Já recomeçaram o temor e a preocupação dos moradores antigos de Estância, e a imprensa livre do município tem debatido essa questão, quanto ao Abrigo Belvedere, localizado na Praça Barão do Rio Branco, confronte à Catedral Diocesana.
Em 2014, o radialista e jornalista, Magno de Jesus, protestou no seu programa de rádio “A Banda no Coreto” e no seu jornal Tribuna Cultural, a demolição do Abrigo Belvedere.
O Abrigo Belvedere pertencia ao Grupo Raimundo Juliano, e que durante o seu apogeu, passaram diversos comerciantes que negociavam nesse imóvel, de preferência o refresco de diversas frutas típicas da cidade e da região. Como foi o caso de Divaldo Costa, que durante um bom tempo, funcionou com uma lanchonete nesse lugar, vendendo para os moradores da cidade e quem chegava de outras partes do Estado, além dos tradicionais refrescos, pães com manteiga, café com leite, bolos, sanduíches, refrigerantes e até cervejas.
Tiveram momentos também culturais no Abrigo Belvedere, como disseram alguns moradores da cidade que apreciaram apresentações musicais, até do rei do baião, Luiz Gonzaga, Nelson Ned. Na política, Ulisses Silveira (PSD) Guimarães, figura nacional, que discursou nesse imóvel juntamente com o José Carlos Teixeira, Raimundo Silveira Souza e tantos outros políticos à época.
A “Caravana da Cultura”, sob os auspícios do Ministério da Educação e Cultura, em 1964, promoveu o movimento cultural “Caravana da Cultura”: 256 participantes, em oito ônibus, seis automóveis, dois caminhões, toneladas de livros e discos, e uma kombi com exposição. A “Caravana” atravessa Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas. Sob o comando de Pascoal Carlos Magno, essa caravana chegou em Estância e se apresentou justamente no Abrigo Belvedere.
O Abrigo Belvedere, serviu ainda de espaço para a mocidade local trocar conversas, prosas e piadas, jogarem dominó, baralho e dama. Quem de fato é de Estância e viveu esse clima memorável, jamais se contentará com a demolição desse marco, que na época do prefeito Ivan Leite, serviu de palco para a realização do Forró do Lampião.
O morador, Edividal dos Santos, recorda, que no tempo de adolescente, saia de casa para assistir TV no Abrigo Belvedere, porque na sua casa não tinha televisão. Na sua página de Facebook, Gilson Santana, conhecido por Capitão, irmão da professora Tina, postou que o Abrigo Belvedere fez parte de sua vida. Aldenor Albuquerque, perguntou se vai sobreviver ou vai demolir? Capitão lhe respondeu que “vão demolir”.
São tantas lembranças e recordações que muitos dessa cidade e até mesmo visitantes têm do Abrigo Belvedere, que parece que nada disso vai importar ou impedir que o gestor da cidade patrocine a sua demolição. Para onde vai a memória de Estância? O que fez de ruim o Abrigo Belvedere para merecer tanta ignorância? O Abrigo pode ser feio (como disse o morador Marcelo), mas ele guarda no seu interior e na memória do bom estanciano, um passado feliz que jamais se apagará da sua história.
O que a prefeitura deve fazer, é revitalizar esse marco importante dos estancianos.
Veja matérias abaixo, que foram escritas pelo jornalista Genilson Máximo, em 2014 e também pela Secom da prefeitura.
ABRIGO HISTÓRICO DE ESTÂNCIA ESTÁ COM PÉ NA COVA
Quem não se lembra dos “Azulões”, que após o fardo do trabalho nas fábricas têxteis locais, se concentravam no Abrigo Belvedere, tão esperado ponto de encontro, onde os operários renovavam as energias gastas nos teares e aproveitavam o passatempo para colocar em dia a agenda, comentar jogos do Penta Campeão Santa Cruz, do Canarinho Estanciano, e tantos outros entretenimentos, regados a velha e boa Antarctica.
Os jovens de hoje não sabem da imponência do tradicional Abrigo. Não conhecem o seu valor imaterial para a cidade. Em tempos transatos, o abrigo serviu de mesa redonda para poetas, jornalistas, intelectuais e políticos; foi palco de shows musicais de artistas locais, regionais e até de circuito nacional, como Antônio Marcos, Marcos Pitter, Baltazar e outros. Nos finais de anos, no período natalino, o Abrigo era o ponto de enamorados, onde trocavam juras de amor ao degustarem iguarias e refrigerantes.
O Abrigo está com os dias contados. Na visão infausta do prefeito o imóvel deve ser levado ao chão. Mesmo tendo conhecimento de que a população discorda da sua decisão, não dá ouvido. Atualmente o imóvel é utilizado por um grupo de artesãos que comercializa no local há quase dez anos. Rita de Cássia, uma das artesãs, diz que já foi comunicada para deixar o prédio. A decisão da Prefeitura tem deixado os artistas em pavorosa, pois, segundo eles, a Prefeitura ainda não disse oficialmente onde serão alocados.
Segundo Rita de Cássia cerca de dez pessoas tiram seus sustentos dos produtos comercializados no referido imóvel. Sair sem destino está tirando o sono de todos que ali trabalham.
