Pré-candidato a vereador, em Aracaju, o ex-deputado federal Mendonça Prado (PDT) demonstra, nesta entrevista, sua preocupação com a realização das eleições 2020, mesmo com a pandemia ainda presente. O ex-parlamentar teme que, na campanha, os próprios políticos possam transmitir o coronavírus para o eleitor. "Eu acho uma coisa meio irresponsável fazer uma eleição. Temos que nos submeter a esse processo, registrar candidatura, participar do pleito e vamos colocar toda a sociedade em risco. Se você é candidato e vai pedir votos, você entra na casa de um e de outro, depois vai ao calçadão e pode se contaminar. Pode ocorrer e não ter sintomas. Aí vai visitar os eleitores e vai ser o responsável pela contaminação. Ninguém venha me dizer que não vai se aproximar das pessoas", alerta.
Sem desmerecer a Câmara de Aracaju, o que motiva um político que já exerceu um mandato de deputado federal disputar uma eleição para vereador?
Primeiro porque eu tenho um profundo amor pela terra onde nasci, que é Aracaju. A cidade que me deu boas vitórias, inclusive eu fui o deputado federal mais votado da história de Aracaju, na eleição de 2010. Eu tenho um compromisso com Aracaju. Eu amo essa cidade. Eu, no momento, tenho disponibilidade para trabalhar pelo povo da minha terra, e quero exercer o mandato para não ser mais um vereador, mas minha experiência e o acúmulo de conhecimentos me obrigam a ser um bom vereador para minha terra. Não tem nenhum demérito. Ser vereador é igual a ser um deputado federal ou um senador. As pessoas não analisam qual a competência de cada cargo. O vereador tem muita responsabilidade com a municipalidade. O deputado federal com a União e o deputado estadual com o Estado. A competência é semelhante. Os temas é que podem ser diversos. Quando se trata de tributos, por exemplo, aqui nós temos o IPTU, o ISS. No plano federal, o imposto de renda, o imposto sobre o produto industrializado. As funções se equivalem. O que importa não é o nem o status do cargo. É a minha vontade de trabalhar pelos meus conterrâneos.
Mendonça Prado foi um vereador com atuação de destaque, pela oposição dura que fez ao saudoso Marcelo Déda, então prefeito de Aracaju. Dessas vez, porém, Mendonça, se eleito, será aliado do prefeito, caso ele seja reeleito. Como seria o seu comportamento num papel de não oposição?
Se Deus permitir e o povo assim desejar que eu chegue à Câmara de Aracaju, sem nenhuma vaidade e sem nenhum apego a nada, irei com total independência. Lógico que serei um aliado leal porque sempre fui leal àqueles com os quais estive ao lado e me comprometi com a lealdade. Em primeiro lugar vai estar sempre a população de Aracaju. Será sempre prioridade como sempre foi em todos os mandatos. Nunca foi diferente mesmo tendo lideranças expressivas, mas sempre defendi as causas que acreditei. Ninguém nunca chegou pra mim para tentar mudar minha opinião porque sempre fui firme nos meus ideais e sempre leal. Quem estiver ao meu lado, eu sou o tipo de político que a pessoa já sabe antecipadamente como irei proceder.
Como foi a reaproximação entre Mendonça e o prefeito Edvaldo Nogueira?
Eu estava afastado de tudo, inclusive tirei licença do meu trabalho por um longo período. Eu sou servidor público, trabalho, bato ponto diariamente na Assembleia Legislativa, na diretoria jurídica, e tenho meu escritório de advocacia. Estava completamente afastado da política. Inclusive viajei, fiquei um período fora do estado, e agora volto ao grupo. Conheço Edvaldo desde 1986. É um amigo que tenho a longas datas. Tivemos as nossas discussões, os nossos debates, que é normal da atividade política, mas tudo superado. Não tem problema nenhum na minha relação com Edvaldo Nogueira. Aliás, Eu nunca fui de ter problemas com ninguém. As pessoas com as quais eu tenho problema Sergipe conhece.
Como avalia a gestão de Edvaldo?
