A GRANDE SECA DO FIM DO SÉCULO XIX
Na história da Fábrica Santa Cruz, dois aspectos climáticos opostos fizeram parte da sua trajetória: a seca e o excesso de chuva. Entre os fins de 1899 e começo de 1900, disseminou em nossa região uma seca de caráter arrasador, cujo resultado afetou também o funcionamento da Fábrica Santa Cruz, causando-lhe enorme prejuízo.
Mantendo-se por longo tempo, a estiagem modificou a vida da cidade, aparecendo “enxurradas” de retirantes em dolorosa miséria que chegavam extenuados, sujos e famintos, esmolando de porta em porta.
Estância sofria com o abafante calor e seu povo rezava para que as chuvas aparecessem o mais rápido possível.
O nível das águas dos rios da cidade diminuía cada vez mais. E como a Fábrica Santa Cruz, inicialmente foi planejada para funcionar com o aproveitamento da queda d’água, começou a sofrer com o esvaziamento das águas causadas pela tremenda seca que se assolara, enfrentando assim pela primeira vez este desafio da natureza.
Não podendo movimentar a fábrica mecanicamente através das águas, João Joaquim de Souza Sobrinho (!857-1937), o novo diretor, recorreu ao uso de equipamentos térmicos, entre estes, uma turbina a vapor e uma caldeira para que o empório pudesse funcionar normalmente, quando acontecesse das máquinas pararem resultante de quando o nível do rio diminuísse impossibilitando o funcionamento normal da pressão d’água.
JOÃO SOBRINHO VITALIZA O BAIRRO SANTA CRUZ
João Joaquim de Souza Sobrinho possuía um raro talento empresarial e desenvolveu uma ação de raros efeitos, promovendo benefícios importantíssimos, tanto no setor do operariado da fábrica, como também na sociedade estanciana, tornando-se durante anos um inesquecível benfeitor filantrópico em diversas áreas da nossa comunidade.
A diretoria da Fábrica Santa Cruz era composta de dois membros de maior evidência, um desenvolvia a sua atividade administrativa em Salvador, na Bahia, onde a empresa dispunha de sua sede e outro em Estância, onde a fábrica funcionava, exercendo um mandato de quatro anos e que poderia ser reeleito.
Em 1922, já contando com grande número de operários, e que na década de 30 subiu para mais de 800, assim sendo, a fábrica passou a ocupar uma parte dos terrenos que lhe pertenciam, construindo uma Vila Operária (hoje Avenida Santa Cruz), composta de 74 casas.
Para este empreendimento de grande valor social, foi gasta a importância de um crédito levantado de 150.000$000.
Em 1931, já funcionando com 362 teares, a Fábrica Santa Cruz, atingiu sua produção de tecidos em quatro milhões e duzentos mil, atestado a crescente prosperidade da companhia, graças à ação equilibrada da administração do Comendador João Joaquim de Souza Sobrinho e do Cel. Antônio Manso.
Neste mesmo ano, a empresa adquiriu todo o material de uma fábrica de tecidos já extinta em Plataforma, subúrbio da cidade de Salvador, na Bahia, aumentando assim, o número para um total de 448 teares.
A Estância desta época, pela quantidade de suas fábricas, já era denominada a “Manchester Sergipana” (**), e orgulhava-se desse patrimônio elevando-se ao nível dos outros centros adiantados na indústria, da qual a Fábrica Santa Cruz, através de todo acervo de úteis realizações, foi destacada como uma das mais respeitadas, devido a criativa e consciente direção do grande benfeitor que jamais deveria ser esquecido, o Comendador João Joaquim de Souza Sobrinho.
Continua segunda-feira (20).
Escrito por Carlos Modesto
Redação Tribuna Cultural