Quem é que pode impor limites de idade para as ações de um homem, senão ele próprio? Quem é que pode dizer a uma pessoa quando é que ela deve parar uma tal atividade, senão ela mesma?
Antônio Carlos Matos Valadares, PSB, que preenche a máxima de que já foi de quase um tudo na política brasileira a partir de Sergipe - restam-lhe vereador, presidente e vice da República -, quer se eleger deputado estadual no dia 2 de outubro do ano que vem, quando estarão lhe faltando apenas quatro dias para completar 78 anos e seis meses.
É isso mesmo: o ex-prefeito de Simão Dias, ex-deputado estadual de dois mandatos, ex-deputado federal, ex-vice-governador de Sergipe, ex-governador de Sergipe e ex-senador por Sergipe durante três mandatos - 24 anos -, Antônio Carlos Valadares, quer ser um dos 24 deputados estaduais de Sergipe.
Se Valadares tivesse dependurado a chuteira em 2018, quando tropeçou danosamente no projeto de obter o quarto mandato de senador, teria encerrado ali a carreia como um dos mais longevos seres da política de Sergipe, com 52 anos de atividades e os nove mandatos.
Sim, volte-se ao começo: mas quem é que pode dizer a uma pessoa quando é que ela deve parar uma atividade, senão ela mesma? Vavá de Caçula está pondo em prática, bem ao modo dele, a resposta desta questão. E esse é um direito sagrado dele.
Mas é um direito - como tudo na esfera política - que certamente deve agradar a muita gente e desagradar a tantas outras mais. Aliás, apesar daquele estranho jeito dele - de ninguém nunca saber o que peste está pensando -, Vavazão não é nenhum neófito na arte de cativar multidões.
Ou você acha, leitor, que o sujeito se faz nove vezes vitorioso - incluindo aí uma vez de governador e três de senador - apenas por que tem os olhos, dizem lá, verdosos? Certamente, não.
Contando com a votação de 2018, que o mandou para casa, mas - como se vê agora com esta nova intenção - não para o pijama, Valadares foi já alvo de 1.247.545 votos dos sergipanos só nas disputas pro Senado.
Veja que não estão em conta aqui as demais votações que o fizeram vitorioso nas seis eleições pelas quais obteve mandatos e nem as duas em que fora derrotado - em 1998 para governador do Estado e em 2000 para prefeito de Aracaju.
Em tradução direta: foram um milhão, duzentos e quarenta e sete mil e quinhentos e quarenta e cinco votos pro sujeito. É voto pupeste. Para 2022, há uma certeza de que ele se elege e tão bem que gera uma expectativa de que ajude a levar mais alguém para a Alese.
Vavazão, que se viu varrido literalmente da política em 2018, sendo mandado à planície e ao desterro juntamente com seu Valadares Filho - esse se viu desmontado do terceiro mandato consecutivo de deputado federal -, já comunicou seu futuro projetos aos poucos aliados que lhe restaram Sergipe adentro.
Uma análise política que se queira honesta tem de reconhecer que Valadares, pelo seu histórico de mais de meio século na política, deve ter muito voto pessoal, avulso, à margem do poder das chamadas lideranças.
Mas certamente haverá quem abomine o projeto dele - alguns até alegando que é um homem estribado numa aposentadoria de ex-governador (cujos vencimentos estariam sub judice), numa outra de ex-deputado estadual que lhe rende uns R$ 26 mil mensais e ainda numa terceira, de ex-senador.
Óbvio que para um animal político do porte de Antônio Carlos Valadares não deve ser salário o que o move a estar disputando uma eleição e um mandato a esta altura da vida. Isso não implica afiançar que ele não goste de dinheiro - dizem que gosta, e até demais.
Outros observadores mais céticos veem na futura atitude eleitoral - ou seria eleitoreira? - de Antônio Carlos Valadares mais um obstáculo dele para o processo da retomada da vida pública de Valadares Filho.
Mais um, porque estas pessoas atribuem a ele, o pai, a inteira culpa pela derrota de Valadares Filho em 2018 ao Governo do Sergipe. Para esses observadores, naquela eleição Valadares pai, ao fragmentar as oposições sergipanas, queria mais salvar o seu mandato de senador que o de governador do filho. Muito menos o de deputado federal.
Mas isso são conjecturas. O que está em prática é que somente Vavazão pode impor limites de idade ou de interesse para as ações dele mesmo e, nessa lógica, quer disputar um mandato de deputado estadual.
Embora essa lógica pareça impor uma outra: a de que, com isso, as oposições clássicas no campo da disputa do Governo do Estado em 2022 jogam a toalha.
Numa situação assim, projetos como os de Rogério Carvalho e de Alessandro Viera, de suceder Belivaldo Chagas, podem soar meio café com leite. Não expressamente por flacidez dos dois senadores. Mas por falta de grupo.