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Sergipe

DOCUMENTÁRIO RETRATA A VIVÊNCIA DAS TRAVESTIS DO CENTRO DA CAPITAL

“Travestis da Rua da Frente”, contando a realidade de algumas dessas mulheres que estão estabelecidas no centro de Aracaju.

Publicada em 12/09/20 às 19:07h - 232 visualizações

John Santana/Da equipe JC


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DOCUMENTÁRIO RETRATA A VIVÊNCIA DAS TRAVESTIS DO CENTRO DA CAPITAL
 (Foto: DIVULGAÇÃO)

As ruas são, para muitos, locais de convívio social, divertimento, pontos de encontro com amigos, colegas. Mas, para as travestis, elas representam algo mais necessário e compulsório: a prostituição. E isso é facilmente explicado. Cerca de 90% dessas brasileiras são obrigadas a tirar o sustento do próprio corpo. Os dados são da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e revelam a realidade da exclusão social vivida pelo público no país que mais mata LGBTQIA+ no mundo.

Condicionadas às ruas escuras, becos e vielas das principais cidades do país, essas profissionais do sexo buscam esses espaços como meios de sobrevivência, sobretudo pela falta de oportunidades no mercado de trabalho formal. Isso porque, ainda conforme levantamento da Antra, realizado em 2019, pouco mais de 4% dessas mulheres tinham carteira assinada. A falta de acesso à educação também colabora com a presença do público nas esquinas. A Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (ABLGBT) expõe que 76% das pessoas trans já sofreram algum tipo de exclusão no processo educacional e, por conta disso, somente 18% concluem o ensino.

Doutora em Antropologia pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), a pesquisadora Elayne Passos estuda a temática há alguns anos e produziu um minidocumentário, intitulado “Travestis da Rua da Frente”, contando a realidade de algumas dessas mulheres que estão estabelecidas no centro de Aracaju.

“A pesquisa surgiu da necessidade de compreender os variados usos, embates e simbologias nas ruas do centro de Aracaju, principalmente em regiões estigmatizadas. Nas ruas, percebi a presença de um grupo de travestis mais velhas que não só trabalham, mas vivem naqueles espaços. Então, surgiu a curiosidade de investigar como se dava a relação delas com esses espaços e como cada canto alterava a identidade, vivência e experiência dessas mulheres. Meu objetivo foi buscar perceber a trajetória dessas travestis se misturando ao centro da capital que, assim como elas, está em constante transformação. Também foi uma forma de perceber como os corpos delas são públicos e que, assim com as ruas do centro, passam por processos de agressões e sucateamento. As narrativas delas, que estão às margens do poder público, nas esquinas, são importantes. Porque elas estão há décadas na região e perceberam, ao longo do tempo, as transformações locais e de suas vidas. Elas são parte e trazem as experiências do cotidiano da região”, relata

Segundo a pesquisadora, durante a produção mais de 30 travestis relataram dores e vivências de serem quem são. Mas, no documentário, cinco delas foram ouvidas. "Existem mulheres que chegaram lá aos 13 anos e estão com mais de 40 anos hoje. Embora essas mais velhas sejam em menor número, dado a baixa expectativa de vida dessas mulheres que, infelizmente, ainda é de 35 anos", explica.

A antropóloga revela que, na pesquisa, pode-se perceber as transformações locais e como os impactos do planejamento urbanístico afetam a vida dessas pessoas. “O planejamento altera e modifica a realidade desses viventes e, na pesquisa, puder entender esse impacto como lógica dominante e que, por trás de projetos institucionais, a invisibilidade do público é promovida. Existe, para além de todo o processo de invisibilização, a resistência e o público cria estratégias para resistir e reivindicar os espaços. E isso transforma toda a configuração das identidades delas, pois as travestis, muitas vezes, constroem suas identidades nesses espaços”, afirma.

Além disso, Elayne reforça a necessidade de se reconhecer o público como pertencente aos locais e que, por conta disso, precisam ser amparados pelo poder público de maneira ampla e inclusiva. “Também serve para romper as noções de cidade higienizada, com a falsa ideia de hegemonia, mas que esquece esses atores e atrizes, que são invisíveis para a sociedade, mas que são estabelecidos e importantes nessas localidades”, finaliza.

Além de dirigir, a antropóloga também assina o roteiro do minidocumentário, que conta com apoio e produção de Díjna Torres, imagens de Pritty Reis e edição de Manuela Veloso. O material está disponível neste link.




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