursos para a população pobre da história americana. Por aqui, Bolsonaro segue tirando dos mais pobres e aprofundando a desigualdade. De acordo com uma pesquisa nacional, 19 milhões de brasileiros passaram fome no final de 2020. Já são mais de 14 milhões de desempregados, 5,7 milhões de desalentados e mais 800 mil micros e pequenas empresas fecharam as portas no ano passado. O atual presidente quer convencer o povo de que as medidas restritivas por causa da pandemia provocam tal situação de crise, quando na verdade, a ausência de políticas de geração de emprego e renda para os brasileiros é que agrava a realidade da pobreza e miséria no Brasil. Falta comando em nosso país.
Podemos entender isso como um 3 x 4 do olhar deste governo para os mais pobres?
Não há espaço para os mais pobres no governo Bolsonaro. Em pouco mais de dois anos de governo, não há qualquer iniciativa ou política do governo Bolsonaro no que diz respeito ao enfrentamento da miséria, ao combate à fome e ao avanço na justiça social. Já falei dos dados de desemprego e do fechamento de micro e pequenas empresas, mas não é só isso. A pobreza triplicou nos últimos seis meses e são mais de 27 milhões de brasileiros nessa triste condição. Além disso, o fantasma da inflação está de volta. O IPCA fechou 2020 em 4,52%, puxado especialmente pelo aumento do preço dos alimentos, 14%. O que quero dizer com tudo isso é que, enquanto Bolsonaro gasta R$ 2,4 milhões em férias, a fome, a miséria e a pobreza estão voltando a assolar a vida dos brasileiros, especialmente das periferias. Por isso, precisamos retomar um projeto de desenvolvimento que tenha a distribuição de renda, o enfrentamento da pobreza e a justiça social como eixos estruturantes do processo de desenvolvimento. Como sempre diz o presidente Lula, é colocar os pobres no orçamento de novo.
Não há dúvidas que o Brasil errou e erra muito na forma como lida com a pandemia. Mas isso justifica as pessoas usarem as redes sociais para chamar o presidente Bolsonaro de "genocida"? Faz sentido?
Primeiro, antes de entrar neste tema, gostaria novamente de manifestar minha solidariedade com os familiares e amigos de todos aqueles que foram vitimados pela Covid-19. Mas, de maneira geral, o que eu tenho dito é que o Bolsonaro tem transformado o Brasil em uma câmara de gás do vírus. Deliberadamente, ele optou por não enfrentar a pandemia. Ele optou por não comprar as vacinas no momento certo. Ele optou por rechaçar as medidas de distanciamento social e o uso das máscaras. Ele optou por apostar e promover remédios sem comprovação científica, como a cloroquina e a ivermectina. Ele optou por criar uma falsa oposição entre o vírus e a economia. Ele optou pelo negacionismo e pelo obscurantismo. E qual o resultado de todas essas opções erradas de Bolsonaro? O resultado é que temos apenas 3% da população mundial vacinados e 30% dos casos de Covid do mundo. Somos um dos países que menos vacina no mundo, se considerado o percentual da população vacinada. Nos tornamos uma ameaça global e o epicentro planetário da doença. Somos o país que ostenta a triste marca de mais de 330 mil mortos pela Covid-19 e, segundo algumas previsões, caminhamos para um abril igualmente sangrento com 100 mil mortos. Se isso não é um genocídio, o que seria? O termo genocida se refere à pessoa que ordena ou é responsável pelo extermínio de muitas pessoas em pouco tempo. Quando vimos as ações do atual presidente da República, não há outra denominação. Acontece é que Bolsonaro tem usado essa discussão para esconder os próprios erros na condução da pandemia. Pior, tem utilizado essa discussão para aplicar de forma inacreditável a Lei de Segurança Nacional para perseguir, oprimir e atacar adversários políticos.
Depois de Lula ficar preso por 580 dias, voltar a ter direito à presunção da inocência e assistir ao STF decidir pela suspeição do então juiz Sérgio Moro, o que significa uma possível candidatura dele a presidente da República, sobretudo o Brasil vivendo, talvez, o maior pesadelo da sua história?
Lula, se assim desejar, tem todo o direito e terá todo meu apoio para ser o candidato do povo. Lula é o maior líder popular que o Brasil já produziu. Lula está no coração e na mente do povo brasileiro. Ele possui uma profunda relação com a nossa nação. Por isso, já lidera as pesquisas de intenção de votos e se coloca como grande candidato capaz de derrotar Bolsonaro. Acredito que volta de Lula é uma vitória de grandes proporções da própria democracia brasileira. E ele está pronto para reconstruir um Brasil que volte a combinar crescimento econômica com distribuição de renda, justiça social e democracia. Só a presença de Lula nas eleições de 2022, como seus plenos direitos políticos restabelecidos, como candidato ou não, é capaz de reconciliar e pacificar uma nação ferida por um golpe sem crime de responsabilidade e por um governo que defende a morte, a tortura, o autoritarismo e a destruição de direitos sociais duramente conquistado ao longo e nossa história.
Quais as condições ideais para uma pré-candidatura de Lula a presidente? Isso já vem sendo trabalhado?
