Responsável por iniciar uma revolução no modo de administrar e conduzir obras públicas, o ex-governador de Sergipe, engenheiro João Alves Filho (DEM) morreu no final da noite desta terça-feira, 24, aos 79 anos. O político, que tinha Alzheimer, estava internado na UTI do Hospital Sírio Libanês, em Brasília, desde a última quarta-feira (18), após sofrer uma parada cardíaca. No último final de semana foi diagnosticado com Covid -19.
O ex-gestor deixa esposa, a senadora Maria do Carmo Alves; três filhos: João Alves Neto, Maria Cristina Alves e Ana Maria Alves; além de netos.
Ainda não há informações sobre local e horário do velório e sepultado do corpo do ex-governador.
“JOÃO CHAPÉU DE COURO”
João Chapéu de Couro, como era conhecido em virtude de sua presença ativa no semiárido e pela defesa irrestrita dos sertanejos e do Rio São Francisco, governou Sergipe por três mandatos (1983-1987; 1991-1994 e 2003-2006) e também foi prefeito de Aracaju por duas vezes (1975-1979 e 2013-2017).
Sua inteligência e habilidade política, elogiada por seus adversários, foram além-fronteiras, sendo convidado pelo então presidente José Sarney para ser ministro do Interior (1987-1990), um dos primeiros ministros negros da história do país.
Querido por todos, principalmente pelas pessoas mais humildes, João, ou carinhosamente “Negão”, fez de Sergipe um canteiro de obras todas às vezes em que esteve no posto de Chefe do Executivo, com projetos ousados e de grande envergadura, a exemplo da construção da Orla de Atalaia, da ponte Aracaju/Barra, da Rota do Sertão, além de grandes avenidas e até bairros. Um homem que se dedicava à leitura, religioso, e estava sempre à frente do seu tempo.
ALZHEIMER
Nos últimos anos, após ser diagnosticado com Alzheimer – doença neurodegenerativa – João foi morar em Brasília, ao lado da senadora Maria, sua companheira da vida inteira. Com o avanço da doença, a memória já não era mais a mesma e a saúde estava cada vez mais debilitada.
Em 2019, os primeiros sustos: no mês de maio daquele ano, o ex-gestor foi hospitalizado após cair no banheiro de casa e sofrer um corte na cabeça, recebendo alta médica dias depois.
No dia 15 de julho, João foi internado às pressas por complicações decorrentes do Alzheimer, onde precisou ser submetido a traqueostomia e gastrostomia. Devido à fragilidade da saúde, o sorriso largo do Negão foi, junto com o Alzheimer, se perdendo no tempo. Nos últimos anos de sua vida, vinha sendo mantido em home care (assistência médica domiciliar) na capital federal.
*BIOGRAFIA
Nasceu na capital sergipana, Aracaju, no bairro Santo Antônio, filho do empresário e construtor civil João Alves e Dona Maria de Lourdes Gomes. Fez seus estudos iniciais na capital e em 1961 ingressou na Escola Politécnica da Universidade da Bahia, graduando-se em engenharia civil em 1965. Em 1970, fundou a Habitacional Construção S.A, que se tornou, por muito temo, uma das maiores empresas da construção civil em Sergipe e no Nordeste.
Iniciou sua vida pública como Prefeito de Aracaju, nomeado pelo então Governador José Rollemberg Leite. Filiado à Arena (Aliança Renovadora Nacional), tornou-se muito popular em sua gestão, adquirindo a fama de tocador de obras e de um grande administrador. Sua gestão encerrou-se em 1979, sem ter um projeto rejeitado pela Câmara, que tinha na sua formação a maioria de vereadores filiados ao MDB.
Em 1979, entrou para o Partido Popular (PP) do qual foi um dos fundadores, mas pouco tempo depois se afastou da vida política e em 1982 o PP, partido que fundou, foi incorporado ao PMDB, partido que sucedeu o MDB.
Em 1982 retorna às eleições diretas no País e surge um novo contexto político; nesse novo momento, o então governador do Estado, Augusto Franco, convida João Alves a filiar-se ao Partido Democrático Social (PDS), partido sucessor da Arena. Em seguida, foi indicado ao Governo do Estado, apoiado por Albano Franco, presidente da Comissão Executiva Regional do PDS, e ainda apoiado por várias lideranças Políticas do Estado.
