No programa 20Minutos Entrevistas desta segunda-feira (12/04), o jornalista Breno Altman entrevistou o ex-ministro Aldo Rebelo sobre a questão militar no Brasil. Na conversa, o estudioso do tema afirmou que o Exército sempre esteve a serviço do Brasil, contestando teses que apontam a instituição como uma força ligada às oligarquias, primeiro latifundiárias e, depois, industriais.
Relembrando a história das Forças Armadas, Rebelo apontou a Batalha dos Guararapes como “o marco fundador” e episódio representativo de suas origens populares, com lideranças de portugueses nascidos brasileiros, os mazombos, negros e indígenas.
Já a partir da Guerra da Independência, sempre com participação popular, o Exército e as Forças Armadas, de forma geral, foram instituições que sempre defenderam a unidade do Brasil, segundo Rebelo, tanto durante episódios de guerra no exterior, como a guerra do Paraguai, quanto em rebeliões internas. O também jornalista negou, inclusive, a fama sanguinária de Duque de Caxias, comandante do Exército que reprimiu diversas rebeliões no território nacional de forma agressiva, como a Balaiada, a Sabinada, entre outras.
“Caxias não era um sanguinário. Depois da Independência, foi necessário consolidá-la e consolidar a unidade do território. Durante a regência trina, o país viveu uma espécie de anarquia, a unidade territorial ficou por um triz. O Brasil viveu quatro guerras civis simultâneas: a Guerra dos Farrapos, a Cabanagem, a Balaiada e a Sabinada. Todas de caráter republicano e que, se tivessem vencido, teríamos acabado com vários territórios abstratos. A questão nacional ia prevalecer sobre a democrática, porque a democracia você constrói posteriormente. E os gaúchos chegaram a essa conclusão depois”, explicou.
Para ele, o mesmo argumento pode ser reproduzido durante a Guerra do Paraguai. Segundo o estudioso, a guerra foi provocada pelo então presidente paraguaio Solano Lopez, que “cometeu um erro de avaliação da correlação de forças”, que acreditava precisar lutar pela dominação da bacia do rio Prata. Mas “não por uma reclamação das oligarquias rurais que se sentiam prejudicadas pelas condições comerciais impostas a brasileiros pelo presidente paraguaio”, como defendem outros especialistas.
“Querem substituir a questão nacional pela questão social, de classe. Eu não subestimo esse ponto, mas vejo o que foi decisivo para o início e desfecho do conflito. Acho que foi a questão geopolítica, o domínio sobre a navegação do Prata”, reforçou.
‘A Comissão da Verdade foi um erro’
O jornalista avaliou a instituição na atualidade. Ministro durante os governos petistas, quando se criou a Comissão Nacional da Verdade, para investigar os crimes cometidos durante a ditadura militar no país (1964-1985), Rebelo não acredita que o governo se equivocou ao não levar militares para o banco dos réus por considerar que essa atitude era uma forma de respeitar a Lei da Anistia.
Por isso, para ele, a Comissão da Verdade "foi um erro". "O caminho para resgatar a história poderia ter sido outro, feito de outra maneira”, declarou. Rebelo, contudo, não descartou que crimes foram cometidos durante a ditadura militar, mas disse não achar necessário um pedido de desculpas das Forças Armadas, a nível institucional, por esses crimes: “Por que os militares de agora vão pedir desculpas hoje por quem fez coisas no passado?”, questionou.
Ele relembrou que o golpe de 64 foi “essencialmente civil, com o aval das elites empresariais, da classe média, da Igreja, com o apoio do governo dos Estados Unidos” e que, portanto, não considera justo responsabilizar apenas os “elementos ou partes da instituição que cometeram crimes”.
Rebelo afirmou que essa “perseguição” à instituição como um todo, descartando o papel da mídia e das elites empresariais no processo, “não ajuda o Brasil”.
“É claro que se condena todos os crimes cometidos contra os direitos humanos. Agora, o Brasil vai construir seu futuro, não podemos usar o passado para dividir o país, temos que unir as forças”, sustentou.
Forças Armadas no governo Bolsonaro
“O papel das Forças Armadas no governo é uma zona de sombra”, disse o jornalista. Ele defendeu a presença de militares da reserva no governo, argumentando que “qualquer partido que assumir o governo e buscar seis mil militares da reserva vai encontrar. Isso não significa adesão”.
Rebelo explicou que as Forças Armadas têm uma dupla lealdade ou uma dupla obediência: uma ao presidente e outra à Constituição, “a qual até o presidente está subordinado”.
“As Forças Armadas são cuidadosas no sentido de preservar sua missão constitucional. Por isso precisam ser parte das soluções, não dos problemas. Os militares foram muito solidários aos governos da presidente Dilma [Rousseff], por exemplo, e ela, a eles”, relembrou, ressaltando que Jair Bolsonaro nunca foi o candidato dos militares, “era o Geraldo Alckmin”.
Crítico de Bolsonaro, Rebelo defendeu uma ampla união de forças heterogêneas, “que é a tradição do Brasil”.
“Não podemos fazer um corte ideológico de dividir entre esquerda e direita. Precisamos, primeiro, da retomada do desenvolvimento e investimento; segundo, de redução das desigualdades por meio de políticas públicas; e, terceiro, um pacto democrático, porque ninguém vai aceitar ditadura de ninguém”, declarou.
Para ele, nenhum partido representa no momento essa frente ampla. “Claro que o presidente Lula é um grande nome, isso é incontestável, mas se começar a falar de nomes, já espalha cada um para um lado. O nome deve ser a última etapa, porque se não já descarta aliados. Devemos começar pela agenda, o programa, que deve girar em torno dos três eixos. Assim poderemos unir amplas forças. O Lula não uniu?”, ponderou.