Pode parecer óbvio, mas à Igreja é preciso ser Igreja. E para ser Igreja, evangelizar, catequizar, assistir e fazer o social é necessário comunicar-se. Comunicar-se consigo mesma e com os seus exteriores.
E comunicar-se por enormes veredas de canais, que não apenas a missa e os tantos outros dos seus sacramentos que ela traz consigo há quase dois séculos.
E é com esta missão - a de comunicar-se com o seus internos e externos - que a Arquidiocese de Aracaju criou o Núcleo de Comunicação Social, cuja coordenação cabe hoje ao padre Marcelo Conceição, 37 anos.
Ele próprio um preparado sob medida para essa atribuição, uma vez que, além da Filosofia e da Teologia que fez para ordenar-se padre, bacharelou-se depois também em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo.
Sob a tutela do padre Marcelo Conceição estão a Diretoria-Executiva da Rádio Cultura e a Coordenadoria do Núcleo de Comunicação Social, um site e um jornal impresso - a Arquidiocese conta ainda com a Coordenadoria da Pascom Arquidiocesana - Pastoral da Comunicação - Serviço Pastoral de Articulação com as Paróquias no âmbito da comunicação.
Padre Marcelo Conceição garante que o arcebispo de Aracaju, Dom João José, tem plena noção do poder da comunicação, estimula as ações dos seus liderados nessa esfera e ainda é ele mesmo um partícipe delas, na medida em que desenvolve programas de rádio com finalidades evangelizadoras.
“Dom João é um pastor sensível e preocupado com a evangelização. Desse modo, segue os passos dos avanços no campo da comunicação presente na Arquidiocese iniciados por Dom José Palmeira Lessa. Nosso atual arcebispo tem buscado ampliar esse ambiente na Arquidiocese, ampliando sua Assessoria de Comunicação e investindo na Rádio Cultura, agora inclusive levando-a para FM”, constata padre Marcelo.
E delimita seu papel: “Sou responsável pela Comunicação Oficial da Arquidiocese de Aracaju, onde estão a Rádio Cultura, a Pascom e a Ascom. As Dioceses de Estância e de Propriá possuem assessorias próprias. Porém, trabalhamos em unidade. Afinal, a missão exige”, lembra ele.
Nesta Entrevista, padre Marcelo Conceição fala bem à vontade e não deixa pedra sobre pedra. Não é um alarmista e nem se esconde atrás de medos. Fala de um tudo.
Das ações que correm desenvoltas para a conversão da Rádio Cultura de AM em FM - veículo de 63 anos a serviço da Igreja Católica em Sergipe -, até da legalidade da venda do Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus pela Arquidiocese ao papel que se deve espera da Igreja Católica diante no instante tenso da política nacional.
“Nos documentos oficiais, em sua ação evangelizadora e nos presbitérios, a Igreja não cessa de orientar as consciências sem jamais interferir nas opções políticas concretas tomadas livremente, pois não é esta a sua missão”, diz ele.
O complementa: “O papa Francisco nos ensina que a Igreja não é uma ONG. Não é um sindicato, um partido político. A Igreja é outra coisa: a Igreja, segundo o papa, é um hospital de campo, onde se acolhe todos assim como o são, cuidando das feridas de todos. E isso faz parte da sua missão”.
O padre Marcelo Conceição dos Santos, que em 13 de julho deste ano celebra 10 anos de ordenação presbiteral, nasceu em Carira, Sergipe, no dia 9 de fevereiro de 1985, e é filho do casal Josivaldo Alves dos Santos e Maria de Fátima da Conceição.
Ele formou-se em Filosofia em 2008, em Teologia em 2012 e em Jornalismo em 2018. Fez Filosofia e Teologia no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, tendo esses estudos reconhecidos pela Faculdade Batista do Brasil e pela Universidade Católica do Salvador, e fez Jornalismo por uma universidade local.
Antes de ser ordenado padre no dia 13 de julho de 2012, ele fora ordenado diácono em 21 de dezembro de 2011. Nesses quase 10 anos a serviços eclesiásticos, Marcelo Conceição já ocupou muitos espaços na grade da Igreja.
