O Vasco sacramentou o quarto rebaixamento de sua história em 12 anos. Diante de sérios problemas financeiros, o clube terá de enfrentar muitos desafios na próxima temporada, que já terá início em março por causa do tempo em que o futebol ficou paralisado em virtude da pandemia. O maior deles é a queda brusca na receita e na cota de televisão, que causará reflexos diretos no orçamento do Cruz-Maltino para 2021.
- Na Série A, é um valor variável (cota de televisão) de aproximadamente R$ 80 milhões por ano. Na Série B, o Vasco teria de escolher entre o recebível de pay per view ou cota fixa de R$ 8 milhões. Podemos tomar como base o Botafogo em 2019: teve R$ 20 milhões. O Vasco certamente terá mais e certamente vai optar pela cota do pay per view. Agora, a queda é significativa: de R$ 80 milhões para talvez uns R$ 30 milhões anuais com direitos de transmissão. Um valor bastante relevante - explicou Rodrigo Capelo, jornalista especializado em finanças do esporte, ao site "GE".
Além disso, outro fator que tem pesado é a ausência da torcida em virtude da pandemia. Caso o público seja liberado durante a temporada 2021, o orçamento de bilheteria prevê o valor de R$ 3,8 milhões, quadro social e patrocínios. No período de transição entre a gestão de Alexandre Campello para o novo mandatário Jorge Salgado, o Conselho Deliberativo aprovou o orçamento para o ano com a previsão de receita líquida de R$ 342 milhões.
Porém, o valor terá que ser reajustado pela direção do Gigante da Colina, já que com a queda, o regulamento da Série B não prevê pagamento de premiação, só as variáveis referentes aos direitos de transmissão. Durante a pandemia, o prejuízo do clube foi de R$ 1.446.733,65 em 17 partidas em casa, sem o borderô de duas delas (contra Internacional e Goiás).
Em entrevista, Jorge Salgado revelou que a dívida do clube aumentou em R$100 milhões durante a temporada 2020 e chegou a R$720 milhões. Ainda segundo o mandatário, a queda na receita girará em torno de R$100 milhões. O balanço só será divulgado mais para frente, mas os reflexos de disputar a segunda divisão são gigantescos.
- Como vocês sabem o campeonato terminou ontem (na coletiva de sexta). Esperávamos ele terminar para termos mais certeza sobre o nosso futuro. Agora chegou o momento. Estamos adequando nosso orçamento, com um endividamento que aumentou R$ 100 milhões e (com o rebaixamento), uma perda de R$ 100 milhões, então são R$ 200 milhões contra. Tudo vai ser encaminhado para uma solução. Os primeiros meses vão ser os mais difíceis, quando estaremos fazendo os ajustes - disse o presidente em entrevista coletiva.
Desde que tomou posse, Jorge Salgado pagou duas folhas salariais e disse que busca a captação de recursos para solucionar e quitar as dívidas com funcionários e jogadores até abril. Na coletiva da última sexta, ele voltou a destacar que a nova diretoria irá combater o desperdício, adequar o orçamento e focar nos salários em dia.
- Esses 30 dias de gestão foram muito intensos, focamos muito no futebol. Criamos as melhores condições para o futebol. Demos as melhores práticas para o departamento de futebol no sentido de ter todas as condições. Nesse primeiro mês de gestão, conseguimos pagar duas folhas. É como se tivesse entrado em janeiro e paguei fevereiro e março, mas estou pagando o passado. Vamos passar algumas meses da nossa gestão pagando o passado - destacou.
- Nossa meta é perseguir o pagamento de salário em dia, combater o desperdício, melhorar todas as áreas e reconstruir o nosso clube no sentido de que ele volte para a Série A. O Vasco vai ser diferente daqui pra frente. Vamos tentar de todas as maneiras essa falta de compromisso com salários e etc. Vamos lutar muito por isso. Tenho certeza que vamos voltar muito mais fortes para a Série A -
Com uma nova realidade, o Vasco passará por cortes e uma reforma administrativa. O empresário pretendia estabelecer um Plano de 100 dias com as primeiras mudanças na administração Cruz-Maltina, porém a falta de retorno esportivo fez com que ele implementasse um plano de 15 dias nos últimos jogos do campeonato. Porém, o time não conseguiu evitar a queda.
- Vamos iniciar período de reestruturação com muito trabalho e luta. Vamos combater o desperdício. Vamos ter que fazer ajuste muito grande em todas as áreas. Estou falando de funcionários, atletas e fornecedores para nos ajustarmos - completou Jorge Salgado.