São séculos colecionan do histórias nos quatro cantos do país. Por mais que a grande maioria dos brasileiros possa imaginar que o carnaval é uma festa genuinamente da cultura nacional, a verdade é que ela foi infiltrada por colonizadores portugueses entre os séculos XVI e XVII. Historiadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) indicam que, do modelo original, pouco restou. A exceção fica por conta apenas das máscaras e da euforia festiva que envolve desde crianças ainda de colo, aos idosos. Uma movimentação que impulsiona a economia, mexe com o desenvolvimento do país, mas que, diante da agressividade imposta pelo coronavírus desde fevereiro do ano passado, precisou silenciar milhões de pessoas.
Para apresentar com o máximo de zelo sobre o quê essa festa representa para os sergipanos, o JORNAL DO DIA foi até a Maloca, no bairro Getúlio Vargas, em Aracaju, para conversar com Dona Doca. Uma das responsáveis por impulsionar o Bloco Rasgadinho, ainda na década de 60 após ser criado pelo Sr. Leopoldo, ela observa a festa como um momento único para comemorar as apresentações musicais, bem como gerar renda para a família. A compreensível suspensão da festa em meio à pandemia que, inclusive, já causou mais de 2.860 mortes somente em Sergipe, serve novamente de lição para que a população sinta a ausência da festa e multiplique os cuidados contra a covid-19. Dona Doca explica com detalhes:
"Vejam que já na primeira onda dessa doença não tivemos São João; agora, é a vez de passar em branco durante o carnaval. Se em junho do ano passado não tivemos nem fogueira na porta, agora, nesse exato momento, não temos confetes, frevo, axé, samba... Eu sou uma apaixonada pelo carnaval; é nele que não somente eu, mas uma imensidão de pessoas conhecidas minhas, brincam e ao mesmo tempo vendem cerveja, água, refrigerante, churrasquinho, o que quer que seja para ter um dinheiro extra. Na primeira onda não tivemos festa junina, nessa segunda não temos carnaval, e se a gente não se cuidar de forma coletiva mais uma vez, não teremos novamente o São João em uma possível terceira onda da doença".
Mesmo o Brasil tendo iniciado o processo de vacinação, em 17 de janeiro no estado de São Paulo, o professor Lysandro Pinto Borges, que está à frente da Força-Tarefa da UFS, defende que para que haja um combate real da doença é preciso promover uma vacinação de rebanho, ou seja, ao menos 140 milhões de pessoas vacinadas no Brasil, sendo cerca de 1,2 milhões somente em Sergipe. Questionado sobre a necessidade de suspender eventos que promovam a aglomeração de pessoas, a exemplo do carnaval, o professor compartilha com a suposição apresentada por Dona Doca, e também destacou que os festejos juninos desse ano também estão ameaçados.
"Trabalhamos em tempo integral com a realidade dos fatos; verdades que muitas vezes as pessoas não gostam de ouvir, mas temos a missão ética de compartilhar pelo bem geral. Não temos como prever um combate à doença sem que ao menos 70% da população esteja vacinada. São Paulo iniciou as vacinas, e, logo em seguida, os outros estado também começaram. Se o país tivesse investido nos estudos e testes das vacinas ainda no meio do ano passado, possivelmente esse número que é hoje de cinco milhões de brasileiros vacinados, seria hoje muito maior. Sem essa imunização geral, realizar festas com multidões é um erro gigantesco que pode causar a vida de muitas pessoas".
Em pronunciamento oficial realizado no último dia 04 de fevereiro, o governador Belivaldo Chagas anunciou que, em virtude da vulnerabilidade sanitária provocada pela covid-19, o estado de Sergipe se unia ao grupo de 20 unidades federativas brasileiras que naquele instante já haviam decretado a suspensão do ponto facultativo referente aos festejos carnavalescos. A decisão publicada no Diário
Oficial do Estado enaltece ainda que está proibida a realização de qualquer manifestação festiva que aglomere foliões nos 75 municípios sergipanos. A medida foi adotada pelo chefe do Poder Executivo Estadual após nova reunião promovida pelo Comitê Técnico-Científico e de Atividades Especiais (Ctcae).
A medida foi apoiada por todos os municípios pertencentes à região metropolitana de Aracaju; prefeitos da Barra dos Coqueiros, São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e da capital sergipana, também garantiram intensificar as fiscalizações para fazer valer as exigências do decreto.
Fechado - O recesso de carnaval, nesta segunda e terça-feira, 15 e 16 respectivamente, será de portas fechadas para comerciários de rua, agências bancárias, poder judiciário, Tribunal de Contas, Ministério Público Estadual e Federal, escolas de todos os níveis educacionais, supermercados, e consultórios médicos.
Sobre o funcionamento dos bancos, de acordo com o cronograma de atendimento ao público, no dia 17 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, o expediente começa a partir das 12h, com encerramento pontual das atividades dentro do horário normal de fechamento das agências. A exceção é direcionada para as unidades bancárias que desde o início da pandemia têm concluído os serviços às 15h; nesses locais específicos, o início do atendimento será antecipado para garantir o mínimo de três horas de funcionamento.