Considerada serviço indispensável, a distribuição de energia está ligada à execução dos serviços de saúde, abastecimento de água, afeta a comunicação, a segurança, a rotina e as necessidades básicas da população. Agora imagine viver sem ela em pleno século 21? O blecaute ocorrido no Estado do Amapá depois de um incêndio em uma subestação de uma empresa privada no dia 3 de novembro, afetando 13 dos 16 municípios, incluindo a capital, Macapá, gerou transtornos e o apagão tem levantado questionamentos sobre as condições de segurança do sistema energético de Sergipe.
O incêndio no transformador, provocado por um superaquecimento em uma peça do equipamento, conforme laudo, fez com que cerca de 700 mil pessoas tivessem o fornecimento de energia suspenso e as dificuldades duraram três semanas. A população teve o fornecimento limitado, em sistema de rodízio. Na noite do dia 17 passado, as cidades que já passavam por racionamento voltaram a sofrer um novo apagão e o uso de geradores termelétricos foi uma tentativa de solucionar o problema.
Nesta terça-feira (24), o fornecimento de energia foi restabelecido e o rodízio, suspenso, depois que a empresa privada concessionária do serviço público conseguiu colocar em funcionamento um segundo transformador, permitindo o restabelecimento do fornecimento de luz. Em Portaria publicada dia 21, o Ministério do Desenvolvimento Regional reconheceu o estado de calamidade pública no Amapá. Conforme o que foi apontado por especialistas, apenas uma única subestação controla quase a totalidade da energia do estado e não houve alternativas, um Plano de Contingência, para se prevenir contra a falta de energia prolongada.
Sergipe é um estado gerador de energia, através de meios como hidrelétrica, eólica e termelétrica – essa última a maior da América Latina. No estado, as redes elétricas são de responsabilidade da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a Chesf (Linhas de 230 kV, 500 kV e 700 kV), que atua na geração e transmissão de energia em alta e extra-alta tensão; e da Energisa, empresa concessionária de distribuição de energia elétrica (linhas inferiores a 230 kV). Em Sergipe são duas distribuidoras, uma delas a Energisa que, dos 75 municípios sergipanos, atende a 63.
Em entrevista à FM Sergipe, o professor e jornalista André Brito, ex-assessor de comunicação da Energisa, explica que problemas nas subestações são possíveis de acontecer, no entanto, assinala que é preciso, sobretudo, preveni-los - inclusive para a concessionária evitar multas em caso de deixar uma região com mais de quatro horas sem energia, por exemplo.
“Quem trabalha no setor sabe que pode acontecer algum problema. Uma pipa na rede pode causar interrupção de energia tranquilamente, um animal que entre na subestação, as pessoas roubam cabos de energia dentro das subestações, vandalismo, abalroamento em postes, atiram na rede elétrica, nos isoladores. Há muita interferência das pessoas na rede. Olhar uma região inteira abastecida com uma única subestação não tem um plano de contingência para atender a população numa necessidade como essa, pelo menos não faz parte da visão moderna como as empresas de energia elétrica enxergam esse negócio”, pontua Brito.
Com o problema registrado na subestação, talvez a principal da região do Amapá, que atende quase a totalidade dos municípios, um Plano de Contingência, como outras subestações, seria primordial para evitar tanto tempo sem energia. “Existe um plano de contingência? Não. Se houver algum problema na subestação, para tudo”, diz Brito, exemplificando que o sistema em Sergipe, da distribuidora Energisa, possui várias subestações. Caso haja problema em uma delas, existe atualmente um “circuito em anel” que pode isolar a subestação que está danificada ou avariada e abastecer a região que é atendida por ela por outras subestações.
“É uma contingência, tem que ter esse plano porque transformadores de subestação, por exemplo, não se encontra na prateleira do mercado”, acrescenta Brito, ressaltando ainda as dificuldades para logística desses transformadores, que pesam toneladas. Uma contingência mais viável na situação do Amapá, sugere ele, seria abastecer através de geradores distribuídos em vários pontos da região atingida, “como gerador de um shopping, de uma empresa, indústria, que tem carga alta. Mas não consegue suportar por muito tempo”, explica André Brito.
O Brasil possui um sistema elétrico que interliga quase todas as suas regiões, já que o único estado que ainda não faz parte dessa rede é Roraima. Conforme André Brito, o plano de contingência em Sergipe, por questões da região, funciona bem, porém, sendo o sistema elétrico do país interligado, um aspecto positivo podendo receber energia de qualquer região, existe um fator negativo, já que, quando acontece algo, pode reverberar em todo ou quase todo o país, como ocorreu no passado por conta de uma queimada em um canavial em Tocantins embaixo de uma linha de transmissão, exemplificou.
O sistema funciona em três processos: geração ou produção de energia; a transmissão e, por fim, a distribuição para o consumidor final. Para a energia chegar às pessoas, primeiro sai do processo de produção ou geração, viaja pelas linhas de transmissão passando a enviar para o sistema interligado com altíssima voltagem. Chegando ao ponto de transmissão, Brito explica que a energia não pode chegar às casas com essa voltagem e passa por subestações, “que são filtros de redução de energia”. A voltagem da energia é reduzida para chegar às residências. No processo de distribuição ainda existem os transformadores nos postes que irão transformar ou reduzir a energia para que chegue ao consumidor.
Em Sergipe, a Energisa conta atualmente com 33 subestações e 50 transformadores de potência, e segundo a empresa dentro das subestações os equipamentos são em quantidade suficientes para que, caso haja um defeito, ela possa se sustentar.
"As subestações são dimensionadas com quantidade de transformadores suficientes para transferência de carga da própria subestação ou de outras subestações através das redes de distribuição", afirma o porta-voz Thiago Martins, gerente de Operações da Energisa no estado. Ele relata ainda que a empresa possui equipes especializadas para atuação imediata, disponíveis 24 horas por dia, e estão dispersas na área de concessão de forma a agilizar o restabelecimento de energia.
Ao F5 News, a empresa apontou as alternativas para que, num possível problema como o ocorrido no Amapá, o estado não fique à mercê de um apagão. “A Energisa Sergipe conta com um Plano de Contingência de Transformadores com equipamentos reservas, bem como ações estruturadas para recomposição em caso de sinistro com algum equipamento. Além disso, a Energisa Sergipe conta com 5 pontos de suprimento a partir da Transmissora CHESF, sendo Subestação Jardim e Nossa Senhora do Socorro que atendem a região Leste e Sul da área de concessão, Itabaiana que atende a região Centro e Oeste, Penedo que atende a região de Propriá e Zebu que atende a região de Canindé de São Francisco”, explicou.
A empresa também foi questionada em como o sistema está dimensionado para garantir o fornecimento de energia, mesmo em momentos de alta demanda de consumo no estado. Segundo o porta-voz, “a empresa possui todas as subestações preparadas para atendimento aos picos de demanda, bem como um plano de investimento com horizonte de 10 anos, o qual é reavaliado anualmente de forma a garantir o suprimento de energia de acordo com a demanda do estado", afirma.
