Tive a honra de estar fazendo uma entrevista com o renomado advogado Dr. Evaldo Fernandes Campos, conhecido por ser o Decano do Direito Penal em Sergipe. Nascido num dia 26 de abril do ano 1941, na cidade de Ceará Mirim, no Rio Grande do Norte. Após lúdica infância, desfrutou de valiosos ensinamentos herdados por seus aguerridos pais, sendo eles: Seu João Fernandes Campos Neto e Dona Palmira de Souza Campos, seres humanos iluminados que souberam o guiar nos trilhos da honestidade, persistência e educação.
Costuma citar e se definir por uma das máximas do brilhante ensaísta Gibran: “Nada mais do que um farrapo de nuvem errante perdida nos céus”. O céu do Brasil, sem dúvida alguma, se regozija por ter feito aportar em terras sergipanas esse Baluarte do Direito, não apenas em cenário telúrico, mas sobretudo além-fronteiras. As primeiras inclinações para Direito se deram aos 4 anos de idade quando ainda morava no Rio Grande do Norte, mais especificamente no ano de 1944 no afã da Segunda Guerra Mundial, o pai dele mudou-se para Natal com toda família.
Um episódio o marcou: Ao sair ele e os pais para fazer compras, passaram de frente a um quartel do exército, e o pai relembrou que havia prestado serviços militares e sido dispensado por ser uma figura de compleição esquálida na juventude. Ao ter ido pegar a carteira por não ter sido aceito, acabou não voltando. Um sargento foi na residência para informar a Dona Palmira que o marido Seu João havia sido preso sob a acusação de ser um desertor, exclamou que foi convocado para a guerra e não se apresentou. Esbravejou que iria ser julgado por uma corte marcial e que poderia ser condenado à morte.
A palavra morte já ressoava na cabeça de Evaldo Campos, pois havia presenciado a morte de quatro dos sete irmãos. Seu pai João F. Campos Neto era um homem de pouca riqueza, um aguerrido comerciante, que prezava pelos bons valores. Chegado o dia do julgamento, seu pai lhe contou que escutou o veredicto: “você está absolvido, é inocente”. O pai chorando, em total pranto, disse ao filho Evaldo: “Naquele dia meu filho, me tiraram do julgamento e me colocaram de serviço do lado de fora, eu municiei meu fuzil com duas balas, pois se eu fosse condenado iria fazer uma loucura, atiraria em meu comandante e me mataria”.
Evaldo Campos ainda em sua época de meninice então imaginou toda àquela cena descrita pelo pai, foi uma verdadeira revolução. Logo após esse fato, o pai se tornou marinheiro depois que um dos filhos acabou vendendo todo seu patrimônio. Na marinha residiu a fonte de sustento da família Campos. Foi um rosário de sofrimentos, e Evaldo já dentro dele sentiu algo lancinante, uma conspícua revolta o fazendo sempre se questionar: “Por que ao suspeitar de alguém já se cravam no madeiro da cruz, por que meu pai poderia ser condenado a pena de morte se sequer chegou a ser ouvido?”.
Esse acontecimento marcante impeliu Evaldo Campos inexoravelmente ao campo do Direito, mais especificamente para a advocacia criminal, a advocacia dos desvalidos, daquelas pessoas que nem tem mais lágrimas para chorar pois todas elas já foram secadas pela dor. Nesse insigne momento nasceu o advogado renomado que conhecemos hoje em Sergipe e no Brasil.
Se formou em Direito no ano de 1968 pela Universidade Federal de Sergipe. Possui especialidade na área penal, mas, pela condição de Procurador da República, que até o ano de 1988 era cumulada com as atribuições de Advogado da União, acabou atuando assim nas mais diversas áreas do Direito. O ano de 1975 foi decisivo pois Evaldo Campos exercia o cargo de Procurador da República em final de carreira no Estado de São Paulo, quando recebeu um telefonema do amigo Dr. Henrique Araújo na época era o então Procurador Geral que lhe dizia: “Evaldo, seu pai mora em Sergipe? Pois estou querendo que você passe 60 dias em Sergipe para substituir o Procurador Dr. Osman Hora Fontes que está doente”.
