(*) Ivan Leite
Gostaria de poder ser mais sutil, mas a realidade me impede. Sim estamos morrendo ao vermos amigos, conhecidos, desconhecidos morrerem. não lá na China, mas moradores aqui da esquina.
Sim, estamos morrendo nas vielas e periferia de nossas cidades. Culpados existem ou vítimas são todos?
Os pais de família, com seis filhos, que moram em uma casa conjugada, de quarto, sala e cozinha num único cômodo - e não me refiro a um loft, e sim a uma moradia popular das que existem aos milhões -, conseguem manter que distanciamento social?
Alguns deles, como dádiva, ainda preservam o emprego e deslocam-se diariamente aos seus trabalhos em coletivo por dezenas compartilhado.
As crianças sem aula, sem computador, sem internet, brincam com as outras crianças da vizinhança na rua ou na praça, sem qualquer máscara, pois já não se brinca de bandido e mocinho como nas gerações passadas.
A ida à igreja dominical, semanal ou diária deixou de ser uma atividade prazerosa em busca da paz espiritual, e tornou-se, quando existente, numa atividade de risco em que o espirro de um irmão em fé transforma-se numa angústia que dura dias, até dissipar-se a dúvida do contágio ou não pelo coronavírus.
Lockdown pleno? Impossível na realidade brasileira. Pode-se fechar comércio, serviços, indústrias, mas é inexequível fechar-se famílias numerosas em casas pequeninas. Insisto: elas não são poucas!
O provocativo título deste artigo - “Quantos morreremos para que eles sobrevivam? -, propositadamente não identifica quem são os “nós” e nem tampouco os “eles”, mesmo porque o ser eu ou você pode ser uma mutante realidade, permanece em aberto, sem respostas conclusivas, bem fundamentadas.
Estamos diante de um morrer-se pela inanição da falta do pão e morrer-se pela depressão da falta de opção. E aí?
[*] É engenheiro elétrico, empresário, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Estância.