Acho que é uma boa gestão. A gestão a gente não avalia simplesmente pelo momento. Existem vários aspectos que devem ser levados em conta. Primeiro, como ele pegou a prefeitura, a maneira como organizou as finanças do município. Segundo, pela capacidade de elaboração de projetos, e, em seguida, a capacidade para executar projetos. Ele foi feliz nesse aspecto. Tanto é que fez a captação de recursos dos entes federados e as obras estão em andamento. Conseguiu manter em dia o pagamento dos servidores. Portanto, a avaliação que eu faço é que ele faz uma boa gestão. E olhe que vivemos um momento de grandes dificuldades para todos os gestores públicos em função dos problemas que as máquinas administrativas dos mais diversos entes federados têm.
O PDT talvez seja o partido que tenha mais políticos com densidade eleitoral, quando se trata das eleições para a Câmara de Aracaju. Por que, ainda assim, o senhor fez opção pela legenda?
Eu tinha que ir para uma agremiação partidária. O PDT é um partido que tem uma história que nasce com outra sigla, com Getúlio Vargas. O PDT é o partido que sucedeu o PTB antigo. É o PDT de Darcy Ribeiro, que foi o maior ideólogo na área de educação, no meu ponto de vista, com ideias que foram colocadas em prática. Ele e o Anísio Teixeira. O Brizola construiu mais de 4 mil escolas no Rio Grande do Sul. Depois, no Rio de Janeiro, com Darcy Ribeiro, ele fez o que eu mais admiro. Em todo lugar que eu falo de sistema educacional é fazendo uma avaliação da escola integral e o único político que tomou essa decisão no Brasil foi o Darcy Ribeiro, no governo do Brizola. Temos partidos em demasia no Brasil. Com todo respeito a todos os partidos, eu não posso ir para qualquer partido. O PDT tem história, e cujas lideranças nacionais se destacaram na política brasileira pelas suas lutas. Podem até discordar delas, mas ninguém pode negar que foram pessoas que comprovadamente fizeram pelo povo brasileiro. Segundo ponto que eu tenho que levar em conta é que todos os partidos em Sergipe tem seus comandos. Você vai fazendo o processo por exclusão. Eu não poderia ir para qualquer partido cujo comando ou o destino fosse incompatível com minha linha de pensamento. Ir para um partido que, mais na frente, vai se aliar a outros partidos que abrigam certas pessoas. O PDT em si é um partido muito simpático e eu estou muito feliz de estar no PDT.
A sua imagem já foi totalmente desatrelada do ex-governador João Alves ou a identificação ainda existe por parte do eleitor?
A minha ligação com João Alves não é nem uma ligação política. Eu sou um eterno admirador de João Alves e sou um cidadão que terei eterna gratidão a João Alves onde quer que esteja. E rezo pela saúde dele diariamente porque devo muito a João Alves Filho, independente de partido. Meu pai foi deputado muitos anos, mas João Alves me ajudou muito na política. Isso é inegável. Se a população vincula meu nome ao de João Alves eu não sei dizer. Eu só sei que eu sou eternamente grato. Defenderei a história de João Alves em qualquer partido que eu estiver e todo mundo sabe disso. Eu não sei se as pessoas me vinculam a João Alves ou não, mas me sinto no dever de eternamente ser grato a ele. Ele não merecia passar pelo que está passando. Foi indiscutivelmente o maior governador da história de Sergipe e o maior prefeito de Aracaju. Futuramente, João Alves será o político lembrado pelas gerações futuras, assim como é Inácio Barbosa e os que ficaram lá atrás. Muitos vieram em seguida e não estão vivos na lembrança. João Alves vai ficar por sucessivas gerações porque as marcas dele estão em todos os lugares. Se você vai à Orla, foi João. Se é a ponte, foi João. Quem construiu Sergipe foi João Alves. Isso é indiscutível e não vou negar isso em lugar nenhum. João é o homem público mais importante da história de Sergipe. João Alves teve realizações que transformaram a sociedade. Itabaiana, que é a terra da família Mendonça, é o que é graças a João Alves. Aracaju é o que é graças a João Alves. Ele construiu avenidas há mais de três décadas como a Hermes Fontes, Visconde de Maracaju, Euclides Figueiredo, Maranhão, que se não fossem essas vias ninguém sabe o que seria do trânsito de Aracaju. O homem é um visionário. É singular. É incomparável. João Alves foi um grande governante.
