Suas primeiras incursões escolares se deram junto a dedicada Professora Maria de Cerqueira Teles, que era exímia nas letras junto à Escola Nossa Senhora Auxiliadora. Depois, finalizou o primário no Grupo Escolar Sílvio Romero. Passou por diversas atividades profissionais, antes de perceber a sua dadivosa vocação ao dever sacerdotal, dentre estas podemos elencar: alfaiataria, sapateiro, músico ao ter passado um tempo tocando trompa na célebre Lira Popular de Lagarto, passando também pelo artesanato.
Ao notar que nada disso o satisfazia nem dava certo, observou que seu chamamento mesmo era o de exercer o sacerdócio, vindo a se tornar um dos padres mais referenciais em Sergipe e além-fronteiras. No começo, foi descreditado, mas para surpresa de todos, José Carvalho envereda pela sina do seu destino. No dia 14 de fevereiro do ano 1946, contando 20 anos de idade, ele matricula-se então no tradicional Seminário Diocesano Sagrado Coração de Jesus em Aracaju, cujo Reitor era o Monsenhor Olívio Teixeira que lhe fez legar inúmeros ensinamentos de obstinação e fé inquebrantável.
Dedicado, arrematou o Curso de Humanidades no Seminário e depois chegou a se transferir para o Seminário da Paraíba onde cursou Filosofia no ano de 1950. Três anos sucedâneos, em 1953, rumou para o Seminário do Rio Grande do Sul, no município de São Leopoldo donde estudou Teologia com devido afinco. Sua ordenação para sacerdote se deu em 02 de dezembro de 1956, na cidade de Lagarto feita por D. Fernando Gomes, sendo este na época, o 2º Bispo aracajuano. Em 1957 foi escalado pelo Padre José Carvalho para a Vice-Reitoria do Seminário Diocesano de Aracaju.
Sua estrondosa carreira de Educador começou nessa época auferida. O seu interesse pela área educacional já se tornava paradigma, e nesse ano de 1957 assumiu a Reitoria do referido Seminário. Vale ressaltar que no tempo em que fez o Seminário dada as diversas dificuldades financeiras, teve seu lado empreendedor despertado. O ano de 1960 fez-se divisor de águas em sua carreira: Foi quando o Padre José Carvalho funda o Educandário Arquidiocesano Sagrado Coração, depois vindo a se tornar Colégio, que organizou com todo zelo, sendo este um dos melhores colégios sergipanos diga-se de passagem.
O Ginásio Diocesano começou a funcionar no dia 1º de março de 1960. Iniciou oficialmente suas atividades na Praça Camerino, atendendo de começo apenas alunos do sexo masculino. Depois o Ginásio é transformado em Colégio, e três anos após, em 1963, o Ginásio Diocesano passa a ser Colégio Arquidiocesano S. Coração de Jesus, proporcionando à sociedade todas as etapas do ensino. Em 1966, depois de passar por uma série de reformas com recursos angariados na Alemanha, o Arquidiocesano acaba sendo transferido para a Rua Dom José Tomaz, donde se tornou icônico.
Em 1968 o Padre Carvalho é nomeado Conselheiro do Conselho Estadual de Educação pelo Governador do Estado de Sergipe, Lourival Baptista. Em 1969 acaba sendo eleito Presidente da Associação Católica de Sergipe, e em 1975 ocorreu sua nomeação para atuar como Cônego Catedrático do Cabido Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju, pelo Arcebispo de Aracaju, o eminente Dom Luciano José Cabral Duarte.
Em meados de 1976 Dom Luciano então nomeia o destacado Padre Carvalho para desempenhar função de Diretor-Presidente da clássica Rádio Cultura de Sergipe, o que lhe forneceu todo cabedal para ser o Presidente da Associação de Rádios, Televisão e Jornais do Estado de Sergipe. Dom Luciano e Padre Carvalho possuíam uma amizade sincera e bastante prestativa um com o outro, algo que resultou nesse frutífero processo que engrandece o cenário sergipano tanto na seara cultural quanto no universo educacional em geral.
Após exaustivos levantamentos, notamos que em 1998, o ainda Cônego carvalho teve seu trabalho reconhecido em nível nacional, quando nomeado membro titular na antológica Academia Brasileira de Arte, Cultura e História de São Paulo. Em 2002, sua forma de denominação se modifica, após ser nomeado como Monsenhor pelo Papa João Paulo II, isso feito por solicitação de Dom José Palmeira Lessa, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Aracaju.
Entre seus livros e obras, podemos realçar a relevância de uma das, intitulada “Presença Participativa da Igreja Católica na História dos 150 anos de Aracaju”. Das premiações, uma merece enlevo, a entrega da Medalha da Ordem do Mérito Parlamentar, sendo esta a mais alta condecoração do Poder Legislativo, concedida ao Monsenhor José Carvalho de Souza pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Sergipe.
Até o ano de 2012, Monsenhor Carvalho ficou à frente da direção do Colégio, sempre dando exemplo de retidão, caráter e digna honradez. Foram mais de 52 anos se doando de corpo e alma ao retilíneo ensino, incentivando os esportes entre a juventude e, sobretudo, fornecendo exemplo de atuante cidadania. De pedagogia, Monsenhor entendia e jamais cerceou os ensinamentos das disciplinas que eram dadas com democracia e consciencioso espírito.
Conclui-se que esse formador de gerações continuará sendo genuíno patrimônio cultural para todos os sergipanos. Um homem de fibra moral, cuja integridade e esplendor ressoarão por eras. Seus serviços de evangelização e educação integral permanecem imorredouros, bem como é perene o seu exemplo imbuído de melíflua cristandade. De olhar doce e receptivo, esse servidor do povo em suas mais de seis décadas de sacerdócio, nos ressalta que para ter o preparo necessário no enfrentamento das pelejas diárias, é preciso três qualidades fundamentais: saber o que faz, fazer com amor, com interesse e, por fim, a honestidade.
Portanto, da galeria dos admiráveis educadores sergipanos, o Monsenhor José Carvalho de Souza ocupa lugar vitalício, afinal, são raras as figuras humanas que dedicam a vida em prol da educação e da cultura sergipana. Assim como Sêneca, ao semear com sabedoria e colher com paciência, vemos qua a educação influi sobre toda a existência. Eis José Carvalho de Souza, um modelo de cristão por excelência, edificado por altruísmo, generosidade, beneficência e desprendimento. Não seriam esses os aspectos basilares de um afável educador?!
¹ Texto escrito por Igor Salmeron, Sociólogo - Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS-UFS), servidor do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, faz parte do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP-UFS). Membro vinculado à Academia Literocultural de Sergipe (ALCS) e ao Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras (MAC/ASL). E-mail para contato: igorsalmeron_1993@hotmail.com.