Até meados do século XIX, era a canoa que transportava as riquezas estancianas e de seus vizinhos, na altura onde atualmente se encontra a Ponte da Cachoeira. Enquanto o antigo sonho não se realizava, uma barca foi providenciada por um antigo governante para minimizar o sofrimento dos comerciantes e dos animais. Após a obtenção da sua primeira ponte de alvenaria, Estância revolucionaria suas relações comerciais, porque havia conquistado “a melhor ponte da Província”. Decorriam apenas 10 anos que a antiga Vila lograva o posto de cidade (em 1848). Porém, ainda era uma época, que, pelas estradas, se transportavam as mercadorias em mulas e carros de boi. Mesmo assim, a Cidade Jardim prosperava.
Mas o tempo e o abandono fizeram a ponte declinar. Relativamente baixa
, depois de mais de 100 anos e de ter suportado enchentes avassaladoras dos rios Piauí e Piauitinga, já que fora construída na confluência dos mesmos, na de 1947, a Ponte da Cachoeira passou a ficar, “à beira do abismo”. A enchente também destruiu parte da então Fábrica de Tecido Santa Cruz, cerca de trezentos metros abaixo, assim como desabrigou muitos moradores no Porto d’Areia. Agora era preciso pensar em uma outra ponte. Uma bem alta!
Entre 1955 e 1959 o estado passou a ser governado por Leandro Maynard Maciel (1897-1984). Uma administração, então muito combatida pela oposição. Um governo eivado de denúncias de violência, apontado pela imprensa como “truculento”, “desumano e perverso”. Contudo, tinha boa aproximação com os políticos de Estância, inclusive com o prefeito da época Humberto Ferreira. Após longos pedidos do povo estanciano, a ideia da construção de uma nova ponte começa a ser levada ao governo federal, sendo inclusive - faça-se justiça - um pedido, no começo dos anos 1950, do próprio Maciel, desta feita, como deputado federal.
Os problemas da velha ponte eram bem conhecidos por Leandro Maciel. Ora tido como “fazendeiro, no norte e sul do estado”, como intitulou um jornal aracajuano, costumava passar por ela nas viagens para sua fazenda denominada “Sete Brejos”, no município de Indiaroba. Em face dos atrasos, somente em 1956 a Ponte da Cachoeira foi finalizada (na presidência de Juscelino Kubitschek), sendo inaugurada no dia 27 de janeiro de 57. A partir daí a cidade começou um novo tempo. Reduziram-se os carros de boi e aumentaram-se o tráfego de carros e caminhões. Hoje não é possível imaginar Estância sem sua ponte e, por isso, ela precisa ser bem cuidada, segura e ser cômoda a quem trafega. Afinal, pela mesma, todos os dias, passam centenas de carros oriundos das mais diversas regiões do país.
No entanto, sendo internamente uma ponte que interliga o centro da cidade a cinco comunidades vizinhas (Rua da Cachoeira, Avenida Fernando, Candeal, Conjunto Albano Franco, e Conjunto Carmem Prado), muitos desses moradores põem suas vidas em risco ao fazerem uso dela se deslocando a pé, de bicicleta, carroças, etc. quase se misturando aos veículos. Com uma mureta muito baixa e desgastada, além de precária iluminação e sem a devida melhoria, a ponte vem preocupando os transeuntes. Já há muitos anos, o povo da cidade, através da imprensa escrita e falada, tem levantado suspeita acerca da sua segurança como um todo. O intenso vai e vem dos pesados caminhões que trafegam na BR 101, faz até alguns acreditar que A PONTE DA CACHOEIRA VAI DESABAR!
Particularmente, há seis anos, quando escrevemos o artigo “Ponte da Cachoeira: um marco histórico abandonado”, no jornal A Tribuna Cultural, em que relatamos a história da primeira ponte, havíamos chamado a atenção das autoridades sobre tal “abandono”. Nele, sugerimos, para maior segurança dos pedestres, fosse feita uma segunda passagem para as pessoas, independente da dos veículos. Para tanto, bem poderia se edificar uma nova passagem utilizando-se as bases da antiga ponte, que ainda se encontram praticamente intactas. Mas, para essas mesmas autoridades, os reclamos do povo continuam seguindo o rito do famoso adágio: entra em um ouvido e saiu no outro!
Assim, enquanto o alerta popular não consegue romper a preguiça dos nossos representantes, o cruzar de braços vão alimentando o atraso e a insegurança do povo que lhe outorgou o direito de representá-lo.
*Acrísio Gonçalves de Oliveira
(*) Pesquisador, radialista, professor do Estado e da Rede Pública de Estância