Ainda seminarista, em 2009 fora nomeado pelo então arcebispo Dom José Palmeira Lessa assistente eclesiástico do Movimento da Mãe Rainha. Dom Lessa sempre viu nele algo diferenciado no campo da vocação.
Em 2011, padre Marcelo Conceição foi enviado para atuar como auxiliar na Paróquia São Pio X, no 18 do Forte. Também em 2011, foi secretário do Arcebispado e auxiliar na Assessoria de Comunicação da Arquidiocese
Em 2012, foi indicado administrador Paroquial da nova Paróquia Sagrada Família no Pau Ferro, no agora bairro Dom Luciano. Em 2013, era o capelão do Hospital e Maternidade Santa Isabel.
Em 2018, assumiu a Coordenadoria de Comunicação da Arquidiocese. Em 2019 chega a pároco na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, do Orlando Dantas.
Em 2020, foi nomeado diretor da Rádio Cultura de Sergipe e coordenador de Comunicação da Arquidiocese. Em 2021, ele coordenou a Pascom Arquidiocesana - Pastoral da Comunicação - Serviço Pastoral de Articulação com as Paróquias no âmbito da comunicação.
DO OFÍCIO DE COMUNICAR A BOA NOVA
“Fazer comunicação é sempre desafiador. Na igreja, não é diferente. Porém, nessa tentativa de oferecer o melhor, o esforço em apresentar sempre um serviço de qualidade nos coloca diante de uma missão embora difícil, mas satisfatória, pois comunicamos o Evangelho que é a boa nova”
JLPolítica - É difícil, padre, responder pelo trabalho de Comunicação Social da Arquidiocese de Aracaju?
Marcelo Conceição - Fazer comunicação é sempre desafiador. Na igreja, não é diferente. Porém, nessa tentativa de oferecer o melhor, o esforço em apresentar sempre um serviço de qualidade nos coloca diante de uma missão embora difícil, mas satisfatória, pois comunicamos o Evangelho que é a boa nova. Nessa linha, vemos que tudo se torna fácil, pois fazemos o que o Senhor vai nos conduzindo.
JLPolítica - A sua ação de comunicador perpassa todas as instâncias da Igreja Católica Apostólica Romana no Estado de Sergipe ou só a Arquidiocese de Aracaju?
MC - Sou responsável pela Comunicação Oficial da Arquidiocese de Aracaju, onde estão a Rádio Cultura, a Pascom e a Ascom. As Dioceses de Estância e de Propriá possuem assessorias próprias. Porém, trabalhamos em unidade. Afinal, a missão exige.
JLPolítica - Os padres e bispos são palatáveis aos processos comunicacionais, ou são impermeáveis por eles?
MC - Diante do advento das redes sociais, uma comunicação que se inova perpassa os meios tradicionais é sempre uma novidade para nós no contexto geral. Assim sendo, não é diferente no meio eclesiástico, e temos nos interpelado e percebido a necessidade de ocupar os espaços disponíveis para comunicar o Evangelho, daí o que mais temos testemunhado é a presença de padres e bispos nos meios de comunicação. Na Arquidiocese, muitos sacerdotes demonstram e aceitam o desafio da evangelização nos meios de comunicação. Aqui na rádio e em outros meios contamos com vários sacerdotes apresentando e produzindo conteúdos.
QUANDO O EVANGELHO PEDE NOVO COMUNICAR
“Diante do advento das redes sociais, uma comunicação que se inova perpassa os meios tradicionais é sempre uma novidade para nós no contexto geral. Assim sendo, não é diferente no meio eclesiástico, e temos nos interpelado e percebido a necessidade de ocupar os espaços disponíveis para comunicar o Evangelho”
JLPolítica - O arcebispo Dom João José tem noção do valor da Comunicação Social da Igreja, ou é indiferente a ela?
