Valmir marcou época nos anos 70 e 80, vestindo principalmente a camisa do Estanciano Esporte Clube, e até hoje é lembrado pelo gol de placa, que fez em cima do Sergipe, no Estádio Lourival Batista, em uma partida decisiva, que levou o "Canarinho do Piauitinga", para a final do Campeonato contra o Confiança.
O gol, foi um daqueles que a imprensa costuma dizer que foi “o gol que Pelé não fez”. Um chute certeiro do meio de campo.
Eu estava lá no Batistão – eu era juvenil - e vibrei muito até porque a chuteira que Valmir usava naquele jogo, era minha e ele me pediu emprestado porque a dele era nova e estava apertada.
Na fase boa de Valmir, a torcida sabia que o jogo não sairia empatado porque ele era 'matador nato' e sempre balançava as redes.
Nos treinos, o time titular enfrentava os reservas mesclados com os juvenis e por isso, eu sempre treinava com os profissionais e fiz muitas amizades com a 'boleiragem'.
O Sergipe era vítima de Valmir, e um dos jogos mais marcantes das duas equipes, além daquele, da final de turno, no Batistão, quando ele fez o gol de placa. Outro jogo memorável aconteceu em Estância, no acanhado campo do Cruzeiro, e Valmir, fez dois gols contra o forte time do Sergipe e tomou três de virada.
Para ter ideia da façanha, confira o time do Sergipe: Marcelo (Goleiro), Tota, Dorgival, Onça, Edson e Carlos Augusto, Ricardo, Giraldo, Pepeta, Carlinhos e Joãozinho.
O Estanciano tinha Valmir e mais dez. O time era bom, mas não segurou a máquina rubra e o jogo terminou em confusão, uma vez que a torcida equivocadamente suspeitou, que o goleiro Dimas (propriaense) como se dizia na época, “fez fole”, que era sinônimo de se vendeu.
O gol da discórdia, foi feito por Carlinhos, quase do meio campo, num voleio de costas e a bola caiu na gaveta.
Ontem, durante o funeral de Valmir, eu conversei com Vevé, lateral direito que estava no jogo da confusão e teve a tarefa de marcar o jovem, mas já craque Joãozinho da Mangueira.
Vevé contou-me com detalhes, como foi o duelo e afirmou que Joãozinho, foi o ponta mais difícil que ele já marcou.
Me lembro, que a fase de Valmir era tão boa, que em qualquer bar que ele chegasse, tinha cerveja paga para ele pelos torcedores. Nos dias de hoje, a torcida agride fisicamente os atletas que saem para beber na madrugada.
A diferença é que no passado, os atletas bebiam e jogavam muito e hoje só correm, e se beberem, a coisa piora.
Sócrates e Afonsinho são dois exemplos de craques, que fumavam e bebiam, assim como muitos atletas pelo Brasil.
Um detalhe que chamou a minha atenção, foi o pequeno número de Jogadores e torcedores no funeral de Valmir. Eu contei nos dedos: Vevé (lateral direito), Lima (zagueiro), Terror (zagueiro), Terral (zagueiro de uma geração anterior) e Jorge Doido (lateral direito). Torcedores também haviam poucos.
Eu fiz o seguinte comentário, que gerou um debate longo ao meu favor: “Valmir deu tantas alegrias as torcidas do Estanciano e Santa Cruz, mas parece que passaram uma borracha na memória coletiva”.
Vevé desabafou e disse que ninguém respeita os jogadores do passado, inclusive já foi constrangido em jogo do Estanciano, ao ser barrado na entrada pelo presidente do clube.
Naquela época, os jogadores recebiam salários baixos e “bichos” (gratificações) por vitórias e conquistas de títulos.
O ex-zagueiro Lima, disse que mantém contatos frequentes com os veteranos do seu tempo, inclusive ligou para alguns que justificaram a ausência no funeral.
Por falar em Lima, ele foi muito elogiado pela imprensa, principalmente por Wellington Elias por conta da sua extraordinária impulsão.
Além desses ex-jogadores, eu reencontrei com um colega de futebol dos tempos de juvenil, o bancário aposentado, Hermínio, que trocou a bola pelo BANESE ainda muito jovem.
Em tempo: eu trabalhei com Valmir durante dois anos, na Junta do Serviço Militar, em Estância, e foi exatamente lá, que ele se aposentou, e, segundo Vevé, o emprego na JSM foi graças ao futebol, uma vez que Valmir havia deixado o Canarinho, para jogar no Cotinguiba e o seu retorno, só foi possível, por conta da oferta emprego público.
Ele trabalhava de 7:00 as 13:00 e assim tinha tempo para treinar a tarde.
Lembramos que o concurso público foi instituído somente em 1988.
Professor Dudu, 27 de janeiro de 2022