Viajar é sempre um motivo para conhecer muitas coisas, é uma oportunidade de aprendizado e de descobertas.
É uma lástima que, com a COVID-19, as viagens tenham sido restritas e até mesmo proibidas, causando efeitos negativos nas atividades de transportes, turismo, lazer, e hospedagem e, praticamente, nos impedindo de vivenciar outras culturas e as imersões sobre a história, os fatos, a cultura, os atos e personagens relevantes de diferentes regiões, países e o mundo em geral.
Na última semana, deparei-me com fotos de uma viagem que fiz à França, em abril de 2014, cujo roteiro me levou à cidade de Reims, que fica na região vinícola do país, na famosa Rota do Champanhe, onde estão localizadas caves famosas que, especialmente utilizando a célebre uva Chardonnay, produzem as tão célebres bebidas de qualidade reconhecida no mundo inteiro.
É uma cidade cheia de história, pois nela eram coroados os reis franceses, no interior da famosa Catedral de Notre-Dame de Reims.
Da mesma forma, no prédio de um colégio de Reims, que era utilizado como base do Comando Suprema das Forças Aliadas, onde hoje se encontra o Museu da Rendição, em 7 de maio de 1945 foi assinado o armistício, a capitulação nazista, que oficializou o término da II Guerra Mundial, um dos mais sangrentos e traumáticos conflitos do século XX.
Esse significativo ato possibilitava ao mundo todo retomar sua vida normal e, no caso da Europa, ser iniciado um período de reconstrução, de recuperação econômica de vários países destroçados, com população faminta, intensas rupturas sociais, milhares de vítimas e pessoas depauperadas.
Isso jamais deve ser esquecido e, ao mesmo tempo, é necessário sempre estar na lembrança de todos, especialmente dos nossos governantes, para que eventos semelhantes sequer venham a ser imaginados, concebidos ou adotados, pois causam males incomensuráveis, desastrosos para todos os habitantes do nosso planeta.
A propósito, alguns anos antes, em maio de 2005, eu visitei a cidade de Caen, na Normandia, para conhecer o local do desembarque dos aliados em 6 de junho de 1944 e o Museu do Dia D, este dedicado principalmente à história da II Guerra Mundial, mas incorporando também eventos desde o Tratado de Versailles de 1918 até a queda do Muro de Berlim, em 1989 e, mais recentemente, contando com uma ala dedicada à cultura da paz.
Caen, pelos severos bombardeiros nessa região da Normandia, sofreu cerca de 70% de destruição e na região são calculados mais de 20.000 vítimas do desembarque dos aliados especialmente nas Praias de Omaha e Utah. Cerca de 10.000 delas estão sepultadas no Cemitério Americano na vizinha cidade de Colleville-sur-Mer. Caen tem uma longa história especialmente desde que Guilherme (William), o conquistador, venceu em 1066 os saxões na Batalha de Hastings e tornou-se Rei da Inglaterra, sob o título de William (Guilherme) e, também, Duque da Normandia. Mas isso é uma outra história!
A nossa Estância foi palco da maior tragédia brasileira na II Guerra Mundial, quando o navio de carga e passageiros “Conde de Baipendi” foi afundado na noite de 15 de agosto de 1942 pelo submarino alemão U-507, em frente ao nosso litoral, resultando na morte de cerca de 270 pessoas, cujos corpos foram levados pelo mar até nossa Praia do Saco. Esse fato causou comoção da população estanciana e muita consternação no país, fazendo com que o Brasil, que mantinha uma formal neutralidade neste conflito mundial, declarasse guerra ao Eixo logo a seguir.
Dessa entrada do Brasil na II Guerra Mundial, tivemos um pracinha estanciano integrante da Tropa Expedicionária Brasil nos campos da Itália que regressou vivo à nossa cidade, mas com a perda das duas pernas ocorrida em batalha naquele país. Esse expedicionário foi o Sr. Augusto Freire, pai da Dra. Cleide Freire, que residiam na Rua Marquês de Herval e eram vizinhos dos meus tios. Ele passava uma boa parte do tempo à janela da sua residência e todas as vezes que eu passava à frente dessa sua casa sempre o cumprimentava, uma vez que, desde aquela época eu lhe tinha respeito e admiração pelo seu marcante papel de bravo estanciano e lutador em defesa do nosso país e da paz em todo o mundo.
Como gosto muito de história e, tendo nascido durante a II Guerra, este tema integra marcantemente meus projetos de conhecimento. Foi assim que decidi passar toda uma manhã visitando o citado Museu da Rendição e examinando detalhadamente todo o material ali exposto.
O mais marcante para mim foi estar na sala da assinatura do armistício e deparar-me com figuras, feitas em cera, das personagens então presentes naquele ato, sentadas em torno da mesa de madeira – a mesma onde ocorreu este fato – cercadas de mapas da época que eram utilizados pelo Comando das Forças Aliadas, para projetar detalhar e acompanhar as suas ações estratégicas durante a II Guerra.
Como, nesse último ano e meio, não nos tem sido possível viajar, resta-nos apenas viver de lembranças de viagens passadas. Assim, entre as fotos mencionadas acima, separei algumas para compartilhar com amigos e ilustrar essa minha visita à cidade de Reims e ao respectivo Museu da Rendição. E que, se Deus nos ajudar, possamos em breve nos livrar desse maldito Covid-19, e voltarmos à normalidade da vida que tínhamos até inícios do ano passado, se isto ainda será possível, pois muitos consideram que, mesmo com toda a população mundial vacinada e a consequente contenção definitiva dessas ondas de ocorrência do vírus, a nossa vida futura não terá as mesmas características da que vivíamos até o início do ano passado.
Mas que, ainda assim, possamos ter saúde, paz, tranquilidade, oportunidades de emprego e de geração renda, menor desigualdade social, mais harmonia entre as pessoas e as nações e, também, o retorno aos programas de viagem, imersões em diferentes culturas e sadio ambiente de convivência humana e relacionamento social.
Se Deus quiser!
Em 14 de junho de 2021.
José Carlos de Oliveira
Estanciano, economista, professor universitário e residente em Brasília.