MC - Dom João é um pastor sensível e preocupado com a evangelização. Desse modo, segue os passos dos avanços no campo da comunicação presente na Arquidiocese iniciados por Dom José Palmeira Lessa. Nosso atual arcebispo tem buscado ampliar esse ambiente na Arquidiocese, ampliando sua Assessoria de Comunicação, investindo na Rádio Cultura, agora inclusive levando-a para FM. Sem contar que o arcebispo também tem vários espaços nos meios de comunicação: aqui na Rádio Cultura, à frente do Programa A Voz do Pastor e também na TV Canção Nova.
JLPolítica - Afinal, qual é mesmo o papel da Comunicação Social no contexto da Igreja?
MC - Ao constatar que os meios de comunicação são os “areópagos dos tempos modernos”, a Igreja, através do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, tem refletido sobre a necessidade de interpretar os sinais do nosso tempo e, com prudência e responsabilidade, realizar sua missão profética nessa nova realidade através da integração da mensagem do Evangelho no ambiente da comunicação.
JLPolítica - Por que o senhor assume a liderança da Comunicação Social da Igreja? Além de Teologia, o senhor fez Jornalismo?
MC - Em 2011, Dom José Palmeira Lessa, percebendo em mim certa facilidade para comunicar, resolveu, junto ao padre Jânison de Sá, então reitor do Seminário, me enviar a uma universidade para cursar Comunicação, e daí vem a minha presença à frente do Núcleo de Comunicação. Além disso, a comunicação sempre foi uma paixão em mim. Desde jovem, tenho buscado utilizar os meios disponíveis para evangelizar.
DO PAPEL DA RÁDIO CULTURA NO CONTEXTO DA IGREJA
“Há 62 anos ela existe pela inspiração de Dom Távora. Assumindo um papel especial de educar, evangelizar e anunciar a fraternidade, a Rádio Cultura é um grande serviço para o povo sergipano, sendo o veículo oficial de comunicação da Arquidiocese, assim como da Província Eclesiástica de Aracaju”
JLPolítica - Qual é o papel da Rádio Cultura, emissora da Igreja, neste contexto?
MC - Há 62 anos ela existe pela inspiração de Dom Távora. Assumindo um papel especial de educar, evangelizar e anunciar a fraternidade, a Rádio Cultura é um grande serviço para o povo sergipano, sendo o veículo oficial de comunicação da Arquidiocese, assim como da Província Eclesiástica de Aracaju.
JLPolítica - Os estatutos dela permitem que tenha uma relação de mercado comum às demais emissoras comerciais do Estado? Ou seja, que receba normalmente anúncios?
MC - A Rádio Cultura é uma obra de Deus, mantida por sócios benfeitores que, de forma generosa, rezam, divulgam e colaboram materialmente para a manutenção dessa obra. Além disso, temos relação comercial com empresários sergipanos que acreditam na comunicação para a vida que desenvolvemos. De forma que anunciam conosco e nos auxiliam a manter no ar essa emissora.
JLPolítica - O jornalismo dela tem inovado ou se mantido estanque?
MC - A emissora tem se preocupado em assumir o papel da nova Cultura, que consiste na evangelização, modernização e amor à boa comunicação. Com isso, temos motivado ações de comunicação que favoreçam a boa qualidade do nosso jornalismo, que sempre foi e será comprometido com a credibilidade e a ética.
AÇÕES PARA MIGRAÇÃO DA RÁDIO DE AM PARA FM
“Estamos trabalhando com todas as nossas forças para esse momento logo acontecer, sendo dessa maneira uma meta a ser alcançada logo com a graça divina, sendo que nesse instante aguardamos apenas a deliberação por parte do Ministério da Comunicação”
JLPolítica - Como é que está indo o processo de migração da condição de Rádio AM para FM da Cultura?
MC - Estamos trabalhando com todas as nossas forças para esse momento logo acontecer, sendo dessa maneira uma meta a ser alcançada logo com a graça divina, sendo que nesse instante aguardamos apenas a deliberação por parte do Ministério da Comunicação.
JLPolítica - Isso custa muito, padre?
MC - Sim. Diria que é quase como pensar em uma nova rádio, com tudo novo para ser adquirido, além de buscar se atualizar para nova operação.
