Lucivânia dos Santos tem 30 anos de idade e mora em São Cristóvão. Ela é cadeirante desde os 19 anos, após sofrer um erro médico, segundo ela conta. Desde então, enfrenta dificuldades diariamente com a falta de acessibilidade onde vive, no transporte público e demais esferas da sociedade e, para além disso, também vivencia outros problemas que atingem a sua autoestima como, por exemplo, o uso de roupa moda praia.
Ela conta que sempre sentiu muita vergonha de usar bíquini, e por isso, no último final de semana, passou por uma experiência incrível que poderá mudar sua vida para sempre: ela foi convidada para participar de um ensaio fotográfico de uma marca de moda praia em Aracaju, e o momento serviu para que ela pudesse enfrentar os próprios medos e poder se enxergar como uma mulher empoderada.
Bem como Lucivânia, outras mulheres com deficiência também participaram deste ensaio, promovido pela marca Severinnas, que aproveitou o momento de aniversário de dois anos da empresa para também celebrar, de maneira única, o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado na última segunda-feira, dia 21 de setembro.
A campanha realizada pela Severinnas teve como objetivo ressaltar o protagonismo feminino nessa luta, além de mostrar a importância da inclusão e do empoderamento das mulheres com deficiência. De acordo com a empresária Rafaela Castro, idealizadora da marca, o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência sempre é focado na busca por acessibilidade, uma pauta mais do que necessária, porém, ela decidiu encaminhar a campanha para outro viés também muito importante, com o foco principal na inclusão das mulheres com deficiência na moda.
“Eu analisei que essas mulheres precisavam de inclusão de uma forma verdadeira, e por isso quis colocar elas na moda, de biquíni, para elas verem que elas também podem. Inclusive, algumas nunca tinham usado uma moda praia, porque praia não tem acessibilidade, e porque elas achavam que não caberia para elas. O resultado foi incrível, elas conseguiram entender a mensagem, de que elas também podem usar maiô e biquíni, e que não existe padrão. O modelo de padrão apresentado na sociedade é minoria. A maioria é o corpo fora de padrão. Então, nosso papel foi o de empoderar essas mulheres”, conta Rafaela.
Para Lucivânia, poder fazer parte do ensaio fotográfico e desta campanha foi algo tão incrível que renovou as esperanças dela. A surpresa começou assim que recebeu o convite.
“Eu fiquei pensando, será que é sério mesmo? As meninas foram super legais, vieram me buscar em casa, e perceberam a dificuldade que eu passo pra sair daqui, a distância que é para pegar transporte. Além da dificuldade, porque tá tendo muita lama. E a experiência foi incrível, foi um momento onde eu pude mostrar meu corpo sem vergonha, porque além de ter outras meninas, eu não senti vergonha nenhuma. Então, pra mim, foi um momento de empoderamento. Espero que outras mulheres se inspirem na gente, e que possam tirar a vergonha do próprio corpo. Eu espero também que um dia toda essa realidade e as dificuldades mudem. Eu não perco a esperança de que as futuras gerações não sofram tanto, mas, para isso, temos que lutar hoje”, concluiu Lucivânia.
||Fotos: Cedidas ao JC