Eram 9h da manhã, do último 5 de dezembro, uma terça ensolarada, quando recebi a ligação telefônica de meu amigo José Paulo de Araújo, 90. Na oportunidade conversamos por cerca de 5 minutos, incluindo os cumprimentos de praxe.
Originário de Buíque, no agreste pernambucano, este cidadão tem essa terra como sua pátria-mãe há décadas. Dotado de notável inteligência, assemelha-se a um griot africano, sendo uma espécie de biblioteca viva e autêntico guardião da identidade local.
É um bom intérprete da famosa expressão latina: “Genius loci”, geralmente traduzida como: “o espírito do lugar”, porque conhece com profundidade a vocação sócio-cultural da terra que ensinou Sergipe a ler jornal, em 1832.
Mestre da cultura estanciana, recorreu à memória histórica para dizer de forma direta e simples, num tom de saudade, que esta cidade não é terra apenas de Barco de Fogo, mas de “Ronqueira, Guerra de Busca-pés e Samba de Coco cantado”.
Observou-se que a tradição da Guerra de Busca-pés praticamente desapareceu, persistindo apenas na Avenida Getúlio Vargas durante a Festa de Santo Antônio. A situação da Ronqueira é ainda mais crítica, visto que as gerações mais recentes nem mesmo tiveram a oportunidade de conhecê-la.
Quanto ao samba de coco cantado citou o também mestre e conhecido poeta popular, Enoque dos Santos, e fez questão de me explicar de maneira detalhada e pedagógica a beleza e a originalidade do folguedo do ciclo junino. Pura arte!
A palavra compromissada e livre de um homem dessa dimensão deve sempre servir de exemplo e referência para as gerações atuais e futuras, objetivando corroborar com a preservação da cultura, identidade e memória da municipalidade.
O meu agradecimento e gratidão ao amigo e grande mestre Zé Paulo, personagem simbólico, do “Berço da Cultura Sergipana”, que vem diariamente de maneira imprescindível e valorosa, defendendo a estancianidade.
José Domingos Machado Soares (Dominguinhos)
Professor e radialista