JLPolítica - Mas por que já não está plenamente convertida?
MC - A pandemia, infelizmente, dificultou muito, pois dependemos do Ministério das Comunicações. Da nossa parte, já cumprimos várias exigências naturais do processo. Agora nos resta aguardar o posicionamento do Ministério.
DO PODER E DO ALCANCE DA RÁDIO CULTURA
“Poderíamos pensar no contexto da audiência em números. Falamos de corações impactados pela palavra de Deus. Quando falamos de dados, temos uma boa percepção. Mensalmente, no aplicativo, temos uma média de 200 mil acessos, fora as ondas do rádio. Assim, a Rádio Cultura está entre as cinco emissoras mais escutadas de Sergipe”
JLPolítica - Qual é a interface que a Rádio Cultura tem com a comunidade católica sergipana, e isso lhe agrada?
MC - É boa e, sem dúvida, nos agrada. Toda a nossa programação é implementada por pessoas que estão envolvidas diretamente na missão da Igreja em nosso Estado. Dom João, arcebispo de Aracaju, bem como Dom Vitor, de Propriá, ocupam espaços importantes dentro da programação, além de expressivo número de padres. Diversos leigos de variados grupos, pastorais e movimentos também enriquecem a programação da emissora.
JLPolítica - A audiência dela não estaria bem abaixo da liderança que a religião católica detém entre os sergipanos?
MC - Poderíamos pensar no contexto da audiência em números. Nós falamos de corações impactados pela palavra de Deus. Quando falamos de dados, temos uma boa percepção. Mensalmente, no aplicativo, temos uma média de 200 mil acessos, fora as ondas do rádio. Assim, a Rádio Cultura está entre as cinco emissoras mais escutadas de Sergipe.
JLPolítica - Além da Rádio Cultura, a Igreja Católica em Sergipe detém outros canais de comunicação?
MC - Hoje, a Rádio Cultura passa por uma expansão considerável. Temos construído uma WebTV, contamos com um impresso mensal e o Portal C8. É desta forma que a nossa Arquidiocese tem estabelecido sua comunicação.
PASTORAL VOCACIONAL X RENOVAÇÃO DE PADRES
“O trabalho vocacional da Igreja continua intenso. Cristo chama no tempo, no espaço e na geografia e, assim sendo, vemos que Deus continua despertando vocações. Por isso os nossos seminários, graças a Deus e ao trabalho da Pastoral Vocacional, estão com um número considerável de vocações”
Política - Quais foram as mudanças operadas na Rádio Cultura pelo senhor enquanto novo administrador?
MC - Desde 2020, com a nossa chegada, a emissora vem trilhando um caminho preparador para a migração. Sendo dessa maneira que temos na estrutura do prédio uma programação 100% católica e com espaços de evangelização presentes em shoppings da cidade e procuramos tornar a nossa emissora cada vez mais presente nas comunidades.
Política - Qual foi o impacto da pandemia de coronavírus sobre a ação da Igreja, do aspecto financeiro, do evangelizador à parte social?
MC - De fato, como em qualquer outra esfera da sociedade, a Igreja sofreu muito e ainda tem suas dificuldades para manter-se, pois as comunidades são impactadas pelas dificuldades pelas quais as pessoas passaram e passam.
JLPolítica - O senhor admite que há contemporaneamente uma deficiência de manifestação de interesse de jovens pelo sacerdócio?
MC - Não admito isso não. O trabalho vocacional da Igreja continua intenso. Cristo chama no tempo, no espaço e na geografia e, assim sendo, vemos que Deus continua despertando vocações. Por isso os nossos seminários, graças a Deus e ao trabalho da Pastoral Vocacional, estão com um número considerável de vocações.
O DOM LUCIANO DUARTE E A NOVA PARÓQUIA
“Fui o primeiro padre daquela comunidade que foi elevada a Paróquia. Ali estive presente na construção do templo e também atuei na catequese do povo. Ali auxiliei na fundação da União Filarmônica Dom José Palmeira Lessa, na escola de artesanato, no ambulatório para os pobres, onde os médicos voluntários atendem à comunidade”
JLPolítica - Qual é a atual situação do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição em Aracaju? Ele consegue completar as vagas ofertadas?
