Apesar de registros entre os astecas de um esporte de nome tlachtli, que guardava alguma semelhança com o futebol, é ponto pacífico entre os estudiosos/as que a sua invenção foi mesmo obra do imperialismo inglês, no século XIX.
A sua introdução em solo brasileiro se deu através de Charles William Miller (1874-1953), em São Paulo, no ano de 1894, mas logo passou a ser praticado em todos os quadrantes do país, obviamente que em algumas localidades o seu desenvolvimento aconteceu de maneira mais célere.
Em Sergipe, a prática do esporte alcançou grande popularidade ainda na primeira metade do século XX, idem em Estância com a fundação do Sport Club Santa Cruz (Azulão do Piautinga), em 03 de maio de 1930, conquistando 5 títulos consecutivos, de 1956 a 1960 (o último foi o primeiro campeonato profissional do estado), e que tinha o seu mando de campo no Estádio da Vila Operária, construído com mão de obra operária no bairro homônimo.
Com a instalação do Estanciano Esporte Clube (Canarinho do Piautinga), em 14 de junho de 1956, e que mandava os jogos, no Campo do Cruzeiro, no centro, o município passou a contar com dois clubes de futebol profissionais, no campeonato estadual, e a realizar o famoso “clássico dos pássaros” do Piauitinga, que pela rivalidade envolvia toda a cidade e era bonito se ver.
O futebol passou a ser de longe o esporte mais popular no “Berço da Cultura Sergipana”, com campinhos de várzea em todos os bairros existentes e povoados à época, revelando craques a todo o tempo, por isso, os modestos espaços dos clubes profissionais passaram a ficar acanhados e pequenos diante do público cada vez maior durante as competições.
Na esteira dessa necessidade, o comerciante Nivaldo Silva Carvalho (1923-1995) atendendo a uma antiga reivindicação do mundo esportivo local levantou a tese da construção de um estádio que tivesse uma capacidade de público maior, bem como mais conforto e segurança para os espectadores/as.
Desse modo, o então governador Augusto Franco (1912-2003) contratou a Empresa CONOEL Ltda, que iniciou a moderna obra. O novo estádio tinha 110 X 75 de dimensões, gramado natural, placar eletrônico, iluminação noturna e capacidade para 8.000 pessoas. O gestor foi homenageado tendo o seu nome eternizado na praça esportiva.
A inauguração do Francão (como ficou conhecido), contou com as presenças do governador Djenal Tavares de Queiroz (1916-1997), que substituiu Franco que disputou e se elegeu deputado federal; do prefeito municipal Carlos Magno Costa Garcia; do empresário Nivaldo Silva Carvalho e de diversos desportistas. O dia escolhido foi um sábado, 05 de março de 1983, com o famoso “clássico dos pássaros”: Santa Cruz e Estanciano, com a vitória do Azulão, por 1x0, o gol foi marcado por Edmundo Cavalcanti (Negão de Bela), que conseguiu vazar o grande goleiro, Nelson dos Santos, do Canarinho.
De lá para cá se passaram quatro décadas e o estádio testemunhou muitos espetáculos, recebeu grandes clubes do futebol brasileiro, a exemplo do Fluminense e do Vasco da Gama (Rio de Janeiro); do Sport Club do Recife (Pernambuco); do Esporte Clube Vitória (Bahia) e do Paraná Clube (Paraná).
Pelo seu gramado desfilaram grandes craques, mas nem tudo nesse período foram flores e a sua estrutura quase veio a abaixo se não fosse a coragem e a indignação do cidadão e desportista, Fábio Emanuel Silveira de Oliveira (Fábio “Francão”), que inconformado com o seu abandono procurou a Promotora de Justiça, Dra. Carla Rocha Barreto Hora de Lima, representante do Ministério Público / MP, que ingressou com uma Ação Cível, em 2008, resultando na sua providencial reforma.
A luta do desportista foi tão determinante para a primeira reforma que Marcelo Déda durante o governo itinerante “Sergipe de Todos”, em terras estancianas, no dia 18 de setembro de 2009, convidou-o para o palanque oficial pelo epíteto de “Francão” e prestou-lhe uma justa homenagem.
O governador Déda foi o grande responsável pela primeira reforma que durou de 20 setembro de 2009 a 11 maio de 2011, custou em torno de 4 milhões de reais e transformou o Francão num espaço definitivamente moderno e seguro. A sua reinauguração aconteceu na noite de uma quarta, 11 de maio de 2011, e recebeu o maior público da sua história 7.525 espectadores/as.
A partida de reinauguração foi um capítulo à parte, pois foi criada uma expectativa enorme para o jogo do Estanciano e River Plate (genérico de Sergipe), que para surpresa de todos/as os/as presentes naquela noite histórica o Carinho perdeu por 6 a 0, deixando seus dirigentes e sua torcida completamente atônitos. Uma espécie de noite da humilhação.
Atualmente o maior templo de futebol da região sul precisa de uma reforma geral e novamente Fábio Emanuel bateu às portas do MP, que desta feita é representado pela Promotora de Justiça, Dra. Karla Christiany Cruz Leite de Carvalho, que acatou a sugestão e ajuizou, em 2022, uma Ação Cível, visando uma nova intervenção do Estado.
Independentemente do resultado da Ação Cível do Atuante Parquet, que tramita na 1° Vara Cível da Comarca de Estância, o governador Fábio Mitidieri bem que poderia sair na frente e anunciar a tão necessária reforma, brindando os seus quarenta anos de história e tradição futebolística. Vida longa ao Francão!
José Domingos Machado Soares (Dominguinhos)
Professor e ex-vereador de Estância