Como o próprio presidente Lula tem declarado, a grande prioridade dele, no momento, é avançarmos no combate à pandemia e na vacinação em massa da população. Outra grande prioridade é implementarmos políticas públicas capazes de assegurar emprego e renda para os brasileiros, como o auxílio de R$600, que Bolsonaro segue boicotando. Também é prioridade impedirmos os avanços das propostas de Bolsonaro para desmontar o estado brasileiro, ou seja, impedirmos a terra arrasada que Bolsonaro está deixando o país. Mas, é evidente que, por toda grandeza de Lula e por tudo que ele representa, é natural que o nome dele se apresente e seja colocado para 2022. Cada aparição do presidente Lula em entrevistas, ele movimenta o cenário político. Desta última vez, com o jornalista Reinaldo Azevedo, ele revela que vê o Estado como um indutor para o desenvolvimento do Brasil, e atraiu as atenções dos partidos de centro. Uma declaração que o fez assumir a liderança nas pesquisas de intenção de voto para 2022. Eu acredito que essa questão terá que ser decida no momento oportuno, no ano que vem. Afinal, a ameaça do arbítrio de um estado autoritário e o lawfare ainda ameaçam a democracia brasileira. De qualquer forma, seja qual for a decisão de Lula, seguramente ele terá e tem o meu apoio.
E o Governo de Sergipe? O senhor é sempre citado como pré-candidato. O senhor se sente pronto para o desafio de dar sequência a este projeto vitorioso, que começou com o saudoso petista Marcelo Déda, em 2006? O senhor é mesmo pré-candidato?
Acredito que uma candidatura é um processo coletivo. Como se costuma dizer, uma pessoa não escolhe ser candidato, ele é escolhido para essa missão. Por isso, a história é repleta de exemplos de candidaturas artificiais que não decolam. Tenho uma histórico de militância, de luta e de serviços prestados ao estado de Sergipe, inclusive no governo do saudoso Déda, com quem tinha uma relação de amizade e respeito, que pode fazer com que meu nome seja lembrado. De toda forma, assim como Lula em âmbito nacional, prefiro esperar as instâncias democráticas do partido se posicionarem e decidirem qual será nossa proposta para Sergipe. Cuidar para evitar o aumento da mortalidade por Covid, garantir as condições para Sergipe para o enfrentamento da pandemia, assim como a renda dos brasileiros e das empresas para superarmos este momento de crise. A única certeza que tenho é que estarei na luta ao lado da democracia e do povo sergipano.
O PT deixou o bloco, nas eleições de 2020, em Aracaju, e apresentou candidato próprio. Caso não haja acordo, o partido precisa fazer o mesmo, em 2022, na sua opinião? Uma pré-candidatura do PT é irreversível? É isso que cobra a militância?
Eu sou sempre a favor do diálogo. Acredito que devemos buscar o maior número de alianças possíveis e temos que considerar o projeto nacional para definir as candidaturas majoritárias, Governo do Estado e senadores. Lula reorganizou o tabuleiro político, por isso, temos que ter a maturidade partidária necessária para construir candidaturas majoritárias sólidas e eleger o maior número deputados. É possível conciliar a questão nacional, com a realidade estadual, atendendo à expectativa da militância.
O ex-deputado federal José Carlos Machado afirmou, em entrevista ao Universo, que Lula fortaleceria uma pré-candidatura sua ao governo. Isso já foi tratado com o ex-presidente? Ele teria esta disposição?
Tenho uma relação muito produtiva e especial com o presidente Lula. É evidente que a presença dele nas eleições de 2022 reorganiza a correlação de forças em todo o país. Temos nos falado constantemente, mas, como já dito anteriormente, nossas conversas têm sido centradas na construção de alternativas ao desgoverno Bolsonaro. Neste momento, a preocupação de Lula é realmente com o povo brasileiro, com os mais pobres e milhões de brasileiros e brasileiras deixados à própria sorte por Bolsonaro. Falaremos de eleições no momento oportuno, sempre buscando convergência e agregar o maior número possível de força política. Tenho certeza que estaremos juntos e que Lula estará presente também na construção de um projeto democrático e progressista aqui em Sergipe.
Qual o diferencial de uma candidatura petista, seja ao Governo de Sergipe ou à Presidência da República?
O PT é um partido que tem um compromisso histórico com o povo brasileiro. Somos um partido com vida militante ativa e que não aposta na política do quanto pior melhor. Somos um partido que tem um legado a defender e um projeto consistente para apresentar ao país, como expresso no Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil. Somos um partido com profundo compromisso com o estado democrático de direito. Somos também o partido com a maior liderança popular da história deste país, o presidente Lula. Por isso tudo, somos um partido com um olhar voltado primordialmente para os mais pobres, para o enfrentamento das desigualdades e para o combate à privilégios. Um partido que defende a riqueza e a soberania nacional. Somos um partido que representa um Brasil que deu certo, que ofereceu oportunidades para todos e que compartilhou os frutos de sua riqueza com o conjunto da sociedade, não apenas com uma pequena elite. Por isso tudo, estou convencido de que, em breve, voltaremos governar este país, e o nosso estado.