Trabalhar o autismo na escola é uma questão delicada e que gera inúmeros debates. Afinal, não existe um consenso sobre o melhor caminho para a inclusão. Enquanto para uns o ensino regular deve ser adaptado ao aluno do TEA (Transtorno de Espectro Autista), para outros a criação de instituições especializadas é a melhor alternativa para que o aluno possa se desenvolver.
Independentemente de o ensino acontecer em escolas regulares ou especializadas, dialogar sobre a aceitação, o acolhimento, o respeito e a condição do autista é fundamental. Uma conversa franca é o primeiro passo para minimizar os ,estigmas, gerar clareza sobre o tema e buscar soluções possíveis para a inclusão.
Mais do que estabelecer regras e parâmetros para tratar sobre o autismo na escola, quando se trata da inclusão desse aluno, o que costuma ser mais efetivo é a criação de uma sólida rede de apoio envolvendo psicólogos, acompanhantes, professores, pais e a instituição de ensino.
Longe de esgotar esse tema bastante complexo, no post de hoje queremos chamar a atenção dos educadores para a inclusão dos alunos do TEA, gerando assim bons resultados tanto para o desenvolvimento desse aluno, quanto para a sua interação na sala de aula.
A POLÊMICA POR TRÁS DA INCLUSÃO
“Qual é o real significado da inclusão nas escolas?”, “Como é possível implementá-la no dia a dia?”. Essas são questões direcionadas não apenas aos educadores e escolas no Brasil. No mundo todo o conceito de inclusão gera dúvidas e discussões, ainda mais quando tentamos trabalhar esse conceito para alunos do TEA.
Como o TEA promove diferentes gradações relacionadas às dificuldades de desenvolvimento cognitivo do indivíduo, adotar um conceito rígido e que se aplica a todos os alunos acaba gerando mais problemas do que soluções. Segundo Garry Hornby, professor de educação da Universidade de e autor dos livros “Inclusive Special Education: evidence-based practices for children with special needs and disabilities” (em tradução livre “Educação especial inclusiva: práticas baseadas em evidências científicas para crianças com necessidades especiais e deficiências”), e “Controversial issues in special education”, (em tradução livre “Questões controversas sobre educação especial”), a grande questão é que até hoje não existe um consenso a respeito do que significa a inclusão na prática.
Desta forma, enquanto alguns países seguem o sistema finlandês que defende a educação especializada, outros apostam no modelo italiano que aposta na inclusão radical. No primeiro modelo, instituições e educadores sustentam que alunos com necessidades especiais devem ser colocados em classes regulares, no entanto, o ensino também pode ocorrer em outros ambientes especializados, como classes especializadas dentro da escola ou na ambientes de aprendizagem na comunidade. Já no segundo, a inclusão do aluno é considerada absoluta, ou seja, o aluno deve fazer parte de uma classe regular em todos os níveis de educação.
Segundo Hornby, o grande problema é que embora os dois sistemas visem a inclusão, na prática nenhum deles impede a exclusão do aluno. No caso das escolas especiais, por exemplo, além da questão da demanda de alunos que acaba impedindo a viabilidade desse tipo de ensino em alguns locais, a própria possibilidade de separar o aluno em um determinado momento do ensino já é, em si, segregadora. Em contrapartida, colocar o aluno em uma sala regular e inclusiva sem que ele tenha condições de acompanhar o conteúdo também é uma forma de exclusão.
Para o professor, no entanto, a inclusão radical tende a ser mais prejudicial, especialmente para aqueles alunos que possuem impedimentos de desenvolvimento mais severos. Isso porque o aluno sofre não apenas com a aprendizagem em si, mas também é comum passar por episódios de bullying e outras experiências discriminatórias. Hornby ressalta que os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento de uma criança, assim, começar o processo de escolarização em instituições especializadas pode ser bastante positivo.
A temática da inclusão é complexa e desperta diferentes reflexões acerca de qual é o tipo de inclusão que o aluno e sua família desejam e qual é a forma de inclusão que o sistema educacional está disposto e preparado a garantir. Conciliar esses desejos e possibilidades nem sempre é uma tarefa simples, e, justamente por isso, na prática, o diálogo e a busca por soluções são tão necessários.
COMO PROMOVER A INCLUSÃO DO ALUNO DO TEA
No Brasil, a participação do aluno do TEA no ensino regular é garantida pela ,Lei De Diretrizes e Bases da Educação. Segundo a legislação, “O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes regulares de ensino regular” (art. 58, parágrafo § 2º).
Paralelamente, em 2020, o Governo Federal lançou a, Política Nacional de Educação Especial, que teve por objetivo orientar e estimular os sistemas de ensino
a criarem iniciativas inovadoras e coletivas, visando a fortalecer a educação
especial. Nesse contexto, qualquer aluno que seja diagnosticado do TEA pode ter acesso ao ensino regular. Porém, pais que desejam matricular seus filhos em escolas regulares podem solicitar o acompanhamento de um profissional especializado, sempre que for preciso.
Hoje, as boas práticas que acabam gerando resultados estão pautadas no diálogo e na consolidação de uma rede de apoio formada por educadores, pais, instituições, acompanhantes, psicólogos, entre outros profissionais. Uma postura receptiva tanto da equipe pedagógica quanto da escola é um ponto positivo na hora de criar estruturas que acolham e estimulem o desenvolvimento do aluno com TEA.
Além da formação dos professores, um ambiente preparado também faz diferença. Nesse sentido, a escola pode optar por trabalhar com a formação de educadores e profissionais contratados para oferecer suporte ao aluno. Quando existe esse tipo de preparo é possível trabalhar com rodas de conversas, músicas, histórias, livros e outros materiais que auxiliam a tratar o tema da inclusão em sala de aula.
Outro aspecto importante é a relação entre a escola, o professor, a família e os demais profissionais que acompanham o aluno. Quanto mais aprofundado for o conhecimento sobre o aluno, isto é, quais são suas necessidades, como é a sua personalidade, quais são as suas dificuldades e preferências, mais fácil será a adaptação do currículo visando o melhor para o seu desenvolvimento. No trabalho com alunos com TEA não existe uma receita. É comum ter que ajustar o conteúdo aos alunos para desenvolver diferentes formas de inteligência. Essas adaptações possuem como objetivo final garantir a autonomia do aluno para que ele possa, pouco a pouco, se desenvolver e ser incluído nas atividades escolares.
O que muitos observam na prática é que esse tipo de organização, embora demande dedicação e criatividade dos educadores, da escola e dos pais, é fundamental para que o aluno desenvolva autoconfiança e independência. Além desse trabalho, também é importante que o professor sensibilize a turma para que todos aprendam a conviver, aceitar e respeitar as diferenças.
Gostou de saber mais sobre como lidar com o autismo na escola e promover a inclusão? Veja também quais são as melhores práticas para lidar com alunos com TDAH.
Fonte: amesuamente.org.br