Saído das eleições municipais de 2020 com 21 prefeitos eleitos ligados a ele - oito do PSC e 21 de outras siglas -, o ex-todo-poderoso deputado federal André Moura, PSC e com uma mão do PSL, vê seus horizontes para 2022 com mais capacidade de ação política individual do que em 2018.
E André Moura garante que vai usar isso com autonomia. Mas com parcimônia. Cuidado. Zelo. Nada de arrogância. “Eu não vou para a eleição de 2022 sozinho, parecendo um pato tonto. Veja: não é que eu não tivesse liberdade no passado, porque eu a tinha. Mas no passado eu tinha um compromisso com um agrupamento político juntamente com o então senador Eduardo Amorim”, observa ele.
“Em 2014, quando me reelegi deputado federal, se você me perguntasse: “para 2018, com quem é que você tem compromisso político-eleitoral?”. Eu responderia automaticamente: “É com o senador Eduardo Amorim”. Ponto. Hoje tenho um agrupamento que me escuta e que me segue e responderia que meu compromisso político-eleitoral é com esse meu agrupamento e com aquilo que eu entender que seja o melhor para Sergipe”, diz.
Não é por ter grupo próprio, no entanto, que André vai praticar o isolacionismo. “Porque sei que é um agrupamento que precisa, logicamente, se somar e se agrupar a outros blocos políticos. Não é um agrupamento que tenha condições de ir sozinho para uma candidatura”, avisa.
André Moura, inclusive, separa a aliança que manteve com Edvaldo Nogueira, PDT, em 2020 pela reeleição de Aracaju, do projeto de 2022. E não só com ele. Com Belivado Chagas, PSD, e com o Governo do Estado, também.
“Eu firmei um compromisso com Edvaldo Nogueira quando o PSC decidiu apoiar a reeleição dele. Isso ficou bem claro, e cumprimos. Os nossos vereadores de Aracaju têm compromisso de estar na base dele e de ajudar o Governo da capital. Mas não implica compromisso de 2022 com ele, com Belivaldo Chagas e nem com o Governo do Estado”, diz.
E justifica: “Não é porque eu tenha uma relação ruim com Belivaldo. Nada disso. Tenho, aliás, uma relação muito respeitosa com ele - todas as vezes que necessitei falar com Belivaldo para Japaratuba ou qualquer outra cidade ele sempre foi cordial comigo. Diferentemente da minha relação com Jackson Barreto enquanto governador, que éramos adversários mesmo. Com Belivaldo a minha relação é boa e começa a partir do relacionamento amistoso entre ele e meu pai, Reinaldo Moura. Não tenho problema algum em dialogar com Belivaldo. Agora, o meu grupo tem compromisso politicamente com um projeto de 2022 do Governo atual de Sergipe? Não. Não tem. Nosso compromisso foi com Edvaldo Nogueira em 2020 em Aracaju. Em 2022 nós temos compromisso em dialogar”, diz.
Esse “compromisso em dialogar” André Moura coloca como algo muitíssimo aberto - ao ponto de não fechar questão nem mesmo com o espaço-mandato que ele próprio deva disputar em 2022. “Precioso deixar claro que na política nem sempre a nossa vontade pessoal é a que prevalece. Em 2022, eu posso até vir a ser candidato a senador de novo. Mas hoje não tem nenhuma definição nesse sentido. Não há nenhuma obrigação nessa direção”, pondera.
“Deste 4 de janeiro de 2021 para agosto de 2022, quando se darão as convenções, serão um ano e oito meses e todos sabem que na política um ano e oito meses são uma eternidade. O que eu posso assegurar hoje, 4 de janeiro de 2021, é que serei um candidato em 2022. O que asseguro é que vou trabalhar - aliás, já estou trabalhando - para não ficar sem um mandato. Mas claro que não vou usar esse prazo dilatado de janeiro de 2021 a agosto de 2022 para decidir a que vou me candidatar”, revela.
Na definição dos espaços a serem ocupados nas disputas, André aponta necessidade de prudência para uma mudança de paradigma. “Em Sergipe atualmente está havendo uma diferença em relação às eleições passadas, quando se fazia um pleito hoje e já se sabia quem daqui a dois anos ou até a mais tempo seriam os futuros candidatos majoritários”, afirma.
“Isso por causa da forma e do peso político que tinham um João Alves, um Albano Franco, um Antônio Carlos Valadares, um Marcelo Déda mais recentemente e até um Augusto Franco, mais lá atras. Hoje os tempos são outros e não vale mais tamanha antecedência na definição. Ademais, estou num momento de respeitar as etapas. Nós vencemos uma etapa, que foram as eleições municipais e entendo que agora tem uma etapa mais curtinha, de pelo menos 60 dias, que deve ser respeitada, que é para que a turma que se elegeu agora faça suas arrumações. Como é que vou sentar com esses novos prefeitos para falar de política nesse momento? Vou dar uma exemplo interno da minha casa: minha mulher, Lara Moura, é prefeita reeleita de Japaratuba e teve de mudar a metade do secretariado dela. Vou fazer o que, senão respeitar esse período de arrumação de todos eles?”, afirma.
André Moura está convidando lideranças políticas para estruturar em Sergipe o PSL. “Mas não deixo o PSC pelo PSL. Nesse primeiro momento, a gente vai estruturar o PSL, porque foi o compromisso que assumi com a Executiva nacional, é de prepará-lo para 2022 – todos sabem que os partidos têm preocupação de eleger deputados federais. Mas o compromisso é o de preparar o partido para a chapa proporcional, apesar do sonho de uma majoritária”, diz.