Em seu primeiro discurso como ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida prometeu rever "todo ato ilegal baseado no ódio e no preconceito" realizado pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) e pela ex-ocupante do cargo, a senadora eleita Damares Alves.
Durante a cerimônia que marcou o início da nova gestão do ministério, nesta terça-feira (3), Almeida reforçou o compromisso dele próprio e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a democracia.
"É um momento de festa, momento de alegria, mas um momento também que a responsabilidade que assumo, por conta da confiança que me foi dada pelo presidente Lula, se torna bastante visível e concreta", pontuou. "Não permitiremos que o ministério criado para promover políticas de Direitos Humanos permaneça sendo utilizado para reprodução de mentiras e preconceitos. Essa era se encerra neste momento. Acabou".
O novo ministro afirma que assume uma pasta "arrasada", com redução de conselhos de participação e descontinuidade de políticas públicas. Citou, por exemplo, a tentativa da gestão bolsonarista de, já no último mês de governo, extinguir a Comissão de Mortos e Desaparecidos da ditadura.
Em cerimônia concorrida - muita gente não conseguiu entrar - ele disse que divide com Lula e com os demais ministros e ministras a missão de "construir um novo Brasil, onde todos nós possamos caber". O evento foi prestigiado pelas também recém-empossadas ministras Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Anielle Franco (Igualdade Racial), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovações) e Marina Silva (Meio Ambiente).
Almeida agradeceu aos servidores do ministério, "que tanto se empenharam, tanto resistiram nos últimos anos. Quero dizer que vocês não serão esquecidos", disse, sob aplausos. "Eu respeito e valorizo profundamente tudo que vocês fizeram, mesmo nestes anos tão sombrios. Vocês têm meu apoio e reconhecimento".
O novo ministro dos Direitos Humanos disse ainda que sua chegada ao cargo não aconteceu graças apenas a sua própria luta, e sim a "séculos de lutas e resistência de um povo que não se resignou".
"Trago a luta de Zumbi, de Dandara, de Luís Gama e Luísa Mahin, de Abdias [Nascimento], de Guerreiro Ramos, de Lélia Gonzalez, de Milton Santos, de Marielle Franco e de Pelé, que foi ministro de Estado também desse Brasil, e tantos outros e outras que permitiram que eu estivesse aqui hoje, um homem preto, ministro de Estado a serviço de uma luta que um dia também foi deles", destacou.
"Não posso dizer que suas lutas não serão esquecidas até porque não se esquece daquilo que está presente, mas posso e quero dizer que as suas lutas serão honradas por mim e pela minha equipe que aqui está", prometeu. "Eu quero seguir em frente, mas jamais aceitaremos o preço do silenciamento e da injustiça. A verdadeira paz será aquela que construiremos com a verdade, o cultivo da memória e a realização da justiça".
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Titular da pasta no governo de Dilma Rousseff (PT), a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) fez um discurso emocionado ao falar no evento que marcou a posse de Almeida. Para ela, a cerimônia marca a "refundação" do ministério e das políticas de direitos humanos no país.
"Ao estarmos aqui não apenas toma posse o ministro Silvio. Toma posse o povo negro brasileiro; toma posse a periferia do Brasil; tomam posse as pessoas com deficiência; tomam posse as pessoas LGBTQIA+; toma posse o povo que vive na rua, os mais de 200 mil brasileiros e brasileiras. É para eles e para elas que existimos. É com olhar neste povo que o ministro Silvio Almeida representa cada um e cada uma de nós", destacou.
Edição: Vivian Virissimo
Brasil de Fato