A rua de São João, no Bairro Industrial, em Aracaju, é sede de um dos festejos juninos de maior tradição na história da capital sergipana. Neste ano, a programação da festa foi iniciada com sua abertura, no dia 31 de maio, e deveria ter sido retomada no último sábado (4). Entretanto, o Ministério do Turismo não liberou os recursos necessários para que isso acontecesse. Não é a primeira vez que a festa é inviabilizada por falta de verba.
De acordo com nota oficial divulgada pela Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap) e pelo Governo de Sergipe no último domingo (5), o motivo seria o não cumprimento de uma das exigências do Ministério: os artistas e grupos que iriam compor a programação dos festejos deveriam apresentar três notas fiscais de eventos dos quais tenham participado anteriormente.
Segundo a Fundação, esse requisito só foi comunicado na sexta-feira (3). “A Funcap apresentou todos os argumentos técnicos junto ao Ministério do Turismo quanto à impossibilidade de cumprimento da referida exigência e continua trabalhando para a liberação dos recursos”, informou o órgão.
Ainda de acordo com a Funcap, caso não haja liberação dos recursos por parte do Ministério, o Governo de Sergipe se comprometeu em assumir os custos para que ao menos a programação principal do evento - nos dias 23, 24, 28 e 29 de junho - ocorra normalmente. Entretanto, ainda não há previsão de como ficará a situação dos demais dias da festa.
Na publicação da nota nas redes sociais, a população demonstrou insatisfação com o cenário.
A indignação também é um sentimento dos organizadores do evento. Para Diego Mitchell, presidente do Centro Social Cultural São João de Deus, responsável pelos festejos, essa situação reflete um descaso do poder público com a festa e a população.
Ele aponta a impraticabilidade da exigência do Ministério do Turismo, visto que muitos dos artistas que compõem a programação da Rua de São João estavam parados durante esses dois anos de pandemia de Covid-19, sendo inviável a apresentação de notas de eventos anteriores.
Vale ressaltar que a verba para realização da festa foi adquirida por meio de emenda parlamentar no valor de R$ 120 mil pelo deputado federal por Sergipe Fábio Mitidieri, ainda em 2020, ano em que o evento foi suspenso por conta da pandemia.
“É tempo suficiente para ser devidamente aplicado, conforme requer todo protocolo. Faltou mesmo foi prioridade com a centenária histórica Rua de São João, que merece atenção devida e prestígio de todos”, argumenta Diego Mitchell.
Os participantes dos festejos também demonstram insatisfação com esse quadro. Jailton dos Santos, 61 anos, conhecido na Rua de São João como "Janjão", frequenta o evento desde os 7 anos de idade e há 42 anos marca a quadrilha "Unidos em São João".
Para ele, a festa ainda é o cartão postal dos festejos juninos em Aracaju, apesar de notar um enfraquecimento da tradição por falta de recursos nos últimos anos.
“Vejo isso com muita tristeza. Os políticos não ligam mais para a Rua de São João que, de uns anos para cá, vem sofrendo com isso”, lamenta o quadrilheiro.
Para Edleide Santos, frequentadora assídua da festa há aproximadamente 20 anos, o sentimento é o mesmo: o que falta é apoio e suporte das autoridades. “Talvez se os moradores não tomassem a frente acho que a rua de São João só teria o nome mesmo. É triste, mas é a realidade do nosso estado.”, considera.
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