Sua contribuição artística é tão ampla quanto diversa, na discussão e produção de arte, com trabalhos de desenho, pintura, escultura, xilogravura, cinema de animação e instalações, além de ser um grande pesquisador de regionalidades. Motivo das suas obras terem uma forte presença do sertanejo, do indígena e da negritude que marcaram a colonização do país.
Todos esses elementos revelam a importância histórica do seu legado e trajetória de vida e justificaram reunir uma coletânea do seu rico acervo com a organização da sua obra para o Brasil e o mundo em uma plataforma digital bilíngue (português e inglês), e com audiodescrição, acessível internacionalmente e voltada para o público de todas as idades e classes sociais: o site "CHICO". O lançamento será no dia 28 de maio, disponibilizando todo o acervo documental sobre o artista e tudo o que ele produziu no site http://www.chicoliberato.com.br, incluindo um tour virtual na "Casa Chico e Alba Liberato".
O site foi contemplado no Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal, para eternizar suas memórias como um bem cultural. As futuras gerações terão acesso às especificidades da trajetória do artista, sua vida e obra, exposições, casa onde vive com sua esposa até hoje, inclusive apresentando a rotina e vivências de sua história pessoal, além de obras, documentos, manuscritos, fotos e vídeos garimpados e catalogados para serem transformados em valiosos registros culturais e educacionais. Haverá, ainda, espaço para a comercialização de reproduções de suas obras e, em breve, agendamento de visitas presenciais à casa da família, onde também funciona o seu atelier, seguindo todos os protocolos de segurança.
Vida e obra - "O site vem atender a uma lacuna que há tempos merecia ser preenchida sobre a vida de Chico Liberato dedicada à arte e ainda vai contar um pouco da história das artes na Bahia dos últimos 50 anos, pois também vai apresentar registros dos movimentos artísticos na Bahia nesse período, com centenas de mídias de jornal, catálogos de exposições individuais e coletivas que ele participou, homenagens que recebeu, fotografias que registraram seus trabalhos, pessoas que conviveu, viagens pelo mundo e a presença de sua família nas artes", revela a coordenadora e produtora executiva do projeto, Candida-Luz Liberato, também filha do artista.
Alba Liberato, pesquisadora do site e esposa do artista, completa. "Em plena ditadura militar e repressão, aconteceram as manifestações culturais mais marcantes e determinantes da nossa geração. E a importância histórica de Chico é comprovada pela sua participação na realização de duas Bienais da Bahia, que trouxeram reconhecimento aos artistas locais e interatividade com os nacionais, fazendo de Salvador centro do Nordeste nas discussões e produção de arte; nas exposições e acontecimentos no Instituto Goethe e no MAM; e nos encontros com artistas na área do cinema, dança e música. Mas sua projeção inicial se deu a partir de 1963, como único baiano convidado a participar do movimento Nova Figuração, no Rio de Janeiro, com consagrados artistas do eixo Rio-São Paulo, e convite para expor na Bienal dos Jovens de Paris (1967). Tudo isso nos deu mais um viés para trabalhar os mesmos conceitos na contemporaneidade, através desse site, com o objetivo de fomentar, promover e difundir a produção cultural de Salvador para o mundo".O público terá acesso a mais de 500 documentos, como manuscritos; fotografias; storyboards; filmes de curta e longa metragens; vinhetas; cartazes; marcas; convites; catálogos; e folders; além de experimentos de arte e audiovisual e depoimentos de outros artistas. Tudo com textos explicativos em português, inglês e audiodescrição. A programação de dados é de Daniel Machado Pamplona Ribeiro; a programação visual, de Jonathas Sousa de Medeiros; a pesquisa, de Alba Liberato; fotografia e edição de vídeo de Marcio Albuquerque; tratamento de fotografias de Maria de Fatima Barboza; textos de Leila Midlej; e tradução e revisão de Lynne Reay Pereira.
O internauta também vai encontrar uma exposição virtual da capela do MAM Bahia, museu que Chico Liberato dirigiu por 12 anos, numa gestão considerada a mais inovadora e que abriu as portas da cultura para artistas de baixa renda e para a comunidade, sendo um polo de arte no contexto da formação, criação, estruturação de políticas públicas, apresentação de arte de qualidade e realização de oficinas gratuitas, bem como licitações públicas para promover e financiar obras de arte.
"Chico é um daqueles artistas que tem a arte como sacerdócio, como estilo de vida", explica Candida-Luz. "A mais qualificada manifestação do homem na terra, a mais refinada expressão do espírito humano", define Chico Liberato. "Com esta crença, ele sempre demonstrou, por meio da sua arte, o carinho, o amor, o cuidado e o sentimento pelo ser humano. Seja apresentando suas inquietações mais íntimas através dos seus filmes ou apresentando a beleza de tudo o que o ser humano faz com amor, manifesto nas texturas, grafismos e concepção de arte que os povos formadores da cultura brasileira nos trouxe", revela a produtora.
Esse homem humanista e agregador tem a família como um dos seus maiores exemplos. O contexto da sua casa, do seu lar e do seu casamento sempre foi pautado pela manifestação da arte, em suas diversas linguagens, inclusive de forma pioneira e criativa: artes plásticas, gráficas, cinema, cenários, escultura, instalações e assemblagens. "Sempre com uma leitura pessoal e singular de trazer o que é mais expressivo, nem sempre o mais perfeito. E o seu jeito colaborador e compartilhador faz com que Chico transite, com muito respeito e admiração, nas artes do Brasil e do mundo", pontua a filha. De fato, muitos amigos fizeram questão de homenagear Chico Liberato participando do site enviando alguns depoimentos. Entre eles, o artista plástico e crítico de arte César Romero, que costuma dividir Chico em dois, o ser humano e o artista plástico. "Como pessoa, Chico é uma maravilha, educado, de fino trato, sempre tem uma palavra de carinho, de estímulo. Ele é um dos artistas mais significativos do nosso Brasil e tem um grande amor pelo Nordeste. É um artista profundo, de uma simplicidade muito grande e isso é o que o faz, o talento e a simplicidade".
O diretor de cinema e roteirista José Araripe é outro admirador. "Chico é uma inspiração para mim, para minha geração, para os fãs, artistas, desenhistas e animadores. Eu amo animação, adoro colocar animação nos meus trabalhos, dirigir animação, escrever animação e Chico é a nossa maior inspiração e nos orgulha bastante".
O diretor e animador Marcelo Marão concorda. "Apesar do meu estilo ser aparentemente muito diferente do de Chico, o trabalho dele sempre foi uma referência e uma inspiração pra mim, porque tudo o que ele fez sempre teve muita verdade, era muito próprio e pessoal. Sempre tinha a voz dele em tudo o que ele fazia, era sempre muito honesto e sincero e isso é essencial no trabalho de um artista".