Por Igor Salmeron
“A Fé no Direito é eterna. Quem julga não deve ter apenas a missão como ofício, deve atentar para o fato de que a Lei é oriunda dos anseios da sociedade. Julgar é trabalhar com o objetivo firme de bem servir aos anseios coletivos, pois o Direito na democracia é o amparo, salvaguarda e equilíbrio social”.
Fiquei deveras emocionado quando da prestigiada e recente posse do novel Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe Dr. Ricardo Múcio Santana de Abreu Lima, em específico, quando se referira ao seu notável pai, Dr. Aloísio de Abreu Lima que, segundo ele, foi um dos principais referenciais na sua gloriosa caminhada. Dito isto, despertou-me a famélica curiosidade em pesquisar a respeito da trajetória dessa sua insigne figura paterna e grandioso personagem histórico para os sergipanos.
Aloísio de Abreu Lima nasceu em Capela num dia 15 de dezembro do ano 1931. Filho de Seu Eduardo de Abreu Lima e Dona Maria José Lima, Aloísio soube desfrutar dos ensinamentos da sua aguerrida infância. Seu pai era modesto proprietário rural cuja Fazenda Carvões era famigerada em Capela pelo ardor do trabalho e labuta contínuas. Eduardo Abreu soube instilar em Aloísio a sabedoria de sempre conservar a humildade e os pés no chão.
Da mãe D. Maria José herdou a fé para reconhecer o valor das coisas simples. Aloísio Abreu tinha tino para os estudos e já em Capela mesmo cursou seu período de intensa alfabetização cuja Professora Adelina fora um marco nesse tempo auferido. Apesar da inópia pobreza que o cercava, não se deixou abalar e sabia no fundo que o amor e a persistência o levaria a patamares jamais imaginados.
Religioso, participou com fervor da Cruzada Eucarística donde apreendeu os valores da parcimônia e sensatez de espírito. Depois vem para Aracaju sendo aluno do Colégio Jackson de Figueiredo, finalizando o primário. Estudou no Atheneu e lá pôde desfrutar do seleto convívio com as mentes mais abrilhantadas do Estado, dentre às quais: Cabral Machado, José Olino, Ofenísia Freire, Rocha Lima e diversos outros vultos que engrandeceram a seara educacional telúrica.
Antenado e inquieto, fez parte do Grêmio Estudantil Clodomir Silva. Ainda criança tinha em seu âmago a sina de cursar Direito, e uma das ternas lembranças que mais lhe marcou residiu no fato de ter apreciado inolvidável discurso feito pelo saudoso Desembargador Joel Aguiar, bússola para que pudesse seguir em frente na busca desse seu anseio onírico.
Ao arrematar o primeiro e segundo anos no curso clássico do Atheneu, Aloísio Abreu ruma para Salvador onde tenta assinalar o terceiro ano, mais precisamente no Colégio Estadual da Bahia. Para prestar o vestibular teve que trabalhar como bedel no Colégio Ypiranga, algo que lhe trouxe o encargo das responsabilidades no começo da sua vida adulta.
De volta à Aracaju, concluiu então o terceiro ano no Colégio Tobias Barreto. Presta o vestibular e acaba passando em segundo lugar, algo que ele agradece a Mestres como: Gonçalo Rollemberg, Garcia Moreno, João de Araújo Monteiro, Cantidiano, Armando Rollemberg, Enock Santiago, Hunald Santaflor Cardoso dentre outros abalizados.
Dentro da Faculdade de Direito participa de Centro Acadêmico como Vice-Presidente na Diretoria de Adroaldo Campos. Nos interstícios da política, Aloísio Abreu era leandrista ferrenho, defensor ardoroso de Leandro Maciel que quando assumiu o Governo do Estado acabou o nomeando como Promotor-Substituto na cidade de Nossa Senhora das Dores.
Formado em Direito, realizou concurso para Juiz sendo aprovado e nomeado para Dores, onde passou doze anos totalizados de relevantes serviços prestados àquela cidade. Em sucedâneo migrou para Riachuelo, sendo promovido para a Comarca de Lagarto na Segunda Entrância no mês de abril de 1969, atuando como íntegro Juiz por dois anos. Recebeu o Prêmio Boletim do Nordeste como melhor Juiz Cível do Nordeste, sendo agraciado com a honorífica Medalha do Mérito Judicial.
Chegou em Aracaju em fevereiro de 1971 donde trabalhou como Juiz na Vara Civil por 10 anos. Por aqui foi Juiz da 5ª Vara Cível, da 3ª Vara Cível em 1975 e da 1ª Vara Cível em 1981. Querido e admirado, teve seu exemplar trabalho reconhecido pela Ordem dos Advogados. Vale asseverar que se consagrou como o Juiz do Ano em 1972, feito destacado em garrafal manchete noticiada pelos Diários Associados através do Diário de Aracaju.
Desempenhou sua nobre função como atuante Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe donde acabou sendo nomeado em 1983. Revelou-se como figura prestativa sem volúpia e jactância de qualquer natureza, um destemido homem que fez da retilínea aplicação da Justiça a sua missão sacerdotal.
A partir da aposentadoria de Lauro Pacheco e pela também aposentadoria de Luiz Garcez, Aloísio Abreu então toma posse no insigne cargo em 1983 como anteriormente mencionado. Junto ao TJ/SE foi Corregedor-Geral de Justiça entre 1985 e 1987, chegando a exercer a Presidência no ano de 1993 e a Vice-Presidência em 1997. Nessa efervescente quadra foram inaugurados inúmeros Fóruns, havendo abertura para a questão da Informática, cuja implantação no Tribunal de Justiça o mesmo acabou sendo responsável.
Aloísio Abreu foram daqueles ínclitos Desembargadores que acabaram dando novas feições de modernidade ao Poder Judiciário do Estado de Sergipe. Ademais, atuou como Juiz por dois biênios e mais dois anos entre 1995 e 1997 como Presidente do TRE/SE. Podemos afirmar que o seu vitorioso percurso foi delineado pela sua irrefreável obstinação. Não à toa foi um dos Desembargadores que acabaram exercendo o Governo do Estado de maneira provisória, algo eternizado, sem dúvida alguma, nos Anais da História.
Na afável esfera doméstica, Aloísio Abreu contraiu belo matrimônio com D. Maria Isabel Santana de Abreu, mulher de retilíneo caráter que atuou como Promotora de Justiça da Infância e da Juventude. Era o pai de Alba Germana Santana de Abreu, Marlon Sérgio, Ricardo Múcio e Aloísio de Abreu Filho. Pai dedicado, marido zeloso, foi avô que soube localizar nos filhos e netos seus maiores tesouros.
Aloísio de Abreu Lima faleceu aos 80 anos de idade num dia 02 de maio do ano 2012 deixando às vindouras gerações modelo de contumácia, afinco tenaz e perseverança. Seu atilado bom humor, a abertura de diálogo com a sociedade e, sobretudo, a sua ampla vivência no universo jurídico-social jamais serão olvidados no inconsciente coletivo por ser um pilar de bronze da Justiça em Sergipe.
¹ Texto escrito por Igor Salmeron, Sociólogo - Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS-UFS), servidor do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, faz parte do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP-UFS). Membro vinculado à Academia Literocultural de Sergipe (ALCS) e ao Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras (MAC/ASL).
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