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Política

LINDA BRASIL:“NÃO TEREMOS UM MANDATO, E SIM UMA MANDATA!”

Atuando em movimentos sociais, principalmente nas causas LGBTQIA+, a mestre em educação assegura que o mandato – ou melhor, a “mandata!” -, será uma construção coletiva e participativa com questões que envolvem os direitos humanos e educação inclusiva

Publicada em 23/11/20 às 09:37h - 201 visualizações

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LINDA BRASIL:“NÃO TEREMOS UM MANDATO, E SIM UMA MANDATA!”
 (Foto: Divulgação)
Linda Brasil foi eleita vereadora de Aracaju para a próxima legislatura, de 2021 a 2024, com 5.773 votos – a mais votada da eleição municipal deste ano – e será a primeira transa assumir uma cadeira na casa. Ela, junto com mais três eleitas, irá compor a bancada feminina da câmara, onde á promete pregar a sororidade no legislativo. Atuando em movimentos sociais, principalmente nas causas LGBTQIA+, a mestre em educação assegura que o mandato – ou melhor, a “mandata!” – Será construído de forma coletiva e participativa com questões que envolvem os direitos humanos e educação inclusiva. Confira a entrevista completa que foi feita para o Jornal da Cidade:

JORNAL DA CIDADE - Conte um pouco da sua história de militância e o seu currículo.

LB – Linda Brasil Azevedo Santos, 47 anos de idade, natural de Santa Rosa de Lima-SE. Sou Mestra em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), graduada em Letras Português–Francês também pela UFS, cabeleireira e maquiadora profissional e técnica em Contabilidade. Minha militância na causa LGBTQIA+ e, consequentemente, político- -partidária, começou quando do meu reingresso à UFS, em 2013, para poder continuar meu curso de Letras Português-Francês. No meu primeiro dia de aula, tive problema com um professor por causa do meu nome social e iniciei um processo administrativo, que acabou gerando uma portaria que regulamentou o uso do nome social dentro da instituição. A partir deste momento passei a ter visibilidade e, por isso, entrei no movimento estudantil organizado, comecei a participar de coletivos, inclusive, junto com algumas amigas e alguns amigos. Fundei o coletivo Queer (Dês) Monstadxs para discutir questões de gênero e sexualidade dentro da UFS e em todo o Estado. Fui a primeira mulher trans a entrar em um coletivo de mulheres organizadas na capital sergipana. Em 2014, fundei com amigas a Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (Amosertrans), entidade que ajudou muito para que a sociedade aracajuana pudesse compreender mais sobre as questões de identidade de gênero e orientação sexual, e as pautas que envolvem discussões de gênero e diversidade sexual. Em 2015, acabei conhecendo mais a fundo o Psol, as ideias, e por ter me identificado muito com a filosofia do partido e de vários parlamentares a nível nacional, acabei me filiando. Em 2017, fundei a CasAmor, que é uma casa de acolhimento para a população LGBTQIA+.

JC – Diante dessa experiência, como será pautada a sua atuação na Câmara? O que os aracajuanos poderão esperar da Linda Brasil como vereadora?

LB – Vou aproveitar toda a visibilidade que possuo e levar para as pessoas informação, pois percebo que vários comportamentos hostis em relação a nossa comunidade são por falta de um debate mais aprofundado sobre o tema. Esse movimento de informação foi feito também durante a campanha, porque ela não foi realizada apenas com o intuito de obter votos, mas de fazer com que as pessoas voltassem a acreditar na política e saber que os políticos não são iguais, como está convencionado por muita gente, que nem todo mundo exerce a prática criminosa da compra de voto da população. Desde o ano de 2016 que as minhas campanhas vêm sendo realizadas dentro da perspectiva da leveza, de levar amor, alegria, de oferecer conhecimento para as pessoas fazendo um contraponto a tudo que estamos vivendo neste momento, com tanto ódio, com discursos montados em cima de mentiras, de fake news. Nossa proposta, desde o início, foi diferenciada.

JC – A senhora já vem fazendo história antes mesmo de ser empossada... Então, o que pretende deixar registrado nos anais do Poder Legislativo?

LB – Projetos que sejam transformados em políticas públicas que possam melhorar, verdadeira e efetivamente, a vida dos aracajuanos e das aracajuanas. Quero deixar registrada uma história construída com muita verdade, transparência, e que possa servir como estímulo a outras pessoas para que ocupem os espaços na política, um trabalho que faça com que as pessoas voltem a valorizar o voto e a acreditar na política partidária.

JC – Já há planejamento de projetos para serem propostos na Câmara? Quais são?

LB – A gente em um leque de projetos e propostas que foi construído de forma coletiva, participativa. Criamos um formulário chamado “O que você pensa para Aracaju?” para que as pessoas pudessem contribuir com os nossos projetos. Estou comprometida com a agenda de Marielle Franco, que são as práticas políticas que ela sempre apresentou. Projetos que ela desenvolveu ligados à questão dos direitos humanos, da população e juventude negra da periferia, das mulheres, da população LGBTQIA+, mas também todas as pautas focadas numa educação inclusiva e ligadas à população mais carente de políticas públicas, como moradia, transporte e a arte-cultura.

JC – Então, qual será a sua prioridade no mandato?

LB – Eu não terei uma prioridade, mas, sim, prioridades. Afinal de contas, sou uma pessoa que adentrei pela minha história de vida, na luta em defesa de algumas frentes, como a dos direitos humanos e educação. A maioria das minhas lutas está ligada a grupos minoritários, socialmente falando, como o LGBTQIA+, em defesa de todas as mulheres. Não teremos um mandato, e sim uma mandata! É este o nome que estamos dando porque o meu grupo de trabalho será composto, preferencialmente, por mulheres, por LGBTs e por pessoas que construíram junto comigo toda esta caminhada de sucesso com um olhar das mulheres, das LGBTQIA+’s. Porém, deixo claro que serão pessoas para trabalhar realmente, para contribuir, para que esta seja uma mandata histórica não apenas pelo número de votos que recebemos, mas porque fará um trabalho inovador, revolucionário.

JC – Para a próxima legislatura, serão apenas quatro mulheres atuando na Casa. Como a senhora analisa isso? Apesar dos partidos distintos, é possível ter a sororidade?

LB – Temos um longo trabalho pela frente para que as mulheres ocupem mais espaços de poder e liderança. Este número ainda é pequeno tendo em vista nosso percentual na população e a nossa participação na vida cotidiana. Espero fazer uma mandata que inspire mais mulheres, LGBTQIA+’s, a população negra e jovens a estarem ocupando estes espaços. Atuo sempre tendo em vista a perspectiva da sororidade. Tenho consciência da responsabilidade que será lutarmos por políticas públicas que combatam a violência contra as mulheres e que garanta às mulheres periféricas direitos básicos, como colocar os filhos em creches.



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