Criado a partir de um grupo de amigos que tinha um time de futebol, em 1962, o Rasgadinho ganhou forma, cores, estrutura e se tornou um dos principais blocos de ruas do carnaval sergipano, além de ser Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado de Sergipe. Por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), os eventos carnavalescos foram proibidos no estado. Ao AjuNews, o organizador do bloco, Robson Viana, lamentou a não realização de eventos e disse que o sentimento é de “tristeza”.
À reportagem, Robson destacou as milhares de mortes pela doença no país além dos prejuízos enfrentados por uma cadeia produtiva com a não realização dos eventos carnavalescos em 2021. “Sentimos muito não ser possível realizar o evento neste ano, porque não é só o folião que perde, mas toda uma cadeia produtiva que abastece e faz acontecer os eventos no Brasil e no mundo que, neste momento, estão completamente desamparados, sem norte, muitos sem condições de sobreviver”, frisou Robson.
O coordenador do bloco afirmou que não há nenhuma programação especial para este ano e adiantou que está avaliando alguns projetos. “O Rasgadinho não é só o Carnaval. Temos alguns eventos que antecedem o período carnavalesco e esquentam para o reinado de Momo. Neste momento, temos alguns projetos em estudo, mas nada concretizado”.
Questionado sobre uma possível mudança de estrutura no pós-pandemia, Viana afirmou que a organização se adaptará às novas tendências dos eventos. “A nossa essência nunca mudará, somos uma festa popular, mas se for para melhorar nossa entrega, iremos nos adequar e formatar um evento que possa apresentar a melhor experiência possível para nosso folião. (…) 2022 pode ser uma grande oportunidade para fazermos um carnaval espetacular, o Rasgadinho pós-pandemia, sonhamos com isso”, adiantou.
História do Rasgadinho
Ao AjuNews, o fundador do Rasgadinho, Leopoldo dos Santos, contou um pouco da história e da estrutura inicial do bloco. “Eu formei um bloco de rua com uns amigos, que a gente tinha um time de futebol. Chamei a turma e em 62 a gente desceu para o centro de Aracaju”. Leopoldo relatou que nos primeiros anos levou para o desfile do bloco, bonecos com três metros de altura, a exemplo de um com a cara do cantor Roberto Carlos e de Maria Feliciana, sergipana que já foi considerada a maior mulher do mundo.
Nos anos 80, o Rasgadinho teve uma pausa, sendo retomado em 2002, após uma conversa entre seu Leopoldo e o ex-deputado estadual e atual organizador do bloco, Robson Viana. A verdade é que nesses quase 60 anos, o Rasgadinho marcou gerações e grandes artistas já passaram pelos palcos ou desfilaram no cortejo deste gigante sergipano. Leopoldo relembra que um dos momentos marcantes foi quando o cordão do Bola Preta, o mais antigo bloco de carnaval do Rio de Janeiro, desfilou no Rasgadinho, além dos shows da cantora Karla Isabella, conhecida como “musa do rasgadinho”.
Bandas que fazem parte da história do bloco
O Rasgadinho marcou não só os foliões que acompanharam o bloco como também bandas e artistas que passaram por ele, a exemplos da Orquestra Rasgadinho e da banda Indomada. O coordenador da orquestra, Emanuel Rocha contou que o momento mais marcante com o bloco foi quando conseguiu reunir uma orquestra com 40 componentes, “coisa inédita no carnaval sergipano”, relembrou. Emanuel explicou que a ideia de criar o grupo musical para o bloco surgiu a partir da necessidade de se formar uma orquestra de frevo a pedido do Ministério da Cultura.
Já Nivaldo dos Santos, responsável pela banda Indomada, relembra que um dos principais momentos do grupo com o Rasgadinho foi quando dividiu o palco com Antônio Baixinho, em um trio elétrico e arrastou multidões. “Foi muito emocionante tocando e cantando” juntos no bloco, relatou Nivaldo.
Com a não realização de eventos, os coordenadores dos grupos musicais contabilizam prejuízos. Emanuel contou que a pandemia trouxe grandes prejuízos para todos do setor cultural. “A banda foi prejudicada tanto no sentido literal quanto financeiro, tivemos um prejuízo de aproximadamente 35 mil reais”, relatou. De acordo com o organizador da orquestra, todos os músicos estão sem perspectivas para este carnaval, apenas aguardando o próximo evento.
Nivaldo também conta que o prejuízo para a banda é “incalculável”. “Um ano perdido são sonhos perdidos e não volta jamais. Mas vamos partir para frente, a esperança é a última que morre”, disse. Segundo o coordenador da banda, o grupo fará uma participação em um clipe e estima que surjam convites para banda ao longo de 2021.