Saindo-se muito bem, com uma larga vitória, tendo como seu vice Antônio Carlos Valadares, assumiu o governo em 15 de março de 1983. Em seu primeiro mandato, com o apoio do Banco Mundial, criou o projeto Chapéu de Couro, que beneficiava a região do agreste e semiárido com a perfuração de poços artesianos e a construção de cisternas, estradas vicinais, redes de energia elétrica, escolas e postos de saúde.
A popularidade dele aumentava a cada ano, mas politicamente os problemas começaram a surgir e em março de 1985 João Alves rompeu com a família Franco, ingressando no extinto Partido da Frente Liberal (PFL), que apoiara a candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República.
Com a morte de Tancredo, assume a Presidência o seu vice, José Sarney, e João Alves o apoia, mesmo fazendo algumas críticas em relação a questões econômicas.
Em 1985 esteve envolvido com a disputa eleitoral para a Prefeitura de Aracaju, que tinha como candidato o deputado Jackson Barreto, para tanto o PFL aliou-se ao PMDB.
Em 1986 o PFL tentou manter-se no poder para a sucessão de João Alves, mas, as articulações propostas não deram certo, tornaram-se inviáveis. Sendo assim, João passa a apoiar o seu vice Antônio Carlos Valadares e com algumas alianças, consegue a vitória, tornando-se o único Governador do PFL no País.
Após sair do governo, João é empossado no Ministério do Interior, em um momento conturbado na política nacional, que passava por uma disputa interna muito acirrada, levando o PFL a romper com o Governo, fato que João foi contra, apoiando o Presidente e, inclusive, o projeto de mandato de cinco anos para Presidente, que não foi aprovada na Assembleia Constituinte (1987-1988).
O tempo em que foi Ministro enfrentou muitos desafios no País, em 1º de março de 1990 deixa o Ministério que foi extinto pelo Presidente Collor.
O retorno à vida política no Estado leva-o, novamente, à disputa do Governo do Estado. Mesmo com muitas discussões internas, ele consegue vencer no 1º turno. Esse pleito foi histórico porque foi a 1ª vez no Brasil que três negros tornam-se governadores.
Logo no início de seu governo, sofre muitas críticas por decisões que tomou em relação a determinados cargos públicos. No inicio de 1992 instalou-se no Brasil uma crise política que levou ao impeachment do Presidente, mas em relação a esse período também foi muito conturbado, mas, ele conseguiu terminar seu mandato.
Em 1996 ele se envolve no processo eleitoral da Prefeitura de Aracaju, buscando eleger sua esposa, Maria do Carmo, o que não conseguiu. Em 1998, enquanto sua esposa era eleita senadora, ele tentava novamente o Governo do Estado, mas foi derrotado por Albano Franco. Em 2002 saiu novamente candidato e em uma disputa acirrada com Albano Franco no segundo turno, saiu vitorioso. Na sua terceira gestão criou a Secretaria de Combate à Pobreza; em 2006 candidatou-se novamente ao governo do Estado perdendo para o então petista Marcelo Déda.
Em 2012 candidatou-se mais uma vez a Prefeitura de Aracaju, sendo eleito e terminando seu mandato em 2016, encerrando a sua vida pública.
É membro da Academia Sergipana de Letras.
Em todos os seus governos teve a marca do empreendedorismo e algumas obras se destacam como:
– Criação da Orla da Atalaia;
– Projeto Platô de Neópolis;
– Construiu o Bairro Coroa do Meio;
– Construiu a Ponte Godofredo Diniz, que liga a Coroa do meio ao centro de Aracaju;
– Construiu o Huse, antigo Hospital João Alves;
– Implantou 14 avenidas interligando os bairros de Aracaju;
– Construiu o Parque da Cidade;
– Construiu a 2ª Rua de Pedestre do Brasil;
– Implantou o 2º sistema de transporte integrado do Brasil;
– Construiu a Ponte Aracaju/Barra de Coqueiros;
– Viabilizou a construção do Porto de Sergipe.
*Biografia extraída do Museu Olímpio Campos