O município de Estância está situado no sudeste do Estado de Sergipe, a 56 km em linha reta e 70 km por Rodovia Federal da capital do estado, ocupando uma extensão territorial de 649.6 km2 de, ou seja, 2.94% da área do estado. Faz parte da micro-região do litoral Sul sergipano e compreende a zona fisiográfica do litoral, limita-se ao Norte e Nordeste com o município de Itaporanga d'Ajuda; ao Leste e Sudeste com o Oceano Atlântico; ao Sul com o Estado da Bahia, ao Sudeste com os municípios de Indiaroba e Santa Luzia do Itanhi; ao Oeste com o município de Arauá e ao Nordeste com o município de Salgado.
A cidade de Estância foi inicialmente uma fazenda de criação de gado toponímia da qual recebe o nome de origem. Constituindo-se ponto de encontro na rota do gado, uma via de acesso para a circulação de mercadorias (devido principalmente a sua localização, cortada pelo rio Piauí e seu principal afluente, o Rio Piauitinga1 ), tornou-se rapidamente um centro polarizador da economia da região centro-sul de Sergipe Del Rey. Em virtude da sua importância como porto de escoamento de produtos agrícolas e da pecuária, Estância torna-se em 1621 - Fundação da Povoação de Estância, ficando por mais de um século subordinada à Vila de Santa Luzia do Real (atualmente Santa Luzia do Itanhy), e tendo sua separação judicial somente em 1757.
O crescimento econômico de Estância foi possibilitado devido a sua posição no comércio exterior, constituindo-se porto de intercâmbio entre a Europa (na exportação de cana-de-açúcar, algodão e gado) e cidades brasileiras. Paralelamente, a decadência da Vila de Santa Luzia levou a Fundação da Povoação de Estância a tornar-se a sede da Vila de Santa Luzia, passando a denominar-se Vila Constitucional de Estância. Elevada à categoria de cidade em 1848 o município de Estância, com a economia voltada para a criação do gado e a cana de açúcar, a partir da última década do século XIX tem sua paisagem remodelada na nova divisão social e territorial do trabalho na escala nacional.
Em 1891, com a fundação da Fábrica de Tecidos Santa Cruz, uma “outra” cidade é produzida sob o signo da fábrica, passando a se inscrever na indústria têxtil, principalmente a partir de 1912, com a fundação da Fábrica Senhor do Bonfim. A fundação da Fábrica de Charutos Walquíria em 1916 abre ainda mais as relações comerciais de Estância com outros países, em virtude da grande aceitação dos charutos Walquíria no comércio externo. Em 1929 é implantada a Fábrica de Óleos Vegetais “Luso Brasileira”.
Aos poucos a vida dos moradores estancianos é demarcada no tempo da lógica do capital, permanecendo, porém o ritmo lento da cotidianidade da/na “vila operária”. O processo de expansão industrial têxtil no município ocorreu a partir de 1930, com a fundação da Fábrica de Tecidos Piauitinga. A concentração de três fábricas têxtis em Estância significou um aumento da força de trabalho operária e consequentemente, a sua organização. As alterações nas relações de trabalho a partir da emergência das três fábricas levou à primeira Greve operária em Estância, no ano de 1934.
Esta ocorreu na Fábrica Senhor do Bonfim, e já em 1937 foi criado o Sindicato dos trabalhadores das fábricas têxteis. Pode-se afirmar que a década de setenta no século passado, marcou o período de intensificação da industrialização e a conseqüente urbanização da cidade de Estância, com a implantação em 1974 do Distrito Industrial nesse município.
Nos dias atuais, a indústria ainda se apresenta como a principal atividade econômica contribuindo com o maior volume de impostos, vindo em seguida o setor comercial e de serviços. O município tem o maior centro comercial da mesorregião em que está localizado, constituindo-se também, o de maior intensidade urbana.
De acordo com o IBGE, em 1970, o município de Estância possuía 28.045 habitantes, sendo que no ano 2000 houve um elevado crescimento populacional, atingindo 58.836 habitantes; a quarta posição no estado em número de habitantes. Com uma população urbana de 50.750, e 1 O livro de BEZERRA (1952) constitui leitura detalhada do processo de formação territorial de Sergipe, destacando o seu crescimento econômico e povoamento via as rotas de gado, sob o comando dos foreiros latifundiários da Casa da Torre, os Garcia d´Avila e seus sucessores.
