Das riquezas que a Praia tem, Maria Augusta Cardoso Soares soube explorar em sua essência.

Nasceu à beira dos brejos e cresceu tomando banho no rego do povoado Coqueiro de Dentro, onde com sua mãe, Zefinha (que partira ainda cedo), seu pai João de Adelina e os tios Dantas, Zé Amado, Dionísio, Eutália, Netinha, Mundinha, Aninha, Zefinha e Mundinha Grande, aprendeu as artes de tirar taboas, pescar de curvú, jereré, rede, plantar mandioca, aipim, batata e a catar mangaba.

Devido sua infância difícil sem mãe, fugiu em busca de uma vida melhor com seu primeiro companheiro Edí e passou a conviver com o mesmo no povoado Ribuleirinha.  Lá se tornou mãe, essa foi sua qualidade principal; descobriu-se como uma leoa que através de lutas diárias e muita determinação, possuía a responsabilidade de prover o sustento da família, que só aumentava a cada dia.

Maria Augusta: mulher forte e de fé

Desse casamento teve Renilson, Jailda, Careca, Edilmo, Ednilzo, Domingos e Osmário. Juntou os filhos e decidiu seguir sua vida, pois sentia-se cansada dos excessos praticados pelo ex-companheiro. 

Voltou para seu lugar de origem, Coqueiro de Dentro, com uma reca de filho, e, sentiu o peso da responsabilidade de ser uma mãe solteira, sem condições materiais e financeiras. Construiu seu barraco de palha e chão de areia.

Maria Augusta e sua prole de filhos. Ela ensinou a serem "gente"

Formou-se na escola da vida. Na busca por sobrevivência, ia pro mangue do Peixe-boi, da Vaca e do Loredo, pegar o aratu, vendia um balde de mangaba pra comprar comida, saía cedo pra Barra Nova pra pescar cicica, candunda e sirí, para sustentar seus filhos, onde com o leite de coco e com farinha, ela fazia às vezes, de seu prato alimentício principal.

Com o motorista do caminhão pau de arara, Machado, filho de Vivi, teve mais uma filha, Vanessa, embora nunca tenham morado juntos. 

Sua vida sempre foi pautada por valores morais aprendidos desde criança.

Honestidade, respeito, companheirismo, simplicidade, alegria, e carisma foram essenciais na conquista de tantos amigos fiéis. 

Maria Augusta, na formatura de sua filha Vanessa Soares

Com o catado de aratu e os 21 anos de faxinas semanais na casa de Rita e Marcos, sustentou seus filhos.

Fazia o catado aos fins de semana e pedia aos filhos mais velhos para vender na Praia do Abaís, assim criou do maior ao menor.

Dizia em voz clara e alta que não pegassem nada de ninguém ou então apanharia e devolveria.

Conheceu Jasson, o garçom boêmio que lhe prometeu segurança e conforto, aceitou e teve mais dois filhos: Jadson e Enison; com ele conviveu até que o mesmo partiu deixando-a viúva. 

Sua forma de educar, seu exemplo e o seu jeito de ser tornaram-se um espelho para seus filhos. 

Maria Augusta tornou-se conhecida nas novenas, tão comuns na região, nas igrejas católicas, nas festas culturais, nas casas e em toda região praiana. 

Uns diziam: Maria soube criar os 10 filhos; outros falavam: Maria Augusta é um exemplo de mulher e de mãe.

De repente, sem ter tempo para despedida, Maria Augusta partiu...o choro desceu sobre as faces de quem a amava.

A Maria vaidosa e vistosa, a Maria do extinto forte, guerreira, Alegre, amigueira, a Maria companheira dos irmãos Zé Grosso, Zé Raimundo, Geni, Odete, Vanda, Valter, Cícero, Dete e Dite; a tia Maria ou Tutu de tantos sobrinhos, Maria Augusta do Coqueiro de Dentro nos deixou para fazer a vontade de Deus.

Obrigada Maria Augusta, não serás esquecida em nossos corações, tua força, teus ensinamentos e sua criação única foram seu maior legado os quais no que depender de seus filhos jamais serão esquecidos. 

Por Vanessa Soares

(*) Moradora do Povoado Coqueiro de Dentro, professora e conselheira tutelar