Autoridades britânicas organizaram uma operação para encontrar a pessoa contaminada pela chamada "variante brasileira" do novo coronavírus. O paciente teria feito um teste caseiro, mas omitiu seu contato no formulário do exame.
Seis casos da variante P1, que foi detectada primeiramente em Manaus, foram encontrados no Reino Unido. Os três casos confirmados na Escócia chegaram ao país em um voo que partiu de São Paulo, com escala em Paris. Outros três estão na região de Gloucestershire do Sul, no interior da Inglaterra.
O programa de rastreamento do governo britânico está monitorando todos os passageiros de um voo da Swiss Air, que partiu de São Paulo, fez uma escala em Zurique, na Suíça e chegou a Londres no dia 10 de fevereiro. A quarentena obrigatória em hotéis pra quem vem do Brasil começou no dia 15 de fevereiro. Antes disso, passageiros eram orientados a se isolar em casa.
Dezenas de pessoas que tiveram contato com os infectados já foram identificadas. Segundo o jornal The Guardian, testes em massa estão sendo feitos em pelo menos três cidades: Bradley Stoke, Patchway e Little Stoke. É uma medida de precaução. O teste da pessoa infectada com a variante P1 que não deixou sem contato foi processado no dia 14 de fevereiro. "Estamos, portanto, pedindo a qualquer pessoa que fez o teste no dia 12 ou 13 de fevereiro, que não recebeu seu resultado ou que não tenha completado o formulário corretamente que faça contato com as autoridades", dizia a nota do NHS, o serviço público de saúde.
No Reino Unido, testes podem ser feitos em casa, pela própria pessoa. As amostras são enviadas pelo correio. O resultado costuma chegar até 2 dias depois, por email e mensagem no telefone. Como a pessoa não deixou contato, é provável que ela não saiba que está contaminada.
Além de identificar a presença do vírus, o Reino Unido também está fazendo o sequenciamento genético em pelo menos 25 mil casos positivos por semana. Quase metade do sequenciamento feito em todo o mundo acontece em laboratórios britânicos. A prioridade é para os casos que vem dos 33 países incluídos na lista vermelha. São nações que tem alguma ligação com Brasil e África do Sul.
P.1 X B.1.351
A maior preocupação das autoridades britânicas é que a variante P1, identificada no Amazonas, se espalhe pelo país. Embora faltem estudos conclusivos sobre essa nova forma do vírus, ela tem similaridades com a variante identificada na África do Sul, sobre a qual os cientistas tem mais informações.
Ambas, segundo sugere o governo do Reino Unido, tem um índice de transmissibilidade maior. Além disso, as duas cepas tem a mutação chamada E484K, que deixou o vírus mais forte contra os anticorpos fornecidos ou por uma infecção prévia ou até mesmo pela vacina.
Mellanie Fontes-Dutra, doutora em neurociências e coordenadora da Rede Análise Covid-19, afirmou em suas redes sociais que "a P.1 tem 10 mutações na região da proteína Spike, entre elas, a N501Y, como a variante B.1.1.7 e E484K, como a variante B.1.351.
"A presença dessas mutações em variantes que ocorreram de forma independente em diferentes locais do mundo sugere que um processo convergente de adaptação do vírus ao nosso organismo". Embora já haja muitas evidências, a cientista lembra que "mais dados são necessários pra bater o martelo".
ASSUNTO NACIONAL
O caso não identificado da variante brasileira não se restringiu apenas ao noticiário sobre a pandemia. Tornou-se o último assunto de um embate entre governo e oposição no Reino Unido.
O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, afirmou que a política de controle do governo é falha, fazendo referência às milhares de pessoas que chegaram ao Reino Unido do Brasil, fazendo conexões em outros países. O primeiro-ministro Boris Johnson contestou o líder da oposição e disse que o Reino Unido tem um dos controles de fronteira mais rígidos do mundo.
"Veja o que fizemos pra controlar a variante sul-africana. Foi um esforço gigantesco. Faremos o mesmo pra evitar que a variante brasileira se espalhe por aqui", disse o premiê.