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Sergipe

NO CUME DO MONTE DA MORTE: O CONQUISTADOR SOLITÁRIO

Na Cidade Jardim, alguns estancianos eram alistados, dentre eles João da Silva, que seria assim conhecido em todo Brasil.

Publicada em 09/10/21 às 14:06h - 504 visualizações

Professor Acrísio Gonçalves de Oliveira


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NO CUME DO MONTE DA MORTE: O CONQUISTADOR SOLITÁRIO
 (Foto: Divulgação)

Acrísio Gonçalves de Oliveira (*)

Era 1939. A guerra ameaçava se deflagrar na Europa. Aos poucos um fio de preocupação começava a tomar conta de alguns estancianos. Do outro lado do atlântico, em Paris, por exemplo, os preparativos militares de soldados, fariam milhares de pessoas abandonarem a cidade. Já o governo britânico suspenderia a navegação de vapores, inclusive do “Almanzorra” que então viajava em águas brasileiras. Hitler em discurso aos alemães dissera que a “Grande Alemanha” não iria capitular, como fez na Primeira Guerra. Então, com propósitos bem definidos invadiu a Polônia. Por causa disso a Inglaterra e depois a França declararam guerra aos alemães.

No Brasil, o conflito já trazia reflexos nos preços, afinal o país dependia dos produtos importados. No entanto, os alimentos de primeira necessidade subia de preço de forma exagerada. Por isso Getúlio Vargas, através do Ministério da Agricultura, começava a tabelar preços, e em Sergipe, o Departamento de Segurança Pública emitia nota a respeito. A tal nota chegaria a Estância. O cenário de guerra estava posto e muita coisa iria mudar.

Mas a vida brasileira seguiria seu rumo. Os estancianos seguiriam fazendo comemorações, festas, preparativos para o réveillon e até mesmo campanha para a construção da sede do Cruzeiro Sport Club. Para destoar, em dezembro daquele ano, Antônio Alves, proprietário da Empresa de Ônibus Estanciana anunciava mudança nos preços das passagens entre Estância e Aracaju. Ele justificava a alteração, atribuindo ao aumento excessivo dos combustíveis. Eram os reflexos da guerra.

Na Cidade Jardim, alguns estancianos eram alistados, dentre eles João da Silva, que seria assim conhecido em todo Brasil. De acordo com o jornal Voz do Povo João Ferreira da Silva nasceu em Propriá, no dia 22 abril de 1922. Morador da “vila operária”, era filho de Josefina Dias da Silva e de Vicente Ferreira da Silva e foi trabalhador da Fábrica de Tecido Santa Cruz. Por essa vivência estanciana e tendo ido à guerra pela cidade onde residia, foi por isso considerado estanciano. O jovem de 18 anos havia se apresentado aos serviços militares em 1939.

O presidente Getúlio Vargas - que comandava uma ditadura no Brasil - era um aliado do nazismo e cortês ao fascismo. Era, sobretudo, anticomunista. Todavia, precisou tomar uma atitude após o torpedeamento de navios brasileiros, em 1942, inclusive alguns em costas sergipanas. O apelo popular para que o Brasil entrasse no conflito fez Getúlio se posicionar, declarando guerra à Alemanha.

Ao ser convocado em 1944, João da Silva serviu na III Companhia do 3º Batalhão do Regimento Sampaio. Na Itália, no Monte Castelo, o regimento aguardaria o momento exato de atacar os alemães. Era um inverno rigoroso e o Monte vivia coberto de gelo, constante desafio para os soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Então, no dia 12 de dezembro de 1944, João, de forma destemida, não atendendo às ordens de recuo do comandante, foi o primeiro brasileiro a subir o Monte, chegando em seu cume, sendo por isso metralhado pelos alemães. Solitário, tombou. Fazia um frio de 18 graus abaixo de zero. Porém, naquele dia fatídico ninguém tomou nota de quem se tratava. Os companheiros de regimento apenas testemunharam sua morte como mais um soldado brasileiro a perder a vida na guerra. Afinal, naquele teatro de horrores, isso era algo comum.

No livro o Inverno da Guerra, do lagartense Joel Silveira, jornalista correspondente da dita guerra (a Segunda Guerra Mundial) - diga-se de passagem, considerado “o repórter que mudou o jornalismo brasileiro” – talvez sem querer, friamente ele mesmo nos mostra esse tipo de situação. Conta ter visto encoberto em lençol o corpo do soldado italiano Lorenzo, morto tragicamente na batalha. Diz, que tendo a granada rebentado “sobre sua cabeça, e quando levanto a manta  para procurar o rosto, encontro apenas uma massa disforma sangrenta e algum pouco cabelo louro.” Ali, em sua missão jornalística, pode-se ver pelo tom das palavras, que Silveira encarou bem a bizarra cena.

Depois de quatro investidas dos soldados da FEB, então incorporados ao 5º Exército norte-americano, no dia 21 de fevereiro de 1945, o Monte Castelo finalmente foi dominado. Pelas distâncias e as dificuldades dos jornalistas enviarem notícias ao Brasil, elas costumavam chegar atrasadas, embora fossem sempre levadas ao público brasileiro. O jornal carioca Gazeta de Notícias, publicaria, em fevereiro de 1945, três dias após a conquista, o Boletim da SGMG (Secretaria Geral do Ministério da Guerra) a lista de soldados mortos ou desaparecidos. Na parte “Oficiais e Praças Desaparecidos”, constava o nome de João Ferreira da Silva. (continua)

(*) Pesquisador, radialista, professor do Estado e da Rede Pública de Estância

 




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