Todas as vagas de emprego abertas nos três primeiros meses do ano, em sergipe, foram criadas por micro e pequenas empresas. Quem destaca esse dado é o novo diretor-técnico do Sebrae/SE, Brenno Barreto.
Com um histórico de atuação em entidades representativas do empresariado, ele foi eleito esta semana para o cargo e destaca a importância da instituição para as empresas (principalmente as pequenas) para o período do pós-pandemia. Brenno destaca o trabalho feito para conscientização dos empresários para adoção dos protocolos sanitários e alerta que os empreendedores precisarão adequar seus negócios ao novo cenário. Confira abaixo a entrevista
JORNAL DA CIDADE - Qual será a sua principal missão, à frente deste novo desafio, no Sebrae?
BRENNO BARRETO - O Sebrae tem um histórico de bons serviços prestados, desempenhando um papel fundamental de apoio aos pequenos negócios. Como empresário e representante de entidades de classe sempre tive a oportunidade de acompanhar de perto esse trabalho e por isso conheço bem o compromisso da instituição perante a sociedade. O meu papel será o de dar continuidade a essas ações, agregando sempre um pouco da minha experiência como empreendedor e gestor público.
JC - Qual é o papel do Sebrae neste momento difícil de pandemia e medidas sanitárias que reduzem horários e funcionamento e circulação de clientes nas lojas?
BB - A pandemia trouxe enormes desafios para os empreendedores de todos os segmentos. Todas as empresas precisaram adequar seu modelo de negócio a esse novo cenário, as estratégias de venda e de relacionamento com os clientes precisaram ser modificadas, ou seja, passamos a operar em um ambiente totalmente diferente daquele a que estávamos acostumados. O Sebrae também precisou remodelar o seu modelo de atuação para atender às demandas que passaram a existir diante desse momento. Para isso buscamos encontrar novas formas de oferecer apoio aos empreendedores, investindo sobretudo no ambiente digital e em novas formas de comunicação, além de disponibilizar produtos e serviços específicos para cada segmento. Buscamos também conscientizar os empresários sobre a adoção dos protocolos sanitários para reabertura dos negócios, disponibilizando materiais gratuitos com as orientações necessárias, e atuamos junto ao poder público para viabilizar a concessão de crédito para os pequenos negócios.
JC - Como o Sebrae poderá atuar num momento de pós-pandemia, para ajudar a retomada econômica?
BB - O Sebrae tem como propósito transformar os pequenos negócios em protagonistas do desenvolvimento sustentável do país. Para cumprir essa missão pretendemos investir ainda mais na oferta de soluções para ajudá-los a superar as dificuldades, crescer e gerar empregos. Queremos ampliar ainda mais o acesso aos nossos produtos e serviços e ampliar o debate junto ao poder público sobre a adoção de políticas que melhorem o ambiente de atuação das nossas empresas. Um exemplo de ação que já estamos realizando é o programa Brasil Mais, que em parceria com o Governo Federal oferece consultorias gratuitas in loco para ajudar os empreendedores a inovar. Apenas neste ano já conseguimos atender 375 empreendimentos e a meta é alcançarmos pelo menos 1,2 mil até o final do ano.
JC - Com desemprego alto, muitas pessoas abrem pequenas empresas e se aventuram no mundo dos negócios. Qual seria o seu conselho para elas e como o Sebrae pode ajudá-las?
BB - Empreender é algo que traz benefícios para toda a sociedade. Infelizmente, em um momento de crise presenciamos um fenômeno conhecido como “empreendedorismo por necessidade”. Isso ocorre quando as pessoas perdem a sua ocupação no mercado formal e resolvem abrir um negócio para garantir a sua sobrevivência. Geralmente esses negócios são abertos sem muito planejamento e enfrentam sérias dificuldades porque as pessoas ainda não dominam as ferramentas de gestão. O que muitas dessas pessoas desconhecem é que o Sebrae pode ser um importante aliado, pois a instituição possui uma série de produtos e serviços, muitos deles gratuitos, que podem ajudá-las a administrar o seu negócio. O conselho que dou é que elas não deixem de procurar o Sebrae em hipótese alguma.
JC - Quais são as atividades com maior potencial de crescimento neste período de pandemia e no período posterior a ela?
BB - A pandemia alterou os hábitos de consumo dos cidadãos e a forma como eles se relacionam com as empresas. Vimos durante a pandemia que muitos empresários encontraram dificuldades para enfrentar esse novo cenário e estar atento às mudanças é essencial para garantir a sobrevivência dos negócios. Acredito que teremos uma forte expansão do setor de serviços, sobretudo os ligados à mobilidade urbana e ao delivery, além do marketing digital e os de educação à distância. Vejo o comércio de alimentos saudáveis com grande potencial de crescimento, pois as pessoas passaram a se preocupar ainda mais com a sua saúde e de seus familiares.
JC - Qual o papel das pequenas e microempresas hoje para a economia de Sergipe? O que pode ser feito para ajudá-las, neste período?
BB - As micro e pequenas empresas desempenham um papel fundamental na economia sergipana. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia mostram que nos três primeiros meses deste ano 4.117 novos empregos foram criados em Sergipe. Isso representa 100% de todas as vagas abertas durante o período no Estado. Enquanto as médias e grandes empresas estão demitindo, os pequenos negócios seguem contratando, apesar de todas as dificuldades. Esses dados sinalizam que a recuperação econômica está acontecendo de maneira mais rápida nas micro e pequenas empresas. Elas conseguiram se adaptar com mais facilidade a esse novo cenário e por isso conseguem gerar mais empregos. Isso serve para mostrar o quanto esses empreendimentos são fundamentais e merecem receber apoio do poder público para continuar funcionando, como por exemplo o acesso facilitado ao crédito e a renegociação de tributos durante esse período de crise.
JC - Alguns setores, como o de eventos, estão sofrendo mais do que outros durante a pandemia. O Sebrae pode ajudar esses setores a se reinventarem, para conseguirem sobreviver a este momento? De que forma?
BB - O Sebrae entende que é essencial oferecer apoio para esses segmentos. Em relação ao setor de eventos, lutamos junto ao Governo Federal pela criação de um programa emergencial que pudesse socorrer os pequenos negócios que atuam nesse segmento. O programa foi aprovado pelo Congresso, mas sofreu alguns vetos por parte do Poder Executivo. Esta semana ele foi tema de debates temáticos no Senado e estamos aguardando a derrubada ou não desses vetos. Acredito que no pós-pandemia as empresas precisarão remodelar os seus modelos de negócio, revendo processos, analisando os novos hábitos dos consumidores e identificando as novas tendências. O Sebrae pode orientá-los a se adaptar a esse novo cenário por meio da oferta de consultorias e capacitações.
JC - Como os governos federal, estadual e municipal poderiam ajudar agora as empresas? O que seria mais importante?
BB - O maior desafio que enfrentamos agora é dar suporte para que as empresas consigam retomar o faturamento, que foi fortemente impactado pelo isolamento social. Para isso entendemos que é preciso ampliar o acesso ao crédito em condições facilitadas, garantindo que o dono do pequeno negócio tenha capital de giro, consiga honrar seus pagamentos e manter o emprego de seus funcionários. A renegociação de tributos também é algo imprescindível porque muitos empreendedores ficaram inadimplentes por conta da queda de receita. Aqui em Sergipe tivemos programas lançados pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de Aracaju que permitiram essa renegociação e isso foi extremamente positivo para o caixa das empresas.