O senhor fez críticas ao delegado Alessandro Vieira, dizendo que ele queria se promover politicamente à custa do seu nome. Ele foi eleito senador... O mandato dele lhe agrada? Mudou sua opinião?
Eu não vou deflagrar esse debate. Vou ficar na minha aguardando. Se esse confronto surgir, estarei à disposição. Esse é um debate que pode trazer efeitos de discussões para o partido. Eu sou um homem pronto para o debate, mas esse debate com essas pessoas eu não quero deflagrar. Os cabelos brancos ensinam. Como estou agora no partido de Brizola, eu tenho que dizer que venho de longe e não vou cair na armadilha.
Qual a sua avaliação sobre ter eleição mesmo com essa pandemia?
Já está anunciando mundialmente que a ciência nos permite vislumbrar uma vacina em fevereiro. O mandato se encerra dia 31 de dezembro. Se fosse congressista, eu defenderia ou uma eleição com voto facultativo porque depois da pandemia manter voto obrigatório é uma incongruência. Como se obriga uma pessoa que é do grupo de risco a votar? Se eu fosse deputado federal teria feito a defesa de uma eleição 90 dia após a data oficial de vacinação contra o coronavírus, que vai acontecer no próximo ano. Eu não vejo nenhum problema prorrogar mandato por três meses. Os vereadores poderiam ter regras, como por exemplo, ficar no mandato somente com a condição de votante projetos e sem a estrutura. Não poderia cada um dar a sua contribuição? Ficaria na Câmara por três meses voluntariamente. Tornaria a eleição até mais democrática. Agora, colocar em risco a população e os próprios candidatos? Ninguém sabe como vai ser essa campanha. Temos que apertar a mão das pessoas. Ninguém me diga que não vai ter aperto de mão e abraço, especialmente nas cidades mais distantes, no interior e povoados. Eu acho que foi um erro, mas, já que terá eleição, a gente tem que se submeter a esse risco, que é do eleitor e do candidato. Uma coisa compensada. Não poderia era ampliar o mandato até 2022 como muitos queriam, mas poderia ampliar por mais alguns meses. O vereador ficaria de janeiro até o dia da eleição só votando as matérias. Encerraria toda a parte econômica. Os empresários não ficaram com suas lojas fechadas? Por que os vereadores não poderiam ir votar os projetos sem maiores estruturas? Eu acho que todos topariam, mas não fizeram assim e não sou eu que vou modificar. Se faz uma eleição com todo mundo vulnerável. Tomara que vá diminuindo. A esperança é essa. Mas ninguém sabe se isso volta, se quem teve pode ter de novo. Eu achei que a discussão não foi bem feita sobre isso. O carnaval, que é em fevereiro, já estão pensando em colocar lá pra agosto. Tudo que é evento que aglomera estão colocando pra depois. Agora eleição tem que ser agora? Eleição sempre tem dois lados e precisam ser compreendidos. Eu falo com tranquilidade porque não exerço nenhum cargo e não tenho nenhum cargo em lugar nenhum. Estou falando como cidadão. Não estou protegendo ninguém. Acho que se deve proteger a população. Ninguém está imune. Graças a Deus minha saúde é muito boa, mas eu sou medroso também. Eu perdi muitos amigos nessa. Perdi um amigo de Neópolis. Um cara saudável, que tinha 60 anos. Perdi Bosco Sobral, que era o síndico do meu prédio. Eu acho uma coisa meio irresponsável fazer uma eleição. Temos que nos submeter a esse processo, registrar candidatura, participar do pleito e vamos colocar toda a sociedade em risco. Vamos na torcida e na intuição para que esse negócio se mantenha numa queda. Se você é candidato e vai pedir votos nas casas, você entra na casa de um e de outro, depois vai ao calçadão e pode se contaminar. Pode ocorrer e não ter sintomas. Aí vai visitar os eleitores e vai ser o responsável pela contaminação. Ninguém venha me dizer que não vai se aproximar das pessoas... Se sacrifica empresa, lojista, indústrias, mas o político tem que ter o voto? Ter que chegar ao exercício do poder de qualquer jeito? Por que não a eleição em março ou abril com todo mundo vacinado e podendo fazer a festa da democracia? Mas se é agora, vamos; correndo todos os riscos.