Esta matéria foi publicada neste site no dia 21 de abril deste ano, depois de uma entrevista realizada no programa “ Banda no Coreto”, do jornalista e radialista Magno de Jesus, com Roberto Dantas, filho do primeiro Embaixador negro do Brasil, Raymundo Sousa Dantas.
O professor aposentado de Educação Física, Roberto Dantas, 74, residente em São Paulo, que é filho do estanciano, Raymundo Sousa Dantas (falecido), que foi o primeiro negro do Brasil, a ser Embaixador em Gana, na África, lançou no último dia 14, um livro sobre a história do seu pai, intitulado: “Raymundo Sousa Dantas: o primeiro embaixador brasileiro negro”. Fábio Koifman e Íris de Faria, são autores também.
Emocionado, por ter falado pela primeira vez para os ouvintes da cidade de Estância, terra natal do seu querido pai, Roberto Dantas concedeu no último dia 18, uma entrevista exclusiva para o programa “A Banda no Coreto”, apresentado pelo radialista Magno de Jesus, e disse que seu pai lhe falava muito sobre Estância e, sobretudo, a sua infância pobre, que na época, passava por muitos problemas. “Meu pai nunca esqueceu Estância, esse ano, estamos comemorando os 60 anos da sua nomeação como Embaixador Extraordinário em Gana, na África Ocidental”, disse Roberto.
De acordo com Roberto Dantas, também este ano, se comemora a nomeação de Raymundo Sousa Dantas, como Oficial de Gabinete do Presidente Jânio Quadros. “Ele foi o primeiro negro do Brasil, a assessorar diretamente um Presidente da República”, lembrou.
Roberto recordou que seu pai citava muito o rio Piauitinga nas suas lembranças e também os seus amigos, e que um dia, ele iria reencontrá-los. “Ele falava muito da mãe dele, Porfíria, que foi lavadeira de roupas no rio Piauitinga e ainda quando foi entregador do jornal A Estância”, relatou.
Roberto Dantas falou de um dos livros escritos pelo seu pai, que se chama “Um Começo de Vida”, que foi publicado em 1946, no ano que Roberto nasceu na época o Ministério da Educação fez uma campanha de alfabetização de jovens e adultos e este livro foi lançado por essa campanha.
O professor disse que morou em Gana com seu pai, que foi para a África em dezembro de 1961 com a renúncia de Jânio Quadros. “Ficamos lá até agosto de 1962, infelizmente minha irmã adoeceu, contraiu malária, e na época os médicos aconselharam a minha família a voltar para o Brasil, e meu pai ficou lá, até o final de dezembro de 1963, e em 1964, ele estava para ser indicado Embaixador do Brasil ou na Idonésia ou na Jamaica, infelizmente voltou o golpe militar e ele retornou para trabalhar no Ministério da Educação”, contou Roberto.
Antes de Raymundo Sousa Dantas virar Embaixador do Brasil, ele era jornalista, chegando a trabalhar em diversos jornais conhecidos nacionalmente, como Jornal do Brasil, Jornal Carioca, A Noite e tantos outros. “Meu pai especializou-se na cobertura política, naquela época o Rio de Janeiro era a capital do Brasil, ele teve grandes companheiros no jornalismo como Carlos Castelo Branco, Valas-boa Correia. Meu pai era muito conceituado e daí surgiu a amizade dele com o doutor Afonso Arinos de Melo Franco, que foi senador, que uma vez convidou meu pai para ele ser suplente na candidatura dele de senador, mas não aceitou devido a função dele de jornalista”, disse Roberto.
Na parte literária, Raymundo Sousa Dantas teve bons amigos escritores, como, Aníbal Machado e Graciliano Ramos, este último foi o maior amigo íntimo dele. “Graciliano Ramos levou meu pai na década de 40 para se filiar ao Partido Comunista do Brasil, que era composto por Jorge Amado, Carlos Marighella, João Amazonas, Edson Carneiro e o grande jornalista de Sergipe, Joel Silveira, que, quando meu pai abandonou o partido, eles (Joel e meu pai) tiveram algumas divergências”, informou Roberto.
O Embaixador Raymundo Sousa Dantas, era morador do bairro Botequim, de Estância, era flamenguista de coração e gostava bastante de assistir futebol. “Ele gostava muito de assistir a Copa do Mundo, mas, veio a falecer com 79 anos, no dia 8 de março de 2002, Dia Internacional da Mulher. Infelizmente ele teve um câncer na região do intestino, que ceifou a sua vida”, lamentou Roberto.
Redação Tribuna Cultural