MC - O seminário é o coração da Diocese. Nesse lugar são formados os futuros padres e aqui em nossa Província está localizado no bairro Lamarão, ali atuando na formação acadêmica, humana, afetiva, comunitária e pastoral dos jovens seminaristas através do trabalho esmerado do magnífico reitor, o padre Carlos Henrique e sua equipe. O Seminário atua junto à comunidade local, auxiliando também na catequese e na inserção através das celebrações. Quanto à capacidade de acolhida naquela casa, o número de seminaristas nos é satisfatório.
JLPolítica - Quantos paróquias existem hoje, padre, na Arquidiocese de Aracaju
MC - Na nossa Arquidiocese temos 112 paróquias e em cada uma delas várias comunidades que contribuem com a evangelização, gerando o que a Igreja nos chama a vivermos - a experiência de uma igreja, comunidade de comunidades.
JLPolítica - Qual é a dimensão social do pastoreio que o senhor exerce no Conjunto Dom Luciano Duarte?
MC - Fui o primeiro padre daquela comunidade que foi elevada a Paróquia. Ali estive presente na construção do templo e também atuei na catequese do povo. Ali auxiliei na fundação da União Filarmônica Dom José Palmeira Lessa, na escola de artesanato, no ambulatório para os pobres, onde os médicos voluntários atendem à comunidade. Participei ainda do grande esforço de criação do novo bairro que, em homenagem ao grande arcebispo de Aracaju, chama-se hoje Dom Luciano.
FIM DA PANDEMIA, RECOMEÇO DA FÉ
“Após dois anos sendo privado de uma participação presencial no sacramento da Eucaristia, o povo de Deus vem regressando com grande alegria às celebrações da Igreja. Constatamos, especialmente no período quaresmal, no Tríduo Pascal e no Domingo de Páscoa, um desejo renovado de vivenciar uma profunda experiência com o Cristo Ressuscitado”
JLPolítica - Quais foram os desafios e experiências vividos pelo senhor na Paróquia do Orlando Dantas?
MC - Pastorear o Orlando Dantas é uma grande responsabilidade, pois ali estou substituindo grandes líderes, como o padre Arnóbio Patrício de Melo, grande sacerdote que tem trabalhos relevantes ali e na sociedade aracajuana. Penso que continuar os passos tão importantes já dados é o grande desafio. Além disso, junto à comunidade, temos buscado finalizar todo o processo de construção da casa da mãe, a nossa Matriz. Graças a Deus e ao trabalho bendito do povo, temos nos aproximado da finalização deste processo.
JLPolítica - Com a dissipação em parte da pandemia do coronavírus ficou no ar a impressão de que a Semana Santa deste 2022 foi marcada por uma expressão de fé mais forte. Essa é uma impressão real ou ilusório?
MC - Após dois anos sendo privado de uma participação presencial no sacramento da Eucaristia, pelos motivos que você mencionou, o povo de Deus vem regressando com grande alegria às celebrações da Igreja. Constatamos, especialmente no período quaresmal, no Tríduo Pascal e no Domingo de Páscoa, um desejo renovado de vivenciar uma profunda experiência com o Cristo Ressuscitado.
JLPolítica - Mas o senhor não acha que os católicos estão cada dia mais dispersos diante dos rituais deste período de Páscoa?
MC - A Igreja tem grandes desafios, e um deles é ser presença em um mundo cada vez eclético, onde na sua diversidade já não temos unanimidade. Porém, naqueles que realmente são fiéis católicos não percebemos esvaziamento. Ao contrário, os ritos e os momentos celebrativos estão cada vez mais participativos e com a presença de crianças, jovens, adultos e anciãos. Neste momento, quando temos retornado às celebrações com a presença dos fiéis, percebemos a alegria deste regresso, do encontro, da participação do povo que marcha rumo aos céus.
