Por Torquato Paz
“É indispensável sem dúvida entrar em Estância, cidade quase idílica, habitada pelo povo mais cordial do mundo”. Essa frase está apregoada no obelisco (tínhamos mais dois desses) da Praça Barão do Rio Branco. E acredito que muitos saibam quem assim definiu esses Jardins de Sergipe, que entre outras alcunhas, a cidade também é chamada de Rainha do Abaís, Princesa do Piauitinga, Terra do Barco de Fogo, Berço da Imprensa Sergipana, Berço da Cultura Sergipana e mais outros nomes que queiram colocar.
Aquela mesma pessoa tinha uma estreita relação com a cidade e por aqui ficou temporadas, dando números finais aos seus livros, ou iniciando-os, se inspirando na Estância, que conforme se lê no livro Gente que Conheci Coisas que Ouvi Contar (autor Raymundo Silveira Souza), dizia ser culturalmente a cidade mais importante de Sergipe.
Talvez em longínquos tempos pretéritos, isso realmente fosse uma verdade. Hoje mais não. Estância perdeu muito em termos culturais. Cidades sergipanas outrora menos conhecidas no cenário nacional promovem encontros literários, festivais de artes, tem museus expressivos, debates culturais, saraus e mais ações que movimentam a cultura de forma bem mais agressiva que a nossa.
Eu cresci nesta cidade vendo encontros culturais, festivais de poesia falada, teatro de rua, retretas da Lira Carlos Gomes. Alguém se lembra do FEC, Festival Estanciano da Canção? E hoje o que se faz? Ora... Se existe algo desse tipo acredito que apoio falte, acredito que falte divulgação e boa vontade no sentido de enaltecer quem de fato contribui para a cultura estanciana.
Estância tem justificativas diversas para despontar no cenário cultural novamente. Mas onde estão as ações? Numa cidade pequena como essa, esperamos criatividade, talvez dos órgãos públicos no sentido da promoção. O ano tem 365 dias e não vemos ação alguma do poder público em zelar pela cidade nesse aspecto. O que se faz é o trivial. Algo tão importante como o setor cultural precisa ter melhor representação. Precisa de ações incisivas e criativas. Faltam recursos? Ora... Leis existem. O que falta é criatividade e capital humano.
Eu fico aqui pensando como seria um museu do São João, estilo aqueles com realidade virtual, onde colocaríamos aqueles óculos futurísticos e ficaríamos como se estivéssemos numa guerra de busca-pés de verdade, vendo o Barco passar e encantar. Fico pensando se o setor cultural tivesse a ideia de realizar encontros de teatro de rua, poesias, contos, crônicas... Isso já existe? E cadê que ninguém vê?
Outro dia vi um muito bem apanhado encontro de filarmônicas. Havia pouca gente na rua prestigiando. Talvez pela falta de costume do povo que nunca mais viu cultura. Mas o importante é saber que uma árvore já foi um grão, e hoje, sendo algo robusto, produz sombras e enfeita o lugar, onde lufadas espalham suas sementes.
Estância- SE, tarde de segunda, esperando a Sexta Santa de 2024.
Muito importante, a sistemática está matando a cultura, porém a espaço para a cultura