O isolamento social trouxe um problema de endividamento para muitos idosos, no Brasil. As queixas relacionadas a empréstimos consignados, aqueles com desconto direto da aposentadoria, por exemplo, aumentaram 80,6% nos oito primeiros meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2020, de acordo com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon).
O Francisco levou o maior susto quando percebeu que o benefício do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) da mãe apresentava dois empréstimos diferentes. A esposa dele, Carolina Magalhães, fala que a sogra só tinha aprovado um. "Em julho a gente recebeu uma ligação de uma empresa que informou que era de um centro de atendimento ao aposentado e pensionista e sabiam que a minha sogra já possuía um empréstimo e propuseram a renegociação", relembra a nora da idosa.
A empresa prometia diminuir os juros cobrados no primeiro e reduzir o número de parcelas. "Ele viu no INSS, isso já era por volta de 19h, que caiu um novo empréstimo. O anterior permanecia", acrescenta Carolina. De janeiro a agosto deste ano, foram registradas 85.587 reclamações envolvendo empréstimos consignados, em todo o país, segundo a Senacon. Nos primeiros oito meses do ano passado, foram 47.376.
Os especialistas dizem que esse tipo de proposta por telefone não é proibida, mas, com o agravante da pandemia, do isolamento social e das dificuldades financeiras, os idosos acabam enganados mais facilmente. Em São Paulo, o Procon também observou aumento de 156% nessa mesma reclamação. O INSS reforçou que as contratação de empréstimo consignado é uma operação privada realizada diretamente entre o banco e o correntista e que investe na proteção dos dados de aposentados e pensionistas.
Para o professor de direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) Daniel Dias, esse tipo de contrato deve ser feito ao vivo para que as regras fiquem bem claras. "Não faça esse tipo de contratação via telefone", afirmou. Na visão dele, se fizer isso, a pessoa "abre um espaço muito grande para dor de cabeça. Então a melhor coisa é realmente fazer o bloqueio".
Segundo a aposentada Sonia Maria Viana, são feitas "muitas ligações mesmo [para oferecer crédito consignado]. Tem dia que é quase dez ligações".