O Abrigo pertenceu ao empresário Raimundo Juliano. Desapropriado na gestão do prefeito Ivan Leite. O imóvel foi construído há mais de sessenta anos em terreno pertencente ao Município. Não é patrimônio histórico, mas é patrimônio cultural. Sua presença está inserida no convívio da cidade através dos tempos, cruzando gestões como de Leopoldo Souza, de Seu Raymundinho, de Walter Cardozo, do próprio Carlos Magno, de Nivaldo Silva e Deyse Garcia, de Zé Nelson, de Gevani Bento, de Ivan Leite; serviu de apoio aos intelectuais no Regime Militar, enfim; é um imóvel que se demolido leva com ele lembranças e recordações que não veremos mais.
SUGESTÃO
Se o prefeito quiser, se tomado de boa vontade, poderá revitalizar o imóvel e
|
|
transformá-lo em um Centro de Informações Turísticas, onde possam ser atendidos turistas, visitantes, tendo a disposição folders sobre o município; pode ainda ser transformado em uma galeria, em um espaço para eventos culturais e outros.
Nossa opinião é contrária. Estância está perdendo numa sequência medonha muito do seu patrimônio histórico e cultural. A demolição do tradicional Abrigo não passa de um desserviço que a atual gestão irá prestar à memória estanciana. Isso será uma cicatriz na sua vida política, como outras que ele carrega - o homem que demoliu o Abrigo.
Por: Genilson Máximo
..............................................
Audiência Pública discute valor histórico do Abrigo Belverde localizado na Praça Barão do Rio Branco
Fonte: SECOM
20/10/2018 às 18h54
A Prefeitura de Estância por intermédio da Secretaria Municipal da Cultura e Turismo, promoveu na tarde da sexta-feira, 19, no Auditório da Secretária Municipal da Educação (antiga Escola do Comércio), Audiência Pública para uma reflexão sobre o valor histórico do Abrigo “Belverde”, localizado na Praça Barrão do Rio Branco.
A Audiência pública ocorreu em atenção ao Ministério Público Estadual que em 2014 recebeu uma ação solicitando o tombamento do prédio do Abrigo. Nesta solicitação, o órgão estadual recomendou que o município realizasse com a população audiências públicas a cerca do valor histórico do Abrigo.
Para auxiliar os presentes na reflexão sobre o tema, o historiador Fernando Valério proferiu palestra abordando os conceitos de Identidade Cultural, Memória e Pertencimento.
Outro aspecto importante abordado pelo historiador foi o valor histórico do patrimônio arquitetônico da cidade no contexto cultural. Explicando como surgiu os casarios coloniais, a sua história no contexto social da cidade e como adquiriram ao longo dos anos valor histórico e identidade com o espaço urbano que está inserido.
Na palestra Valério lembrou que em muitas cidades os abrigos foram construídos em uma área central, onde ocorriam no mesmo entorno social a religiosidade com a presença da Igreja, o político com a sede do Paço Municipal e o social com os Abrigos nas praças. Nesse contexto Estância não fugiu à regra tendo em vista que está situado em frente a Catedral Diocesana e ao lado da sede do poder executivo municipal. O historiador ressaltou que o Abrigo foi construído no ano de 1951, pelo comerciante João Tito de Souza. E que ao longo dos seus 67 anos de existência o Prédio por um tempo serviu de ponto de encontro para interações sociais, formadores de opiniões, apresentação artísticas e como ponto de encontro da classe operária. Mas que devido ao surgimento de outros espaços urbanos em função do crescimento da cidade o Abrigo perdeu sua função inicial, no novo contexto social o valor histórico, tendo em vista que nos dias atuais o espaço deixou de ser usado na função embrionária, e hoje o espaço esteja sendo utilizado pelas artesãs do município como ponto de comercialização de seus artesanatos.
Finalizando, Valério fez uma relação do prédio do Abrigo com o conjunto arquitetônico que representa a identidade cultural da cidade Jardim de Sergipe, que foi construída no período colonial ou durante as primeiras décadas do século XX , e que apesar do valor que o Abrigo tem no espaço urbano, o prédio não faz relação com os demais conjunto arquitetônico.
Após a apresentação de Valério foi franqueada a palavra aos presentes para expor seus pontos de vista e esclarecer dúvidas.
A artesã Rita da Silva ao fazer uso da palavra ressaltou que há mais de 14 anos utiliza o Abrigo como ponto de comercialização de seu artesanato, e que o espaço se tornou um dos mais importantes espaço para comercialização do artesanato estanciano.
O Secretário municipal da Cultura e Turismo Manoel Messias, esclareceu que o objetivo da audiência pública era refletir sobre o valor histórico do Abrigo, chamando a atenção que é desejo do poder público Municpal que a cidade tenha um local adequado para a comercialização do seu artesanato seja no espaço da Praça ou em outro local.
O jovem estudante Robert da Escola Municipal Júlio César Leite chamou a atenção que muitos prédios históricos estão necessitando de uma manutenção afim de preservar a história da cidade. Questionando de quem é a responsabilidade pela revitalização e preservação dos casarios de Estância.
O Poeta Wilton Santos levantou uma reflexão sobre a presença do abrigo na Praça, e questionou aos presentes se na percepção deles o Prédio possuiu elementos para ser tombado como patrimônio da cidade, e chamou a atenção para a relação sentimental das artesãs com o espaço público.
Já o membro do Conselho Municipal de Cultura Everton Santana chamou a atenção para a discussão travada durante a audiência pública em relação ao valor histórico e arquitetônico do Abrigo. E que no seu entendimento diante do que foi debatido o prédio não possuiu os requisitos para se enquadrar como um Patrimônio da cidade, e que na sua percepção o Abrigo destoa de toda o acervo arquitetônico da cidade.