O processo de formação territorial de Sergipe pode ser identificado segundo esse autor na toponímia de suas cidades. Originadas de fazendas, dos pousos das feiras nas quais se dá a ocupação do leste e nordeste sergipense, destacando a cidade de Estância. A. L. Conceição, Scientia Plena 4, 125401, 2008 4 uma população rural de 8.086 habitantes. Perfazendo uma alta densidade demográfica de 90.57%, e uma alta taxa de urbanização, 86%.
Embora apresente um baixo percentual de ocupação das terras rurais a atividade agrícola contribui de forma direta para o crescimento do PIB no município, uma vez que grande parte do cultivo agrícola (laranja e maracujá) é direcionada para o beneficiamento e consolidação industrial. Nas áreas limites com os municípios de Boquim e Salgado estendem-se campos de cultivos de laranja.
O avanço da citricultura nos anos de 1970 e 1980 foi o responsável pelo aumento de fábricas de sucos, esta situação obedeceu à dinâmica do projeto nacional de desenvolvimento sob a sintonia da nova divisão internacional do trabalho. A fábrica, portanto, tem grande significado e significante na história dos sujeitos residentes do município. O peso histórico de sua presença teve e tem fortes influências na produção das relações sociais e nos modos de vida do urbano.
Vidas submetidas às tensões diante das alterações da estrutura produtiva que se territorializa em contextos diferenciados sob diferentes formas que assume a divisão social do trabalho. 2.1 A consolidação do Urbano Nos anos de 1970 o Estado brasileiro promove mudanças para atender as exigências do novo modelo de desenvolvimento implementando políticas e programas direcionados para o desenvolvimento regional.
O I Plano Nacional de Desenvolvimento/PND (1972-1974), o II PND (1975-1979), assim como o III PND (1980-1985) fizeram parte da política de integração nacional com o objetivo de consolidar o desenvolvimento industrial e agrícola implantando pólos de desenvolvimento. Atendendo ao Plano Nacional de Desenvolvimento foram criados centros e distritos industriais, neste viés foram implantados o Distrito Industrial de Estância (DIE) onde foram instaladas fábricas de tecidos, indústrias alimentícias e outras de menor porte.
Até meados da década de oitenta, a política de investimentos industriais alterou sensivelmente a economia do município, fato favorecido face aos investimentos das empresas estatais e dos investimentos privados. As principais instalações no Distrito Industrial de Estância foram: a Fábrica da Brahma, construída em 1998, nas margens da BR-101 a 18 km no limite da fronteira dos municípios de Estância e Itaporanga d´Ajuda e as Fábricas de Beneficiamento de Produtos Agrícolas Amido Glucose.
O padrão de acumulação capitalista no Brasil estruturou-se ao longo das décadas de 1950 a 1970, através do processo de superexploração da força de trabalho, via articulação entre baixos salários, jornada de trabalho prolongada e da intensidade do ritmo de trabalho (ANTUNES, 2004). Enquadrada na lógica do fordismo periférico, a acumulação intensiva garante o aumento da taxa de mais valia, favorecida sobremodo por um exército de reserva. Nos países periféricos as altas taxas de exploração, alicerçadas na presença de um exército de reserva, levam os salários a baixos patamares e, conseqüentemente, um baixo custo para o mercado externo.
A partir da década de oitenta desencadeia-se uma profunda mudança na estrutura produtiva capitalista em todas as escalas mundiais. As alterações tecnológicas, com a automação, a robótica e a microeletrônica provocaram profundas repercussões nas relações de produção e de trabalho, na medida em que a produção fordista, sob o signo da produção em série e de massa perde espaço para a especialização flexível, e conseqüentemente altera a lógica da acumulação do capital.
A produção em massa sem a priorização do trabalho qualificado, mas do quantitativo típico da grande indústria fordista mecanizada até então dominante, é substituída em ritmos 2 Referências da densidade demográfica e da taxa de urbanização foram obtidas no livro de FRANÇA; GRAÇA, (2000).
Há três anos (2002) o Grupo Maratá (de Lagarto), assumiu a unidade da Frutene, em Estância. Segundo informações dos seus próprios proprietários, a Frutene produzia em novembro de 2005 o total de 28 mil toneladas de suco de laranja por ano. Sendo que metade da matéria-prima é sergipana e o restante proveniente da Bahia. A produção é voltada principalmente para o mercado europeu.
(*) Alexandrina Luz Conceição* Núcleo de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, São Cristóvão SE, Brasil aluz@oi.com.br (Recebido em 14 de dezembro de 2008; aceito em 28 de dezembro de 2008)