As feiras, como as conhecemos hoje, tiveram origem na época medieval, entre os séculos XI e XVI, embora existam registros de que elas já existiam desde 500 a.C., em civilizações antigas. É um fenômeno econômico e sociocultural decorrente de aglomerados de pessoas e barracas nas ruas, em geral aos domingos, próximos de igrejas, onde se comercializam diversos produtos, como alimentos, artesanato, peças de vestuário, entre outros, com preços mais baratos. Em todo o mundo, mesmo com o surgimento de supermercados, shoppings e lojas, elas continuaram em todas as partes do mundo, mantendo uma das mais antigas tradições da humanidade.
Feira em rua de uma cidade da Provença (França), logo no início da rua onde se realizava a feira.
Em muitos países da Europa, as feiras são eventos marcantes em grandes metrópoles como em cidades interioranas, na sua maioria sendo verdadeiras atrações para a população local e visitantes, tanto que são incluídas como atrações em calendários turísticos dessas cidades.
Além de ser um local onde produtores locais podem expor seus produtos de forma a gerar emprego e obter renda para seu sustento na própria região em que moram, sem necessidade de migração, fortalecendo a economia local e, por outro lado, possibilitando aos consumidores locais e visitantes a oportunidade de convivência e de destaque dos produtos da região.
Feira na Grécia, em mercado de pescados.
Essas feiras ocorrem, em geral, em ruas ou praças pré-determinadas, nas quais os organizadores contam com padrões sanitários de bom nível, diferentes tipos de serviços de apoio adequado, barracas uniformes de beleza plástica e até mesmo a presença de postos de saúde em condições de atender emergências, e, também, serviços de segurança. Em muitas dessas feiras, são dados destaques a produtos regionais classificados em categorias que expressam os diferentes padrões de qualidade, de forma a atrair consumidores de diferentes origens.
Nas minhas viagens externas, sempre que possível, incluo no meu roteiro a visita às feiras. Algumas das fotos aqui expostas foram tiradas na França, Holanda, Itália, Portugal e Grécia, permitindo-nos visualizar tais feiras, sua organização, limpeza e o prazer de servir e ser servido nesses locais.
Feira na Holanda; olha a limpeza e a organização.
Considero que meu desejo de conhecer feiras nessas viagens reflete muito minha vivência em Estância, quando meus pais e familiares me levavam junto nas suas idas semanais à feira da minha cidade natal, acho que, a partir do final dos anos 40, nos meus anos de criança.
Eram momentos deliciosos essas idas às feiras, tanto no caso da feira principal da cidade, próximo da Praça da Matriz, como na feira do Porto d’Áreia, à beira da maré. Via meus pais e familiares cumprimentando e conversando com conhecidos, deixando-me entender que era o dia da maior convivência social deles e, acho, de quase todos que frequentavam esses espaços. Para mim, pareciam lugares agradáveis, limpos, bem cuidados. Mais adiante, já jovem e, depois, quando já residente fora de Estância, a ida à feira era um momento especial de adquirir produtos que faziam parte da minha alimentação, desde minha infância. E lá deparava-me com amigos e conhecidos meus e de meus familiares. Gostosura pura!
Mais outra foto de feira, na região de Marselha, na França.
Nas minhas últimas idas à Estância, continuo indo à feira local, mas sem a atração e o entusiasmo anterior, por me parecer – e acho que também para os feirantes e demais frequentadores, inclusive visitantes - um local sujo, desorganizado, sem padrões estéticos e sanitários adequados, com mínimos espaços para andar e comprar produtos. É uma pena!
Todo o potencial que a feira de Estância poderia representar para a realização de negócios, tanto no local onde se realiza, como no comércio da cidade e outras áreas da cidade e nas demais atividades econômicas da região, acaba não sendo materializado suficientemente. Considero que o dia de feira é o mais movimentado da cidade, com várias pessoas circulando nas ruas e fazendo negócios, com impactos no nível de emprego, geração de renda e de estímulos positivos para desenvolvimento da economia local, nos seus diferentes setores produtivos, como na agricultura, no comércio, nos serviços, nas atividades industriais e no turismo.
Feira de rua, também na Provença (França), logo no início da manhã.
Por isso tudo, fica evidente a importância de que a feira seja objeto de muito maior atenção e cuidado por parte de autoridades municipais, dos empresários, incluindo os micro produtores, e também por parte de toda a população local, como ocorre em várias outras cidades, especialmente no continente europeu.
(*) José Carlos Oliveira
Estanciano, economista e professor da Universidade de Brasília
É maravilhoso saber da sua admiração por algo tão representativo da cultura de um povo.Talvez não fosse o caso comparar padrões de limpeza e estética já que tais aspectos diz mais sobre os que detém o poder de organização do que o seu próprio povo.De todo modo, é bom saber que a feira resiste aos enclausuramentos dos "supermercados" "aparentemente" limpos!Abço.
Zé Carlos no seu artigo você fala muito bem da importância da feira em uma cidade, da organização a geração de emprego e renda para seu povo, além da tradição de séculos. Parabéns pelo conhecimento e inteligente comentário.
Zė Carlos, você consegue traduzir o sentimento de quem realmente tem prazer em frequentar feiras. Aqui em Aracaju não deixo de ir à feira toda semana fazer compras.Parabéns pelo artigo.
Parabéns ao ilustre Estanciano Ze Carlos Oliveira.qualificado para ministro da economia de qualquer País.