RECEITA DA BOA RELAÇÃO IGREJA X COMUNIDADES
“A receita é a mesma desde a fundação da Igreja, há mais de dois mil anos: a Igreja deve exercer sua missão, em diálogo com as comunidades, de modo sempre respeitoso. De olhos e corações sempre abertos para o desenvolvimento da sociedade, ela contribui, sem cessar, para a promoção da solidariedade, da paz e da justiça à luz do Evangelho de Jesus Cristo”
JLPolítica - O senhor apontaria uma receita apropriada para uma relação propositiva entre a Igreja Católica e as comunidades nas quais ela está inserida?
MC - A receita é a mesma desde a fundação da Igreja, há mais de dois mil anos: a Igreja deve exercer sua missão, em diálogo com as comunidades, de modo sempre respeitoso. De olhos e corações sempre abertos para o desenvolvimento da sociedade, ela contribui, sem cessar, para a promoção da solidariedade, da paz e da justiça à luz do Evangelho de Jesus Cristo e, ainda, por meio de gestos concretos em favor dos menos favorecidos.
JLPolítica - A Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil não tem sido omissa diante das tensões que parecem ameaçar o Estado Democrático de Direito do país atualmente?
MC - Muito pelo contrário. Nos documentos oficiais, em sua ação evangelizadora e nos presbitérios, a Igreja não cessa de orientar as consciências sem jamais interferir nas opções políticas concretas tomadas livremente, pois não é esta a sua missão. O papa Francisco nos ensina que a Igreja não é uma ONG. Não é um sindicato, um partido político. A Igreja é outra coisa: a Igreja, segundo o papa, é um hospital de campo, onde se acolhe todos assim como o são, cuidando das feridas de todos. E isso faz parte da sua missão.
JLPolítica - Houve algo de anormal, ou de errado, na venda do espólio educacional do Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus pela Arquidiocese de Aracaju?
MC - Não houve nada de anormal ou errado. Tudo foi realizado rigorosamente de acordo com as leis que regem as transações imobiliárias, e dentro de condições vantajosas para a Arquidiocese.
A POLÍTICA NÃO É UMA MISSÃO DA IGREJA
“Em sua ação evangelizadora, a Igreja não cessa de orientar as consciências sem jamais interferir nas opções políticas concretas tomadas livremente, pois não é esta a sua missão. O papa Francisco nos ensina que a Igreja não é uma ONG. Não é um sindicato, um partido político. A Igreja é outra coisa: a Igreja, segundo o papa, é um hospital de campo, onde se acolhe todos assim como o são, cuidando das feridas de todos. E isso faz parte da sua missão”
JLPolítica - Aquele complexo de prédios que lhe serviu de sede está aberto à venda?
MC - Não tenho essa informação. Esse assunto está na alçada do Conselho Econômico da Arquidiocese.
JLPolítica - Padre, haveria um tipo de cristão que desserve à causa da Igreja Católica? Qual seria o perfil dele?
MC - O cristão que desserve à causa da Igreja é aquele que dá contratestemunho, que escandaliza, que provoca divisões no rebanho de Cristo. É aquele que favorece a obra do maligno, não permitindo que a palavra de Deus lance raízes na sua existência. O bom cristão, ao contrário, está sempre aberto à palavra de Jesus, produz frutos abundantes e começa a fazer parte daqueles “bem-aventurados” e “pequeninos” aos quais são revelados os mistérios do Reino.
JLPolítica - Uma pergunta que o senhor poderia considerar impertinente: mas onde estaria Deus diante do estrago da Covid-19 para a humanidade e da selvageria da guerra que Putin perpetra contra a Ucrânia?
MC - A resposta está na Cruz, no Crucificado. O Deus que sofreu no calvário por amor a nós e pela nossa salvação, por causa dos nossos pecados, nunca estaria indiferente ao sofrimento humano, seja qual for o seu modo. Muito pelo contrário. Ele sofre junto, consolando as vítimas das pestes, das tragédias humanas, das catástrofes, das guerras. Deus só não está nas maldades humanas, no coração dos tiranos e dos que promovem as guerras e as divisões.