“Não cheguei a tomar banho, só molhei os pés”. Este trecho do relato de Raquel Santana, que descobriu por um exame de rotina que havia sido infectada com a esquistossomose, evidencia os meios pelos quais a doença, que atinge cerca de 240 milhões de pessoas em todo o mundo, ainda é considerada uma patologia negligenciada. Em Sergipe, a esquistossomose, conhecida popularmente como barriga d’água, é uma parasitose de alta prevalência, com 51 dos 75 municípios em situação endêmica, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Em todo o estado, 2.094 casos e 26 óbitos foram contabilizados em 2020 e outros 3.813 casos e 28 óbitos em 2019. A pessoa adquire a infecção ao entrar em contato com água doce onde existam caramujos infectados pelo verme causador da esquistossomose, o Schistosoma mansoni. Os casos ocorrem principalmente em áreas com condições sociais e econômicas inadequadas, incluindo o saneamento e o acesso a bens de saúde. No entanto, é o baixo entendimento sobre a doença que faz com que a esquistossomose permaneça como problema de Saúde Pública. “Fui fazer um exame de rotina que a ginecologista tinha passado e em um deles apareceu uma verme, e a médica me disse que era essa verme de rio. Fui fazer o tratamento com o médico e comentei ‘não cheguei a tomar banho de rio, só molhei os pés na Lagoa dos Tambaquis’, e ele me disse que é de lá que estão saindo a maioria dos casos de esquistossomose, e que ele não sabia o motivo de ainda não terem fechado o lugar”, explicou Raquel Santana, assistente social.
Dados que dão suporte a este tipo de narrativa estão no Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose mansoni e Geohelmintos (INPEG 2010-2015), onde Sergipe aparece com uma taxa de 8,19% de casos positivos entre 10.302 examinados, índice bastante superior ao percentual médio de positivos na região Nordeste, que registrou 1,27% de um total de 111.606 examinados. Foi esse cenário que fez municípios como Salgado retomar, depois de oito anos, o Programa de Combate à Esquistossomose. Naprimeira etapa, os profissionais do setor de endemias analisaram o material fecal contido emlâminas, que posteriormente foi encaminhado para o Laboratório Central de Saúde Pública deSergipe (Lacen) para uma revisão. “Nós reiniciamos o programa em agosto de2021 e, durante esse período, 30 pessoas testaram positivo e foram medicadas. Em 2022, tivemos 38 pessoas com resultado positivo, queserão medicadas. Estamos trabalhando no controle, fazendo palestras educativas em escolase quando os pacientes chegam para receber a medicação”, explicou a coordenadora de endemias de Salgado, Telma Maria.
O TRATAMENTO
O tratamento para a esquistossomose existee é disponibilizado pelo Governo Federal paratodos os municípios, mediante solicitação. No entanto, segundo a gerente do Núcleo de Endemias da Diretoria de Vigilância em Saúde da Secretariade Estado da Saúde (SES) e especialista em Vigilância de Surto, Sidney Sá, apesar de existir o acesso ao tratamento, é importante dialogar coma população a respeito dos riscos que eles corremcontraindo a doença. “Atualmente o Estado de Sergipe não tem umperfil traçado da esquistossomose porque há umdéficit muito grande na busca ativa dos casos.Em 2020, dos 51 municípios endêmicos para adoença, apenas 16 foram em busca dos pacientes,quando foram realizados 11.437 exames e confirmados 440 casos. Os demais foram detectadosatravés da demanda espontânea que chegou àsunidades de saúde”, pontuou a especialista.
Fonte: Jornal da Cidade