A Tribuna Cultural, jornal criado há 23 anos, e hoje funcionando apenas com o seu site, registra a data de nascimento de Jorge Prado Leite, 19 de junho. Se o empresário, industrial, jornalista, engenheiro e o “homem chamado trabalho” estivesse entre nós, estaria completando dia 19 (quarta-feira), 98 anos de vida. Infelizmente, Dr. Jorge, como era tratado por todos, nos deixou no dia 16 de agosto de 2021. Ele voltou para os braços do Pai Celestial.
O DIA EM QUE VOLTOU PARA DEUS
Domingo, 16 de agosto de 2021, faleceu aos 95 anos, um mês e 27 dias, o engenheiro civil e industrial Jorge do Prado Leite, um dos homens mais respeitados da velha guarda da vida sergipana.
Jorge Prado Leite, a quem deram-lhe o codinome de “um homem chamado trabalho”, faleceu às 8h10 da manhã, na mesma casa em que nasceu, na Avenida Ivo do Prado, em Aracaju.
O corpo foi velado a partir das 14h, no Cemitério Colina da Saudade, e sepultado ali mesmo, duas horas depois, às 16h.
Há cerca de cinco anos, o Doutor Jorge, como era tratado por todos, vivia em estado vegetativo sob profundos cuidados da família entre a fazenda no povoado Crasto, em Santa Luzia do Itanhi, vizinha a Estância, e a casa de Aracaju, onde nasceu.
O que o levou à prostração foi o Mal de Parkinson. Mesmo nesse estágio de saúde assim, o Doutor Jorge Leite contraiu a Covid-19 duas vezes e venceu a ambas. Foi em junho de 2020 e em fevereiro deste ano.
Primogênito dos 11 filhos do também industrial e senador Júlio Leite, Jorge Leite fez Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Na maturidade, bacharelou-se em Comunicação Social na primeira turma de uma universidade sergipana, com habilitação em Jornalismo.
Poderoso no campo da economia e do respeito social, Jorge Leite gostava de brincar com os jornalistas mais antigos, chamando a todos de “meu colega”.
O doutor Jorge foi fundador da Rádio Esperança e manteve o time do Santa Cruz por 40 anos - de 1950 a 1990.
Sua maior obra, no entanto, é a Sulgipe, empresa por ele fundada em Estância em 1958 com atuação sobre 12 municípios de Sergipe e dois da Bahia, com quase 200 mil consumidores, e presidida pela neta Yvette Leite, filha de Ivan Leite.
Jorge deixa três filhos: Marcelo, Adriana e Ivan Leite. Deixa viúva dona Angelina Emiliana Santos. (Informação do JL Política).
DR. IVAN ESCREVEU
No dia 19 de junho de 1926 nasceu em casa, na Avenida Ivo do Prado em Aracaju, meu pai, Jorge Prado Leite, primogênito de Júlio César Leite e de Carmem Prado Leite, e também primeiro neto do coronel Gonçalo Rollemberg. Aos 11 anos de idade foi estudar, sozinho, em Fortaleza, Ceará, na Escola Militar.
Aos 12 anos, mudou-se para Minas Gerais. Foi estudar internamente no Colégio Cataguases Leopoldinense, e de lá ele mantém até hoje memórias deliciosas, não apenas pelos tradicionais doces mineiros, mas pelo carinho e amizade de famílias e amigos que o acolhiam aos finais de semana e as paqueras de adolescente.
Mudou-se para São Paulo alguns anos depois, para o internato do Colégio Mackenzie, do qual também guarda sempre boas memórias. Serviu ao CPOR - Centro Preparatório de Oficiais da Reserva - Exército, o que lhe era fácil, pelo temperamento disciplinado, mas difícil pelas ações físicas, pois mesmo não tendo limitações que o impedissem de executá-las, a elas não era muito afeito.
Mas conseguiu superá-las através de atribuições que buscou na biblioteca. Aos 19 anos, papai ingressa na já cobiçada nacionalmente e já consagrada formadora de excelentes engenheiros, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo -, feito este que muito o orgulha.
Na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo estudaram contemporaneamente jovens que vieram a ser dois governadores de São Paulo, Mario Covas e Paulo Maluf. Com este, papai concorreu em eleição para o Grêmio da Poli, e o venceu - fato que atesta a sua grande capacidade de aglutinação e liderança.
Como presidente do Grêmio da Poli, e vindo de outro Estado morar em São Paulo, era conhecedor das dificuldades que enfrentavam os alunos originários do interior e de outros Estados de todo o Brasil.
Por isso, idealizou e empenhou-se na viabilização e construção da Casa do Politécnico. E teve sucesso nesta empreitada, construindo um prédio de 11 andares que, ao término da sua gestão, já estava no sexto pavimento e com recursos assegurados para a sua conclusão.
Em 1950, já formado em Engenharia Civil, papai retorna a Sergipe a convite de seu pai, que dele precisava para dirigir a Fábrica Santa Cruz uma vez que, como senador, iria morar no Rio de Janeiro. Este é o mesmo ano em que conheceu e apaixonou-se pela ainda adolescente Angelina, a minha mãe.
Em 1956, três importantes fatos ocorrem na vida de papai: o time de futebol da fábrica, o Santa Cruz, o Azulão do Piauitinga, sagra-se campeão estadual no primeiro campeonato desta abrangência, e ainda fora campeão seguidamente 1957/58/59/60, sendo o primeiro pentacampeão; é fundada a Companhia Sul Sergipana de Eletricidade, a Sulgipe, e lhe nasce o seu primogênito, euzinho aqui.
Em 5 de maio de 1964, ocorrem os dois maiores reveses de sua vida: a perda prematura de sua genitora, Vovó Carmem e, no mesmo dia, a destruição da Fábrica Santa Cruz por uma gigantesca enchente dos rios Piauí e Piauitinga.
Demonstrando sua garra e seu empreendedorismo, em 1º de maio de 1967 papai inaugura a primeira estação de rádio do interior de Sergipe, a Rádio Esperança, numa data que demonstra explicitamente seu apreço e reconhecimento aos trabalhadores - ele próprio um eterno trabalhador -, a ponto de receber o codinome de um homem chamado trabalho!
Aos filhos, que criou e educou com exemplos - Ivan, Marcelo, Adriana -, e aos netos Jorge, Yvette, Júlia e Luiza, e ao bisneto Pedro Jorge, ele segue dando demonstração de perseverança. Chega hoje aos 95 anos e, como lhe é peculiar sempre ter metas, a de agora é de ir rumo aos 100. Então vamos!
[*] É engenheiro, foi deputado estadual, prefeito de Estância e secretário de Estado da Indústria e Comércio de Sergipe, mas para o que ele mais levanta crachá mesmo é para a condição de um filho de Jorge.