Fumantes passaram a consumir mais cigarros por dia durante o período de isolamento social, segundo um estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com as Universidades Federais de Minas Gerais e Campinas. De acordo com o levantamento, dos 34,3% entrevistados que se declararam fumantes, 22,8% apontaram aumento de 10 cigarros por dia, e 6,4% em até cinco, e 5,1% em 20 ou mais cigarros. Foram ouvidos 44.062 brasileiros, de ambos os sexos, de todos os níveis de escolaridade e de todas das faixas etárias a partir de 18 anos.
Os números são preocupantes, sobretudo porque 85% dos casos de câncer de pulmão têm ligação com o tabagismo. No Brasil, mais de 30 mil pessoas devem ser diagnosticadas com a doença em 2020, conforme levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Já a incidência global pode chegar a 1,8 milhão de novos registros anualmente, com 1,6 milhão de mortes, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com o médico pneumologista, Dr. Saulo Maia, o tabagismo, por si só, é uma doença, com CID S-17. No entanto, a doença do tabagismo está relacionada à várias outras, sendo, as principais, as neoplasias, que são os cânceres. Ele explica que, por onde a fumaça do cigarro passa, fica um rastro, portanto, havendo possibilidade de câncer causado pelo tabagismo nos lábios, na língua, na laringe, faringe, estômago, pulmão, pâncreas e bexiga.
“Em mulheres, tem um índice de câncer nas mamas e no colo uterino causados pelo cigarro. E na bexiga também, pois é por onde há a eliminação dos componentes do cigarro”, aponta o doutor.
Além dessas doenças, o tabagismo também pode estar ligado a tantas outras, a exemplo das doenças cardiovasculares, podendo causar infartos, derrames cerebrais, obstrução dos vasos das pernas, bronquite crônica, enfisema. “Normalmente, há uma correlação também com a ansiedade e depressão, e outro lado interessante é que interfere também na esfera sexual, diminuindo a parte da ereção para homens”, ressalta o médico.
O Brasil, segundo relatos do doutor Saulo, é exemplo no combate ao tabagismo, por todas as leis federais, municipais e estaduais, que vem fazendo com que, nas últimas décadas, o número de fumantes no país caia, servindo como um exemplo para o mundo. Porém, ainda não deixa de ter os agravantes, sobretudo neste momento em que o planeta vive, de pandemia causada pelo novo coronavírus, e o índice de aumento no consumo de cigarros.
“Agora, no período de pandemia, as pessoas estão mais ansiosas por estarem recolhidas, então existe o componente psicossocial importante dessas pessoas, pelo isolamento, então, aquelas que são fumantes, estão fumando mais”, disse Dr. Saulo.
A situação se torna ainda mais preocupante com os pacientes fumantes que testam positivo para o novo coronavírus. “Pessoas que fumam têm a função pulmonar reduzida. Além disso, como o cigarro altera as células dos pulmões, elas ficam mais predispostas a terem infecções. Sendo assim, como o coronavírus ataca o pulmão, junta a agressão do vírus com um pulmão que já é lesado pelo cigarro, ocorrendo um quadro de insuficiência respiratória complicado, onde o paciente vai precisar ser internado para ventilação mecânica”, ressalta o doutor.
Câncer de Pulmão
85% dos casos de câncer de pulmão estão relacionados ao cigarro. De acordo com o pneumologista, Dr. Saulo, esse é um tipo de câncer silencioso, onde os sintomas clínicos só se manifestam quando ele adquire um tamanho maior.
“Os principais sintomas são tosse persistente, falta de ar, dor torácica, e às vezes a pessoa escarra sangue. O alerta que eu dou é que as pessoas que fumam devem realizar exames periódicos com uma certa constância, para de alguma maneira, tentar descobrir algo de maneira precoce, já que o câncer de pulmão é muito traiçoeiro, com manifestações clínicas tardias. Esse que é o grande problema”, disse.
Com o avanço da medicina, os diagnósticos estão podendo ser feitos de maneira precoce, com isso, há a possibilidade de tratamento da doença, com os pacientes passando por cirurgias, que é o principal meio de tratamento.
“Além do cirúrgico, também tem o tratamento da radioterapia e da quimioterapia, que ambos têm evoluído nos últimos anos”, conclui o doutor.
|Repórter: Laís de Melo