As terras do nosso querido Sergipe estavam inclusas na Capitania que Dom João III doou a Francisco Pereira Coutinho, a 5 de abril de 1534, cujo foral foi passado a 26 de agosto daquele ano. Sob a denominação de Capitania da Bahia de Todos os Santos, a doação estendia-se da barra do rio São Francisco à ponta da baía acima nominada. Com o malogro de várias Capitanias e a morte do referido donatário, o rei de Portugal acabaria adquirindo ao herdeiro Manuel Pereira Coutinho, que se achava sem recursos para tocar o que lhe pertencia como de direito hereditário, as terras da referida Capitania.
Em sua História de Sergipe, entende Felisbelo Freire, que: “Talvez por isso [a compra da possessão das 50 léguas doadas] e pelo fato de que a conquista de Sergipe fosse efetuada por ordem régia e à custa da coroa, chama-se – Sergipe d’El Rei, e [por já] haver Sergipe do Conde”, na Bahia (1977, p. 68). É uma ideia.
A conquista de Sergipe era indispensável, como afiança o mesmo Freire: “Compreende-se perfeitamente que era de alto valor à prosperidade colonial da Bahia e Pernambuco, os dois pontos mais populosos do tempo, a antecipação da conquista e descoberta de Sergipe” (1977, p. 68).
Naquele tempo, os franceses faziam o contrabando do pau-brasil, contando com o apoio dos nossos indígenas. Ou seja, ao que se infere por documentos antigos, o nosso litoral era frequentado por corsários da terra dos Luíses. Uma falta do governo-geral, de Tomé de Souza a Mem de Sá, foi o descuido quanto ao combate aos gauleses.
Em 1575, ainda na voz de Freire, “Partem o Padre Gaspar Lourenço, seu companheiro João Salonio e mais vinte neófitos da aldeia de Sto. Antônio, acompanhados por uma companhia de vinte soldados, sob o comando de um capitão, a fim de estabelecerem povoação em lugar próprio, em direção do rio Real” (1977, p. 70). Foi erguida, então, uma igreja à qual deram o nome de São Tomé. Depois, foi erguida a aldeia de Santo Inácio.
Passado certo tempo, Dom Luiz de Brito, primeiro governador das capitanias do Norte, depois que a coroa portuguesa dividiu o Brasil em duas porções distintas, uma com sede em Salvador e a outra sediada na cidade de São Sebastião (Rio de Janeiro) houve por bem dar combate aos franceses, aliados dos nossos índios, combatendo, assim, os nossos primeiros patrícios. Nas lutas, morreu o cacique Surubi, sendo presos Serigy e Aperipê, acompanhados de muitos dos seus comandados. Os prisioneiros morreriam na Bahia.
Registre-se, aqui, uma divergência: para Porto Seguro, Aperipê teria sido preso; para o Frei Vicente do Salvador, ele teria fugido para o sertão, sendo perseguido por Luiz de Brito em distância de 50 léguas. Não se sabe o que deveras ocorreu com Aperipê. O certo mesmo foi que esses nossos caciques não se submeteram ao colonizador. Devemos ter herdado o espírito de insubmissão e de liberdade desses nossos irmãos primitivos. Somos e devemos ser insubmissos a qualquer tipo de opressão.
Ficamos atrelados à Bahia. Sofremos a invasão holandesa em 1637, que causou ruína à nossa terra, tanto pelas ações deletérias do Conde de Bagnuolo, comandante do exército português/espanhol em fuga, quando da parte dos holandeses comandados por Gysselingh e Schkoppe.
Tempos depois, os holandeses seriam expulsos de Sergipe. A Capitania haveria de, pouco a pouco, recuperar-se e prosperar. Em 1817, irrompeu a Revolução Pernambucana, que não encontrou guarida em Sergipe, pois os seus próceres permaneceram realistas e contra o movimento democrático que pretendia implantar uma República. Que pena! Alguns estudiosos alegam que a emancipação de Sergipe, por Dom João VI, chagado ao Brasil em 1808, deveu-se ao reconhecimento do rei pela fidelidade sergipana. Vai-se saber. A verdade é que, a 8 de julho de 1820, o rei emancipou o território sergipano, completados, agora, 204 de independência em relação à “província maior”, como canta o Hino de Sergipe. Inicialmente, porém, parte da elite sergipana, que desfrutava de estar distante de Salvador, gerindo, pois, por si mesma, a vida social, política e econômica ao seu bel prazer, insurgiu-se contra a emancipação. Outra parte dessa mesma elite defendeu a nossa independência.
Assim, possamos cantar o nosso Hino, que, em sua primeira parte, diz: “Alegrai-vos, sergipanos / Eis que surge a mais bela aurora / Alegrai-vos, sergipanos / Eis que surge a mais bela aurora / Do áureo jucundo dia / Que a Sergipe honra e decora / O dia brilhante / Que vimos raiar / Com cânticos doces / Vamos festejar, festejar, festejar”.
O nosso querido Sergipe d’El Rey é, na verdade, do povo. E somente do povo. Viva Sergipe! Viva os sergipanos!
Referência: Freire, Felisbelo. História de Sergipe. Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 1977.
Por Padre José Lima
(*) Sacerdote e Advogado