No dia 31 de dezembro do ano 1975 Evaldo vem para Sergipe e se perdeu pelos encantos idílicos de quem por aqui aporta. Antes disso, foi Procurador da República, com exercícios de atividade na Bahia, Alagoas, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Mandou buscar seus móveis em São Paulo num gesto de audácia e atrevimento, e prontamente ligou para Henrique Fonseca dizendo: “Henrique estou numa esquina, e não tenho medo de ser assaltado aqui em Sergipe, vou ficar por aqui”. Evaldo questionou que ainda em terras sergipanas não tinham os correspondentes à finais de carreira, e mandou para o Procurador Geral uma exposição de motivos que foi levada ao Ministro da Justiça na época auferida, Dr. Armando Falcão que criou cargo de final de carreira em Sergipe donde nunca mais saiu.
Evaldo Campos sempre foi conhecido por ser um homem sério e destemido. Chegou a ter problemas com a Igreja Católica quando abriu um inquérito sobre sonegação fiscal em âmbito eclesiástico contra um arcebispo sergipano. Levava consigo o seguinte ensinamento católico: “Deus criou todos os seres iguais em direitos e obrigações”. Foi manchete na época quando Evaldo exclamou: “Se o papa me desse motivo também o processaria”. Dessa feita, houve uma breve remoção dele do Estado, mas logo algum tempo retornou e acabou se entendendo com o próprio arcebispo que foi alvo do inquérito instaurado.
Ao se aposentar como Procurador, Evaldo Campos continuou na vida pública agora no poder executivo ao servir a dois governos: de Augusto Franco e de Antônio Carlos Valadares. Foi Secretário de Estado da Administração na gestão de Augusto do Prado Franco, homem por quem nutriu a mais admirável lembrança: divergiam muitas vezes, mas nem por isso deixavam de frutificar respeito mútuo. Exclamava que: “Dr. Augusto Franco foi quem projetou o Sergipe do amanhã, graças a ele a adutora do São Francisco transformou-se em realidade”.
Depois foi Secretário de Estado de Assuntos Parlamentares durante o Governo de Antônio Carlos Valadares, onde teve a honra de ser convocado para escrever o anteprojeto da Constituição do Estado. Evaldo escreveu esse anteprojeto na cidade de Ourinhos, na Fazenda de Dárcio Soares que à época era seu sogro. Foram 17 dias com 20 horas trabalhadas diariamente, depois voltou para Sergipe e entregou ao Governador que enviou para a Assembleia donde ficou acompanhando todos os trâmites. Foram valiosos ensinamentos que apreendeu nessa ocasião, dentre eles que o mais importante nas nossas vidas não é nem a chegada nem a partida, mas justamente a travessia.
Uma das lições que Evaldo Campos destaca é a de que os seres humanos vieram à vida e à terra somente por uma coisa: aprender a amar. Na seara política foi candidato várias vezes e logrou êxito quando se elegeu vereador. Orador dos mais exímios, é mestre indiscutível na arte da eloquência. No afável seio doméstico contraiu seu último matrimônio com Eciene Elias de Jesus Campos que é bacharela em Direito. Não com ela, Evaldo Campos possui prole numerosa composta por oito filhos ao total, sendo um falecido aos 20 anos de idade, chamado Evaldo Fernandes Campo Júnior que nos deixou num dia 28 de agosto do ano 1994.
No auge dos seus 81 anos de idade Evaldo Campos esbanja vivacidade e inteligência rarefeita aos dias de hoje. Em seu vasto currículo possui mais de 58 anos dedicados à advocacia, que é o seu grande chamamento. Somados a isso temos mais de 45 anos integralizados na área do magistério. Seus alunos jamais esquecem suas abrilhantadas aulas, genuínos presentes para quem tem o privilégio de desfrutar do seu singular timbre de voz, bem como o modo elegante e persuasivo que convence qualquer um que lhe escuta. Foi seminarista e converteu-se ao espiritismo, sendo devoto de corpo e alma à Deus, sua maior força propulsora.
Conclui-se que se não há efeito sem causa, não há na História do Direito em Sergipe nome que se realce mais nas últimas décadas do que o nome de Dr. Evaldo Fernandes Campos, uma das seminais figuras que explicam o desenvolvimento advocatício sergipano e do Brasil. Saí da sua marcante presença inspirado por atributos como a tolerância, o afeto, a compreensão, o amor e o carinho. Muito obrigado pela aula sobre nós, sobre Sergipe, sobre o país!