As andorinhas voltaram e eu também voltei! Lembrei de como era bonito ver as
andorinhas naquelas revoadas parecendo milhares nos céus da cidade. Parecia um balé acima
da Catedral e daí pousavam nos pés de oitis em meio aos bichos preguiças e a um ou outro
moleque que brincava naquelas árvores.
Ainda na praça em frente à Catedral o Abrigo era um marco, lugar de encontro para
quem queria num final de tarde contemplar a paisagem estanciana. As andorinhas se
misturavam ao ar daqueles fins de tarde, e hoje, ao ver uma ou outra por ali ou acolá, com as
devidas ausências do Abrigo, dos bichos preguiças, ou dos casarões coloniais azulejados o
que nos resta é a nostalgia.
Na andança de final de tarde, empatada por esses alambrados eternos me deparei com
um prédio novíssimo na mesma calçada do Paço Municipal. A fachada até que é bonita.
Parabéns ao arquiteto que a projetou, mas ao mesmo tempo pergunto: O senhor nobre detentor
desta arte, conheceu a arquitetura estanciana? Vou lhe contar: O nosso estilo é o Colonial
Português e ainda o Art Déco.
Só para dizer e talvez dar uma ideia às autoridades ou a quem
está descaracterizando a cidade.
Há muito tempo as marcas da cidade vem sendo retiradas.
As praças, prédios públicos novos, edificações recentes, em nada lembram ou remetem
ao nosso estilo, tudo está indo embora, somente aqui ou ali que vemos algo remanescente
esperando o dia de ser demolido.
Os espaços públicos poderiam dar o exemplo e assim
inspirar esses jovens que projetam esses prédios novos da cidade. É claro que todos são livres
para fazer o quem bem quiser com suas casas, fachadas, mas lembro de que em algumas
cidades desse nosso mundão, mexer em determinados pontos é algo extremamente rigoroso.
Outro dia numa crônica dessas aqui sugeri que fosse criado um órgão municipal que
tomasse conta do que resta do patrimônio estanciano. Ainda podemos salvar muita coisa!
Uma Andorinha só não faz verão! Elas rarearam assim como as marcas da cidade.
Achei um
absurdo anos atrás autoridades que se diziam amantes da arte, cultura, deixarem um banco
derrubar casas antigas bem ali no centro para dar lugar a sua moderna fachada. Ora, quem era
o prefeito, secretário de cultura, patrimônio, obras, ou sei lá o quê que não interferiu?
Esse é
só um exemplo.
Aí chegando por aqui fico sabendo, não sei até que ponto isso é verdade, que aquela
linda casa na esquina do outro lado do Paço Municipal que se mistura ao entorno da nossa
agredida praça central será demolida para dar lugar a uma farmácia! Será?
Acredito que as
andorinhas foram embora porque não mais reconhecem esse lugar! As preguiças da praça se
acabaram por conta da falta de cuidado, assim como os casarões.
O certo é que de pouco em pouco ninguém mais reconhecerá a Estância que outrora
nos orgulhávamos com sua imponente arquitetura! Talvez um dia façamos andorinhas
voltarem e bichos-preguiça reaparecerem.
Estância- SE, TERRA DO BARCO DE FOGO, manhã de terça-feira, depois do Natal
de 2023.
Por Torquato paz